ANTÔNIO DE DEJANIRA, VENDEDOR DE AMENDOIM

Por Jerônimo Peixoto

Jerônimo Nunes Peixoto, 22 de Julho, 2020

ANTÔNIO DE DEJANIRA, VENDEDOR DE AMENDOIM

Um homem franzino, de média estatura, semianalfabeto, pobre ao extremo. Um aventureiro que, a maior idade feita, decidiu ir para São Paulo, objetivando arranjar a vida. Passado um período por lá, tendo experimentado coisas do arco da velha, desiludiu-se e veio embora. Para pobre e analfabeto, tanto faz o Nordeste, o Sul ou o Norte: só vislumbra a morte, sem amparo e sem sorte. a vida lhe seria inclemente.

Nascido na Igreja Velha, em era dificílima, tinha uma irmã por fortuna, um pai ausente e uma mãe batalhadora que o ensinou a sapecar a enxada no chão, para fazer a terra ressequida germinar, após um março de chuvas, uns pés de aipim, de batata roxa e de mandioca. Era preciso encher o bucho de farinha molhada, única sustança de que se valia para driblar a aspereza da vida. Quando até a farinha mostrava seus últimos grãos, no fundo do saco de pano branco, o remédio era se valer na vizinhança de boa natureza, que lhe dava uma mão cheia de farinha ou uma raiz de aipim. . 

Na casa de Pedro Corisco, encontrou a suavidade de um perfume que lhe inebriaria a alma, acalentando-lhe a pesada passagem pelo rio de amargura que eram seus dias. Mas, ao juntar os trapos, apareceram mais desafios. Ainda mais para piorar o “impiorável” dever de existir, vieram os achaques do vento (epilepsia), que tornavam mais angustiante o seu penar.

A "fulô" de Francisquinha de Pedro Corisco começou a lhe dar filhos, uma carreirinha se seres que teriam a mesma tosca sorte, não fossem a coragem e o engenho que rondavam o miolo desse amalucado Antônio. Montou-se num caminhão e foi para o Aracaju, vender amendoim, e o que mais lhe aparecesse sob o signo de oportunidade para ganhar os trocados endereçados a matar a fome da filharada, que insistia em crescer. Numa atitude de extremada coragem, jogou todo mundo num carro e levou a família para a Capital.

Um balaio sobre a cabeça, do Matadouro ao mercado central a pé, dali para a Atalaia, para onde houvesse ajuntamento, ele rumava esperançoso de fazer as custas e o minguado lucro com que traria para casa o engana-tripa. Certa feita me confidenciou: "meu filho, eu tive tudo, todas as razões para pegar no que era alheio, mas nunca o fiz. Chegava em casa, após um dia inteiro de idas e vindas com o balaio no casco, e não jantava, fingindo estar sem fome, para meus filhos forrarem o estômago"! (Sic!)

Belo exemplo para uma turma nova, desavisada, deseducada e desleixada, mais afeita às coisas indecentes. Magnífico exemplo aos políticos que pouco fazem, esbanjando dinheiro alheio, sem valorizar os pobres, como Antônio de Brasilino “Cabeio”! Educou os filhos, aposentou-se e continuou trabalhando, pois era como bicicleta: parada, ou encostada ou caída!

Aos 84, foi derrubado por uma motocicleta, cujo ronco do motor a surdez não lhe permitiu ouvir, e deitou-se, definitivamente, nos Braços do Pai Eterno, onde não há balaios de amendoim para vender, nem ruas a subir a descer, nem fome a driblar. Faz dois anos que se foi, mas está muito vivo na memória deste filho de seus compadres que, lá na família dele, tiveram quatro afilhados.

Deus o acolheu, Cabebio! O Senhor venceu, com um balaio à cabeça, a transitar pelos quatro ventos do Aracaju que o acolheu como filho. Pasmem! Ainda conseguiu duas casas com dignas condições de moradia; viveu numa delas e alugou a outra, para reforçar a compra dos remédios para si e para Maria do Carmo, sua “fulô” perfumada. Ali, viveu as mais favoráveis épocas de sua passagem entre nós.

Tenho saudades de ouvir suas encrencas e seus famosíssimos: " é porque..." Saudades de um homem de bem que honrou o nome, a família e os amigos. Tenho orgulho de tê-lo conhecido e admirado, de perto, o seu exemplo de vida. R.I.P.

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