A memória do povo

Por Antônio Samarone

Antonio Samarone, 09 de Novembro, 2019

No início da década de 1980, nas manhãs de domingo, o professor Zé Costa reunia em sua casa um bando de jovens, para discutirmos a formação de uma Partido novo, um partido para mudar o Brasil.

Éramos estudantes, cheios de esperança. A primeira tarefa era arrumar alguém da classe operária, afinal, o Partido era dos Trabalhadores. Em Itabaiana, não era coisa fácil...

Foi uma luta. Todas as reuniões terminavam com uma promessa solene: na próxima, traremos trabalhadores. E nada... Só intelectuais e estudantes.

Finalmente, não sei quem chamou, mas estava lá, na reunião do PT de Itabaiana, Scala, um gari, um trabalhador da limpeza pública, em carne e osso. Entrava e saia calado, mas prestava a atenção.

Todos cheios de zelo, de cuidados com Scala, para que ele não desistisse. Para que ele entendesse o que era esse Partido diferente. Nunca se soube se Scala tinha ou não entendido.

As coisas não aconteceram como os nossos sonhos, mas aconteceram... Eu saí do PT e nunca mais encontrei com Scala. Quase quarenta anos.

Hoje fui a feira de Itabaiana, para as visitas que faço de tempos em tempos.

Fui abordado alegremente por um senhor, que me fez a pergunta clássica: está me reconhecendo? Eu olhei, dei um tempo, mas não reconheci.

Ele me puxou de lado e me deu um forte abraço. Cochichou no meu ouvido: “soltaram o homem!” Eu pensei, que homem? Ele insistiu, eu sou Scala, se lembra? Porra cara, Scala... Só aí entendi que o homem que soltaram foi Lula.

Professor Zé Costa, a minha dúvida acabou. Scala entendeu aquelas reuniões, e o mais importante, não esqueceu...

Antônio Samarone.

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