PRESENTE ABOMINÁVEL PELO DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Jerônimo Nunes Peixoto, 05 de Março, 2020 - Atualizado em 05 de Março, 2020

PRESENTE ABOMINÁVEL PELO DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Na Semana das comemorações pelo Dia Internacional da Mulher, além de tantos crimes domésticos espalhados pelo país, Itabaiana recebeu um trágico presente, na manhã da última quarta-feira, dia 04 de março: D. Lourdes de Tonho de Bem foi brutal e covardemente assassinada, pelas costas, quando, em desespero e tomada de pânico, partiu em retirada com medo de bandidos que invadiram sua casa, às cinco da madrugada.

O dia inteiro foi de grande comoção, de imenso lamento. Bem assim, no seguinte, quando de seu o sepultamento. Não faltaram autoridades, amigos, parentes, pessoas sensibilizadas, todas com uma expressão de tristeza e de pesar muito grande. Mas, amanhã será um novo dia para cada um dos que lá estiveram, sem muitas lembranças, em função dos afazeres de cada qual.

Para a família, um vazio impreenchível, uma fenda aberta no mais recôndito da alma, sem promessas de cicatrização. Perder mãe desse jeito não é algo de que se esquece muito facilmente. Idem para a perda da esposa, da tia, da irmã, da amiga. O que fazer? Suplicar a paz e assumir uma atitude de paz. Dizer, estando longe dos fatos, é fácil. Mas, ao ver o filho mais novo acompanhando o cortejo fúnebre da mãe, que fora brutalmente assassinada, pode-se imaginar o tipo de sentimento dele, naquele instante.

Não é hora para incitar à violência. Esta nunca compensa! Em que pese o momento conturbado por que passa o país, quando muitos acham que as instituições nada valem e que se deve fazer justiça com as próprias mãos, a postura melhor é a de abraçar a construção da paz. Não é recomendável a vingança, pois é irracional e inadequada à real solução do problema. Este país carrega milhões de desempregados, de analfabetos, de criminosos que são muito mais consequência do que causa. Este país sustenta uma quantidade de sanguessugas – cuja maioria nunca fez algo para a melhoria da sociedade – que sabe viver de prometer ao povo, mas de quase nada cumprir.

Do alto de meus cinquenta e um anos ouvi muitas promessas de salvação da pátria, mas todas, sem exceção, resvalaram para outros interesses. Nunca faltam verbas para campanhas eleitorais gordas; mas falta dinheiro para a educação, para fomentar o emprego, para a moradia, para subsidiar as famílias, dando sólida capacitação às crianças e aos jovens, preparando-os para o mercado de trabalho. Ao invés, deseducam-se as crianças com programas infames de TV, levando as pessoas ao doce e ingênuo mundo do faz de conta. Incentiva-se a participação nas drogas, no crime. As escolas públicas param no meio do período escolar, para reformas intermináveis, prejudicando o ano letivo e o aproveitamento dos alunos. A creche está cheia, o posto de saúde com uma fila interminável e sem medicamentos e profissionais da saúde. O retrato que aqui faço é quase generalizado, com raras e boas exceções.

Alguém poderá argumentar: “A polícia já deu a resposta, prendendo e apreendendo os delinquentes”! a Violência não é um caso de polícia! É uma questão social. Exige a interdisciplinaridade, a somação de inúmeros esforços para seu arrefecimento. Ela exige muito mais do que uma polícia atuante e combativa. Exige entidades, autoridades, cidadãos conscientes de seu papel. Igrejas, entidades de classes, autoridades constituídas, todos envolvidos, comprometidos com uma sociedade da paz. O combate à violência exige, primeiramente, respeito às cidadãs e aos cidadãos; honestidade dos gestores; compromisso ético dos profissionais e agentes de cada área. É muito mais do que um trabalho de suplência. Exige prevenção.

Todo mundo sabe como prevenir: escola de qualidade, ocupação integral, esporte, música, literatura, poesia, arte e saber. Mas, quem patrocina isso? Quem deseja se eleger – à exceção de poucos – não se preocupa com essas “banalidades”, mas com festas para o povo, pois a festa diverte, mas também desvia o pensamento, distraindo o “zé povinho”.

Na Semana das comemorações alusivas ao dia internacional da mulher, o Brasil, Sergipe e Itabaiana precisam se acordar para uma nova realidade. Pois não se pode aceitar que outras Marias e outros Josés tombem, ao sabor do querer da bandidagem. Não se pode aceitar que o sangue de Lourdes, derramado inocentemente no solo do qual ela tirava – a duras penas – seu sustento, permaneça apenas mais um para engrossar as estatísticas da violência. Chega! Basta de injustiças à vista de todos. É preciso repensar o modelo para dar exemplo ao mundo.

Logo Itabaiana, Capital Nacional do Caminhão, terra de empreendedores, de intelectuais, de grandes e notáveis juristas, de admiráveis homens e mulheres públicos! Itabaiana, a Serrana Bela, não pode quedar-se inerte ante brutalidades como essa! Que o dia INTERNACIONAL DA MULHER seja propício a uma séria reflexão: Até quando se vai continuar assistindo a violência generalizada, sobretudo desferida contra as mulheres? O que comemorar? Que presente de grego é esse que se ofereceu, imolando alma inocente, interrompendo sonhos, dilacerando família, espalhando pânico e terror?

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