A Peste Negra (por Antonio Samarone, resenhando Joffre)

Antonio Samarone, 21 de Março, 2020


A Peste Negra está contada na Bíblia, foi a praga que acometeu os Filisteus, descrita por Samuel.

Na História da Guerra do Peloponeso, Tucídides relatou a Peste de Atenas (428 a.C.):

“Nenhum temperamento, robusto ou débil, resistiu à enfermidade. Todos adoeciam, qualquer que fosse o regime adotado. O mais grave era o desespero que se apossava da pessoa ao sentir-se atacado: imediatamente perdia a esperança e, em lugar de resistir, entregava-se inteiramente. Contaminavam-se mutuamente e morriam como rebanhos.”

“A enfermidade desconhecida castigava com tal violência que desconcertava a natureza humana. Os pássaros e os animais carnívoros não tocavam nos cadáveres apesar da infinidade deles que ficavam insepultos. Se algum os tocava caía morto.”

A maior epidemia da história foi a Peste Negra do Século XIV.

Começou na Ásia Central e se espalhou em todas as direções. Em 1334, causou cinco milhões de mortes na Mongólia e na China.

“Em 1347 a epidemia alcançou a Crimeia, o arquipélago grego e a Sicília. Em 1348 embarcações genovesas procedentes da Crimeia aportaram em Marselha, no sul da França, ali disseminando a doença. Em um ano, a maior parte da população de Marselha foi dizimada pela peste.” Joffre

“Em 1349 a peste chegou ao centro e ao norte da Itália e dali se estendeu por toda a Europa. Em sua caminhada devastadora, semeou a desolação e a morte nos campos e nas cidades. Povoados inteiros se transformaram em cemitérios. Calcula-se que a Europa tenha perdido pelo menos um terço de sua população.” Joffre.

Assim descreveu Bocaccio os sintomas da Peste Negra:

“Apareciam, no começo, tanto em homens como nas mulheres, ou na virilha ou nas axilas, algumas inchações. Algumas destas cresciam como maçãs, outras como um ovo; cresciam umas mais, outras menos; chamava-as o povo de bubões.”

“Entre tanta aflição e tanta miséria de nossa cidade, a autoridade das leis, quer divinas quer humanas desmoronara e dissolvera-se. Ministros e executores das leis, tanto quanto outros homens, todos estavam mortos, ou doentes, ou haviam perdido os seus familiares e assim não podiam exercer nenhuma função. Em consequência de tal situação permitia-se a todos fazer aquilo que melhor lhes aprouvesse.” Bocaccio.

Uma das maiores dificuldades era dar sepultura aos mortos!

“A epidemia se apresentou de duas maneiras. Nos primeiros dois meses manifestava-se com febre e expectoração sanguinolenta e os doentes morriam em três dias; decorrido esse tempo manifestou-se com febre contínua e inchação nas axilas e nas virilhas e os doentes morriam em cinco dias. Era tão contagiosa que se propagava rapidamente de uma pessoa a outra; o pai não ia ver seu filho nem o filho a seu pai.” Chauliac.

A caridade desapareceu por completo.

Durante a epidemia, o povo procurava uma explicação. Para alguns tratava-se de castigo divino, punição dos pecados, aproximação do Apocalipse. Para outros, os culpados seriam os judeus, os quais foram perseguidos e trucidados. Somente em Borgonha, na França, foram mortos cerca de cinquenta mil deles.

Muitos médicos se dispuseram a atender aos pestosos com risco da própria vida. Adotavam para isso roupas e máscaras especiais. Alguns dentre eles evitavam aproximar-se dos enfermos. Prescreviam à distância e lancetavam os bubões com facas de até 1,80 m de comprimento.

Frades capuchinhos e jesuítas cuidaram dos pestosos em Marselha, correndo todos os riscos.

São Roque, foi escolhido o padroeiro dos pestosos. Tratava-se de um jovem que havia adquirido a peste em Roma e havia se retirado para um bosque para morrer. Foi alimentado por um cão, que lhe levava pedaços de pão e conseguiu recuperar-se.

São Roque é o padroeiro de Campo do Brito. (Você sabe o motivo?)

As consequências sociais, demográficas, econômicas, culturais e religiosas da Peste Negra foram imensas:

1. As cidades e os campos ficaram despovoados; famílias inteiras se extinguiram; casas e propriedades rurais ficaram vazias e abandonadas, sem herdeiros legais.

2. A produção agrícola e industrial reduziu-se enormemente; houve escassez de alimentos e de bens de consumo; a nobreza se empobreceu; reduziram-se os efetivos militares.

3. Houve ascensão da burguesia que explorava o comércio.

4. O poder da Igreja se enfraqueceu com a redução numérica do clero e houve sensíveis mudanças nos costumes e no comportamento das pessoas.

A Peste Negra permaneceu endêmica por muitos séculos.
Entre 1894 e 1912 houve uma outra pandemia que teve início na Índia (onze milhões de mortes), estendendo-se à China, de onde trasladou-se para a costa do Pacífico, nos Estados Unidos.

No Brasil, a peste entrou pelo porto de Santos em 1899 e propagou-se a outras cidades litorâneas. A partir de 1906 foi banida dos centros urbanos, persistindo como enzootia em pequenos focos endêmicos residuais na zona rural.

Em Sergipe, a Peste Negra teve uma passagem branda no início do século XX. Não causou maiores estragos. As nossas Pestes foram outras.

A Peste Negra foi retratada em quadros notáveis: A Peste em Atenas, do pintor belga Michael Sweerts (1624-1664), A Peste em Nápoles, de Domenico Gargiulo (1612-1679), O Triunfo da Morte, do pintor belga Pieter Bruegel, o Velho (1510-1569), e São Roque, de Bartolomeo Mantegna (1450-1523).

Na literatura, inspirou Albert Camus, prêmio Nobel de Literatura, a escrever uma de suas obras mais conhecidas: A Peste.

Antonio Samarone (resenhando Joffre).

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