As Primeiras Pestes em Sergipe. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 18 de Agosto, 2020

A primeira referência a uma epidemia de varíola (bexiga) no Brasil, encontra-se numa carta de José de Anchieta à Diogo Laínez, segundo superior geral da Companhia de Jesus. São Vicente, 08 de janeiro de 1556.

Entre 1562 e 63, surgiram no litoral brasileiro duas grandes pestes (febre amarela e varíola), que dizimaram os gentios. No espaço de três meses morreram mais de 30 mil índios.

A febre amarela é descrita como uma febre alta, com hemorragias, que matava em poucos dias. A varíola como um pipocar de bexigas, asquerosas e pútridas, que em poucos dias estavam infestadas de bicho de mosca.

Segundo o padre Aurélio Vasconcelos, em 1564, após cessadas as Pestes, as aldeias de Sergipe ficaram muito despovoadas, pois os que escaparam da morte e da escravidão, fugiram sertão adentro em busca da sobrevivência.

Nesse período das Pestes e de muita fome (1562), os portugueses aproveitaram a desgraça e estenderam a sua missão genocida contra os Tupinambás do território sergipano, entre os rios Real e São Francisco, tornando-os escravos.

Como se observa, a primeira escravização dos índios em Sergipe começou bem antes de 1575. A famosa expedição organizada por Luiz de Brito, que a historiografia sergipana descreve romanticamente, como uma ação evangelizadora do Frei Gaspar Lourenço.

A aldeia de Aracaen era a última de Itapicuru, onde viviam os índios subjugados. Adiante, ficavam os temíveis e guerreiros Tupinambás, as 28 aldeias de Sergipe, onde as tropas de Garcia d’Ávila não se atreviam em penetrar. Guerreiros temidos pela fama de terem comido o Bispo Sardinha.

Os Tupinambás do território sergipano, escravizados durante as duas Pestes, promoviam frequentes escaramuças. Muitos deles fugiam retornando às suas aldeias de origem.

Existia um clima de beligerância permanente entre colonos e índios subjugados da Bahia, com os tupinambás do território sergipano.

A varíola cobria-os todo o corpo, dos pés à cabeça, como uma lepra mortal, parecendo couro de cação. Ocupava logo a garganta por dentro e a língua, levando-os a morte em três a quatro dias.

Os que escapavam, a peste quebrava-lhes a carne, pedaço a pedaço, com tanta podridão de matéria, que saia deles um terrível fedor. Eram infestados de moscas, que devoravam a carne morta e apodrecida e lhes depositavam os gusanos (bicho de mosca).

Os índios desesperados, apelavam para uma forma agressiva de tratamento: mandavam fazer covas longas à maneira de sepulturas e depois de bem quentes com muito fogo, quando cheias de brasas, atravessavam paus por cima, com muitas ervas. Os bexiguentos eram ali estendidos até se assarem.

A medicina portuguesa, praticada pelos jesuítas, recomendava a sangria como a melhor conduta no tratamento da varíola.

Os índios desconfiavam que sangrar o bexiguento (doente com varíola), não era um bom socorro.

José de Anchieta descreve a sua medicina contra a varíola:

“A outros que daquele pestilencial mal estavam mui mal eu esfolei parte das pernas e quase todos os pés, cortando-lhes a pele corrupta com uma tesoura, ficando em carne viva, coisa lastimosa de ver, e lavando aquela corrupção com água quente, com o que pela bondade do Senhor sararam."

A Peste de 1562, foi a primeira vitória portuguesa, facilitando a sanha assassina das expedições seguintes, até a conquista definitiva de Sergipe, em 1591.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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