CENSO AGROPECUÁRIO BRASILEIRO (I) Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 06 de Março, 2020 - Atualizado em 06 de Março, 2020

Faz tempo que os crescentes ganhos em produtividade da agropecuária brasileira, tem sidolastreados em ciência. Longe de um modo de produzir amador, romântico e com incorporação de novas áreas. Predominam estruturas produtivas intensivas em capital, na perspectiva do lucro, dispensa de mão de obra e acumulação. Tecnologia, inovações e informações, nos níveis local e globalsão fundamentais para pelejar na economia global competitiva e protecionista.

O Brasil, possui organizações reconhecidas, na geração do conhecimento, fomento, assistência técnica, coleta e análise de dados. Informaçõesrelevantes para levantar problemas de pesquisa, formular hipóteses e deduzir consequências úteisaos sistemas de produção em uso pelos produtores rurais, formuladores de políticas públicas, estudiosose agentes privados. Sem esse suporte, adicionada a vacação empreendedora dos produtores rurais, a agropecuária brasileira seria incapaz de produzir safras recordes e competir globalmente. Dentre as ferramentas indispensáveis à grandeza daagropecuária, não significa uma defesa corporativa,mas o reconhecimento, do papel profissional do engenheiro agrônomo, na labuta “dentro e fora da porteira” dos estabelecimentos rurais.

Nessa perspectiva, destaque para o recente e pouco explorado ‘Censo Agropecuário Brasileiro’, executado em 2017 e divulgado em 2019. Um extraordinário feito, repetido desde 1920 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Um século de informações continuadas econsistentes da agropecuária brasileira. Uma iniciativa de poucos países, que exige expressivosrecursos, energia, trabalho, competências e habilidades. A metodologia censitária, impõe a coleta os dados primários no universo da agropecuária nacional. Não se trata de uma amostra, mas de um censo. Mais de 05 milhões deendereços, foram identificados como “estabelecimentos agropecuários”, totalizando 351milhões de hectares. “Unidades de produção dedicada total ou parcialmente, à exploração agropecuária, florestal ou aquícola, independentemente de seu tamanho”, numa “área média de 70 hectares”. Conteúdos indispensáveis ao entendimento das ruralidades, livres de opiniões e interesses de grupos de pressão. Uma fonte de informação para entender os elos da cadeia de valor da agropecuária. Sem ela, predominam “palpites”, e dúvidas no planejamento e alocação de volumosos recursos na produção capitalista da agropecuária.

Afora o detalhamento da agropecuária brasileira, o ‘Censo Agropecuário’, trouxe informações, que deram fim, à polêmica repetida intempestivamente, sobre da participação da agricultura familiar na produção de alimentos. Numa pequena, mas robusta publicação, o professor e catedrático Rodolfo Hoffmann, em corajosa síntese, até então não foi contestada, definiu à importância da agricultura familiar brasileira, ao concluir: “autoridades afirmaram que a agricultura familiar produz 70% dos alimentos consumidos no Brasil. A afirmativa é falsa. O valor monetário de toda a produção da agricultura familiar corresponde a menos de 25% do total das despesas das famílias brasileiras com alimento”. Disse mais: “não é necessário criar “estatísticas” sem sentido para mostrar a importância da agricultura familiar no Brasil”.

Os achados censitários recentes, comprovaram os resultados do estudo do emérito acadêmico, ao mostrar que “a agricultura familiar foi responsável por 23% do valor total da produção dos estabelecimentos”. Lições oriundas da teoria e da prática, a serem apreendidas e tratadas com responsabilidade, sob pena de erros e equívocos, de difícil reparação no tempo e espaço. “Os censos retratam um momento, um instante do passado recente que, se bem analisado, subsidiará melhor o futuro”. O ‘Censo Agropecuário Brasileiro’, se constitui num referencial acreditado, disponível e gratuito. Um manual insubstituível à compreensão da produção agropecuária e ruralidades brasileiras.[HOFFMANN, R. Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas, 21(1): 2014].

Manoel Moacir Costa Macêdo

Engenheiro Agrônomo e PhD pela University of Sussex, Brigthon, Inglaterra

 

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