ANO VELHO E ANO NOVO, TENHAM PIEDADE DE NÓS

Manoel Moacir Costa Macêdo

Redação, 27 de Dezembro , 2019 - Atualizado em 27 de Dezembro, 2019

No mundo ocidental, o mês de dezembro, últimomês do ano no calendário gregoriano, carrega os sentidos do ano que se encerra, e do ano que se inicia. Uma obviedade, o velho ano termina em trinta e um de dezembro, e dia seguinte, primeiro de janeiro, começa o novo ano. Nem se espera o término por inteiro do ano velho, principia as festividades do novo ano, em contagem regressiva,no primeiro segundo do ano vindouro. Excesso de emoções aceleradas entre o “velho e o novo ano”.

Do velho ano, tentam apagar as tristezas, como se possível em situações cármicas de “provas e expiações”. No tempo irreal, cantam aleluias pelo ano que foi, em louvor às exigências de felicidade,distantes da paz e do “coletivo-bem-viver”. Do novo ano, celebrações se multiplicam num espectro desupostos amigos que não cabe na “lista do cantador”, colegas de trabalho, de estudos, grupos de casais e de jovens, voluntariados, e por aí vai, sem contar a ceia familiar do réveillon. No geral, são momentos artificialmente festivos, de trocas de presentes e dizeres contextualizados.

Nessa divisa entre o “velho e o novo ano”, ocultam agonias e maximizam esperanças, como se por instantes fosse possível esconder as dores e disfarces. Escamoteiam as angústias e depressõesincluindo as de matriz pós-material, numa fria e rasaanálise do tempo: o que “passou, passou, não volta mais e venham dias melhores”. Uma contabilidadezerada em contas consumistas e individuais. Multiplicam as apostas de sucesso a qualquer preço,no ano que virá. Rogam em “orações labiais” as esperanças distantes das “mãos que fazem” no imaginário ano que estar por vir. Uma obrigatoriedade de ser feliz. Somente se desilude, quem se iludiu.

Em qualquer tradição cultural, a mudança de ano, não é um evento despercebido. O primeiro dia do ano novo, é um feriado universal. Não significa a mudança aritmética de um ano para outro, mas asesperanças no ano vindouro. Crenças são construídas em torno desse momento: usar roupa branca, comer sete sementes de romã, comer lentilhas, pular sete ondas no mar, usar lingerie colorida, não comer aves que ciscam para trás, comer doze uvas, tomar banho de água-de-cheiro, entre outras facilidades materiais. A essência das transformações não estão nessassimplificadas atitudes, mas em prospecções e reformas qualitativas e íntimas, muito além dos próximos doze meses. No dizer do cientista social, “a esperança como fenômeno social, não pode ser uma fantasia de controle para sufocar as transformações e o progresso”, numa relação festiva de um só dia. Ela não é uma “espera” e nem uma “manipulação de poder entre dominantes e dominados”.

O sentir entre o “velho e novo ano”, significa iralém do tempo comum expresso em sonhos e magiadessa passagem, que além de novo, seja bom e útil. Na da quarta dimensão, tem-se a completude de “tempo e espaço”. Eles são uma só coisa. Expressão de futuro, onde são jurados os descartesdo anacrônico modo egoísta de viver com os semelhantes, numa genocida luta de todos contra todos, onde todos perdem, algemados numa ordemevolutiva inferior. Existimos para aprender e não para sofrer.

Na unidade entre o “novo e o velho ano”, o poeta sergipano Santo Souza, nos seus épicos poemas, escreveu que para um novo tempo: “quero ser o carrossel para os que não têm dinheiro; a camisinha nova para os que vivem nus; o sorriso alegre para os que estão chorando à sombra dos casebres”. Na geografia desse gigante e desigual País, o poeta gaúcho Mário Quintana, no mesmo sentir, diz: “por fim entendemos que tudo que importa é ter paz e sossego, é viver sem medo, é fazer o que alegra o coração naquele momento. E só”. O líder pastoral dos “católicos-cristãos”, implora ao céu que a “esperança no horizonte da humanidade vigia sobre nossas cidades, sobre as casas, as escolas, os hospitais, as fábricas e as prisões como o testamento de amai-vos uns aos outros’”.

Por um instante se apagam as luzes de um tempo que será reproduzido em mais um “novo ano”. Que essa viagem na unidade do “tempo e espaço”,traduzida entre o “velho e o novo ano” seja um encontro de esperança, igualdade, espera, amor e paz, que inexoravelmente um dia, será o presente.

Manoel Moacir Costa Macêdo

Engenheiro Agrônomo, PhD pela University of Sussex, Brigthon, Inglaterra


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