Tipos Sergipanos - Chumbrega (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 21 de Novembro, 2020

Tipos Sergipanos - Chumbrega
(por Antonio Samarone)

Wellington da Graça, filho do Cabo João, nascido e criado no Beco Novo. Abandonou a escola com o primário incompleto. Aprendeu a ler, escrever e contar. Foi o bastante para passar a vida sem registrar um dia de serviço. Nunca trabalhou.

Passou a vida nas esquinas, bares e cafuas. Cerebrino nos jogos de azar. Imbatível na sinuca, no baralho e no pio. Para não faltar com a verdade, era apontador do bolo esportivo. Passou a vida entre a esquina da Prefeitura e o bar Brasília. (Foto)

Nunca souberam o que ele pensava, ou se pensava, pois falava pouco. Tanto pode ter sido um gênio como um apoucado. Sabe-se apenas que ele nunca teve nem amigos nem inimigos. Vivia ali, numa indiferença sepulcral.

Wellington da Graça era avesso aos banhos, mas andava perfumado e de sapato e meia. Mal formado de feições, pobre, esquisito, morreu borboletão.

A molecada não perdoava, ele logo ganhou o primoroso apelido de Chumbrega.

Chumbrega não acreditava em virtudes, nem em boas intenções. Era um niilista primitivo, ainda na casca. Cultuava uma vaidade imperial!

Segundo Alberto de Carvalho, Chumbrega foi uma contra homenagem ao Conde de Schomberg, elegante nobre português da época da Restauração (Sec. XVII).

Jeronimo de Mendonça, Governador da Província de Pernambuco, era conhecido como Chumberga. O personagem de Itabaiana era Chumbrega.

Chumbrega não possuía nem rendas nem patrimônio. Vivia de favores. Ele cobrava gorjeta pela existência. Como era pacífico e não roubava, passou a ser tolerado nas rodas dos bem nascido de Itabaiana.

Chumbrega ganhou a fama de nunca ter feito um favor. Vivia de favores, sem reciprocidade. Ninguém contasse com ele para nada.

Próximo a Prefeitura morava Alemãozinho, um comerciante prospero de Itabaiana. Alemãozinho sempre foi mão aberta com Chumbrega, nunca lhe negou uma ajuda.

Num certo domingo, logo cedo, Alemãozinho foi buscar a Rural para ir à Fazenda. O carro não pegou, precisava de um empurrãozinho. Pela hora, tinha pouca gente na rua. Alemãozinho lembrou de Chumbrega, sempre ali, na esquina da Prefeitura.

“Chumbrega, faça-me um favor, ajude-me aqui a empurrar o meu carro”, disse Alemãozinho.

Chumbrega respondeu de pronto: “Jamais! Você não pode me pedir uma coisa dessa!”

“Como assim?” - reagiu Alemãozinho. “Você passou a vida me pedindo favores e quando eu preciso de uma bobagem, você nega!”

Chumbrega, indiferente, continuou: “Não tenho lembrança de ter lhe pedido para empurrar o meu carro.”

Alemãozinho teve que se virar sozinho.

Chumbrega faleceu deixando uma marca: nunca fez nem o bem nem o mal. Saldo zero!

Não se sabe se na hora do juízo final, do acerto de contas, ele fora salvo ou condenado.

Eu não arrisco!

Antonio Samarone (médico sanitarista).

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