A CRISE DA EMBRAPA (por Manoel Moacir Costa Macêdo)
“Desmonte da Embrapa”, “Recuperar todo o corte será impossível”, “Bloqueio de orçamento deve afetar operação da Embrapa” e “Defender a Embrapa é defender a empresa pública”. São algumas manchetes sobre a “crise da Embrapa”. Venham de onde vierem, chegaram tarde. No ambiente externo, uma surpresa. Para os “embrapianos”, honestamente, um fato anunciado. Advertências foram repetidas em várias oportunidades. Não foram ouvidas e nem mereceram atenção. No imaginário interno a certeza: ao final tudo dará certo, pois a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA é um “raro e excepcional caso de sucesso”. Tem sido desprezado o repetido ditado: “se a mudança não vem de dentro pra fora, ela virá de fora com dores e ranger de dentes”.
Notícias recentes mostraram os duros cortes no orçamento da EMBRAPA. O desmonte, não é de hoje. Não foram publicados manifestos político-partidários, mas alertas com conteúdo e credibilidade dos autores. Não se trata de alinhamento de ocasião, mas, o independente repudio ao desprezo ao desenvolvimento científico e tecnológico de qualquer origem. O exercício da atividade científica, exige de pronto a honestidade dos seus integrantes e de suas práticas. O tribunal acadêmico pauta as suas ações e processos na ética e moral dos seus membros.
Sinais não faltaram nos últimos dez anos, sobre o enfraquecimento da EMBRAPA vis-à-vis os seus dispêndios, principalmente os salariais e as demandas da complexa produção agropecuária brasileira. Não é recente a desarticulação do programa de treinamento, a carência de manutenção e aquisição de equipamentos, os cuidados com os campos experimentais e os baixos indicadores da ciência, tecnologia e inovação, em publicações e patentes, particularmente, no contexto internacional. A sustentabilidade das organizações numa sociedade desigual e em época de protecionismo e competição estará comprometida quando algum desses fatores estiverem presentes na operacionalidade: gestão desconectada com a realidade, carência de cumprimento de metas robustas, baixa produtividade, afastamento progressivo da evolução do conhecimento, envelhecimento dos meios de trabalho e rendimentos incompatíveis com a unidade das “possibilidades versus as necessidades”. Essa contingência não chegou, como antes, apenas no “outro”, mas também na EMBRAPA apoiada nas travas do corporativismo. Por isso, é provável que o ataque atual venha de "fora pra dentro".
No dizer oficial da EMBRAPA, os impactos dos recentes cortes, paralisarão os “projetos de pesquisa em temas estratégicos [e inviabilizará a] manutenção e rebanhos de campos experimentais”. Sobrará o quê? O mantra encarnado na história e louvores dos anos dourados da criação da Embrapa sob o “pragmatismo da ditadura militar”. Mas os tempos mudaram. Não se descarta a postura privatizante do governo federal, eleito pelos brasileiros e por certo com os votos de muitos “embrapianos”. A dependência financeira em uma única fonte do “Tesouro Nacional” e a concentração na chamada “rubrica de pessoal”, antecede o atual governo e desequilibra a sustentabilidade organizacional.
Entre outros escritos, três deles foram publicados no influente jornal “O Estado de São Paulo” com sugestões de novos rumos à EMBRAPA. Respectivamente, “Por favor, Embrapa: acorde!”, “Salve a Embrapa” e “EMBRAPA Faz Aniversário”. O primeiro valeu a demissão do seu autor, no silêncio dos seus pares, reintegrado adiante por decisão judicial. Contribuições temporais referentes ao envelhecimento da organização, não foram consideradas.
Cito um deles: “[a EMBRAPA] envelheceu. O tempo atual não é de silêncio obsequioso, louros corporativos e nostalgias passadas, mas de competição, protecionismo, resultados, transformações velozes e abruptas. Sustentabilidade organizacional sob a proteção do véu corporativo, não é mais possível. A história repetida por vozes tradicionais de que “És a joia da Coroa”, não [se] justifica [perante] a enorme desigualdade social brasileira. É preciso reconhecer a sua importância ao País e a relevante contribuição ao desenvolvimento da agropecuária brasileira. Aumento da produção e produtividade das lavouras e animais. Tudo isso é verdade, mas não é para sempre. [Embora] há lacunas na área ambiental, protagonismo dos consumidores, agricultura familiar e sociabilidades rurais. Em várias áreas de sua missão, perdeu terreno frente à complexa produção agropecuária a partir do final da década de noventa. Reduziram as aleluias de parabéns do globalizado e pluriativo novo rural brasileiro.”.
Explicar o antigo perante o novo é difícil, principalmente em época de mudanças abruptas, assustadoras e desconectadas das tradicionais acumulações sequenciais.
Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo e PhD pela University of Sussex, Brighton, Inglaterra
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