O Inegável Triunfo da Morte. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 20 de Junho, 2020 - Atualizado em 20 de Junho, 2020

 

“O Sol quarando a mágoa, a dor quarando a solidão” – Suassuna

Ontem, 19 de junho, Sergipe bateu um triste recorde, 26 óbitos pela pandemia, em 24 horas. Mais de uma morte por hora. Estamos atravessando uma dura realidade, A Peste é violenta.

Sei que muitos preferem um discurso mais ameno, de vitórias. Falar sobre a morte não está na pauta da sociedade, mesmo em tempos de cólera. É preferível esquecê-la.

No dia 17 de junho, uma autoridade aracajuana postou em seu twitter. “Os 5 óbitos confirmados hoje são”: “Dois homens: 87 anos, com hipertensão, amaurose (perda total da visão) e hipoacusia (perda total da audição); 71 anos, hipertenso, diabético e cardiopata. Três mulheres: 66 e 91 anos, sem comorbidades; 49 anos com doença respiratória crônica.”

Essa alma eugênica, só faltou explicitar: os que morreram não farão falta, gente idosa e debilitada. A Pandemia sabe a quem escolhe, eram mortes previstas. A Pandemia não chegará a vocês, jovens e saudáveis.

As autoridades falam orientadas por especialistas em comunicação social, fala o que a sociedade quer ouvir, que a coisa não é tão feia, como se pinta.

As mentiras funcionam porque oferecem respostas compreensíveis que reduzem a incerteza, atendendo a certos medos e interesses.

Um boato persistente percorreu o mundo recentemente. Ele diz que o coronavírus sofreu uma mutação que o atenuou, reduziu a sua letalidade e a sua capacidade de contágio.

Toda essa mentira se espalhou como fogo de palha, porque é exatamente o que as pessoas querem ouvir, após três meses de tédio, angústia e confinamento.

O prefeito de Inírida, na Colômbia, proibiu mortes por covid-19" em sua cidade.

É confortável para os políticos decretarem exigências fora da realidade, mudanças de comportamentos impossíveis, rotinas higiênicas absurdas, prescrever um novo modo de vida, e quando não são atendidos, responsabilizar as vítimas por sua própria desgraça.

A atual crise sanitária é devastadora para o bem-estar humano e exacerbou as desigualdades. Os ricos e a classe média podem enfrentar a tempestade em uma espécie de refúgio de proteção; os pobres não podem.

Nas Pestes bíblicas e medievais a principal alternativa de proteção era a fuga. Um bom par de botas. Quem podia, viajava para bem distante, onde a epidemia não os alcançassem. Na Peste atual fugimos para um confinamento seguro.

Uma coisa é forçar as pessoas a se trancarem em casa quando têm dinheiro em suas contas e comida na despensa, e outra é quando a quarentena envolve fome e superlotação no domicílio.

Um detalhe desagradável, em nossa volta ainda encontraremos a Peste. O vírus permanecerá mesmo depois do pico, ele se tornará endêmico, causando pequenos surtos. Quais as providências necessárias, antes da chegada da vacina?

A pandemia é um grande teste, que medirá quais sistemas podem proteger os seus cidadãos e quais não. A crise sanitária será acompanhada por profundo aumento nas desigualdades sociais. A economia já está abalada. No caso brasileiro, a conjuntura política não aponta nada positivo.

No Brasil, realizaram uma partida de futebol ao lado de um hospital de campanha. É o fim da empatia social.

O que podemos esperar do pós Pandemia?

Depois da Grande Peste de 1348, a que pós fim a Idade Média, acreditava-se que os homens, os quais pela graça de Deus havia preservado a vida, tendo visto o extermínio de seus próximos, e de todas as nações, se tornariam melhores, humildes, virtuosos e católicos, evitando iniquidades e pecados, e cheios de amor e caridade um pelo outro.

Mas, cessada a mortalidade da Peste de 1348, aconteceu o contrário: os homens se encontrando menos numerosos, e mais ricos por heranças e sucessões de bens terrenos, esqueceram as coisas passadas como se elas nunca tivessem existido, deram-se a uma vida mais vergonhosa e desonesta do que antes.

Dessa vez, a nossa crise não é só sanitária, vivemos uma crise de ódios. Crises sanitárias são resolvidas com o tempo, crises de ódio consomem gerações.

Lamento, não poder dar-lhes boas notícias... Mas, vai passar!

A catástrofe sanitária de Aracaju exige respostas urgentes. O Comitê Científico do Nordeste apontou as cinco cidades mais preocupantes em Sergipe: Aracaju, Socorro, Glória, Lagarto e Estância.

A velocidade do contágio e da letalidade dos casos graves surpreendeu toda a comunidade científica. É uma doença que mata com crueldade.

Sergipe ignora as recomendações do Comitê Científico do Nordeste. Sem a criação das Brigadas Emergências, a população continuará desprotegida.

Antonio Samarone.

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