Os novos ratos

Por Márcio Monteiro

Marcio Monteiro, 20 de Janeiro, 2020 - Atualizado em 20 de Janeiro, 2020

Doenças de origem ambiental cosmopolita são difíceis de serem tratadas e o estado clínico dos doentes se agrava em razão da demora na identificação do agente causador. A morosidade em dar resposta para o tratamento pode resultar em danos severos ou irreversíveis a pessoa afetada pelo agente patogênico. O paciente que chega a uma unidade de saúde poderá ter a sua situação agravada ainda mais, caso não hajam condições adequadas de atendimento e disponibilidade de recursos humanos e materiais que permitam determinar a tempo, a natureza da enfermidade. Identificar as causas de uma doença restrita a um indivíduo, ao contrário dos surtos epidêmicos que acometam um grande número de pessoas, é sempre mais difícil de ser diagnosticado, quanto mais em se tratando de doenças de natureza ambiental adquirida em ambiente doméstico.

Historicamente os ratos sempre foram os funestos vetores responsáveis pela disseminação de epidemias de peste, e transmissão de leptospirose, tifo, hantavirose, e outras tantas doenças graves que afetaram e ainda estão presentes nesses animais que compartilham o nosso ambiente urbano. O homem demorou séculos para aprender a controlar a população desses roedores, por outro lado, com o aumento da população, a ocupação descontrolada do meio urbano e a falta de saneamento básico, provocaram o surgimento de novas enfermidades, como as transmitidas pelos mosquitos, como a malária e a dengue.

Embora tenhamos evoluído nas questões sanitárias e de contarmos hoje com amplo acesso a informação, alguns cidadãos insistem em ignorar o fato de que deixar lixo orgânico exporto ou mesmo de alimentar animais silvestres no meio urbano, estará contribuindo para o desequilíbrio ecológico e potencializando o risco de atração de doenças para os habitantes das cidades.

Aracaju é uma cidade que tem crescido verticalmente e com as atitudes “generosas” de alguns dos seus cidadãos estão transformando a nossa capital em um ambiente propício ao crescimento descontrolado de uma ave com potencial de transmissão de doenças tão graves quanto os ratos. Trata-se dos pombos, que apesar de retratados como aves dóceis e inofensivas, quando se proliferam descontroladamente no ambiente urbano, podem provocar sérios problemas para a população. E em Aracaju o crescimento dessas aves tem sido preocupante, pois não existe um único logradouro da capital de onde não possamos encontrar ao alcance do nosso campo de visão um bando dessas aves, sejam nos cabos telefônicos, no alto de edificações ou mesmo procurando alimento nas ruas e calçadas.

Essas adoráveis aves são transmissoras de inúmeras doenças, como histoplasmose, ornitose, salmonelose, toxoplasmose e criptococose (fungos presentes nas fezes dos pombos, que são transmitidos para o ser humano pelas vias respiratórias). Além do crescimento e verticalização das moradias em Aracaju, aliada à farta oferta de alimentos, telhados altos dos edifícios, caixas d`água, lajes e caixas de ar condicionado, os pombos encontraram as condições ideais para se proliferarem.

Os pombos não precisam ser exterminados porque possuem predadores na natureza capazes de controlar a sua população, como os gaviões, carcarás, guaxinins e corujas. O Poder Público municipal deve procurar de forma sistemática, promover campanhas que visem esclarecer à população sobre o risco de alimentar ou facilitar o acesso dos pombos a restos de comida, medida que por certo irá provocar naturalmente a redução até um nível adequado da população dessas aves. Outras medidas devem ser incentivadas, como por exemplo, a instalação de telas para criar dificuldades de acessibilidade aos abrigos (evitar a construção de ninhos), impedir o acesso à água e alimentos. Manter lajes e beirais limpos e utilização de elementos reflexivos ajudam a repelir essas aves.

Existem vídeos na plataforma do You Tube com dicas que podem ser úteis para evitar a permanência ou proximidade dos pombos. Cuidado especial deve ser dedicado às instalações de aparelhos ar condicionado, pois a captação de partículas em suspensão produzidas a partir de fezes secas dos pombos, podem ser introduzidas para o interior dos imóveis e serem inaladas por algum morador podendo causar doenças graves ou até mesmo a morte. Importante também de lembrar de umedecer as fezes antes de varrê-las e sempre utilizando mascara e luvas durante a limpeza de locais com dejetos dessas aves.

Os pombos são aves que compõem a fauna brasileira, protegidas por Lei e abatê-las constitui crime. O cidadão deve ser esclarecido de que não deve alimentar pombos e as prefeituras precisam promover campanhas preventivas junto à população, visando alertar e prevenir sobre os riscos que representam a proximidade ou a convivência com esses “novos ratos” urbanos.

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