A LINEARIDADE NA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA BRASILEIRA

Manoel Moacir Costa Macêdo e Pedro Abel Vieira

Redação, 28 de Fevereiro , 2020

Descrever o sucesso da produção agropecuária brasileira, tem sido redundante. As safras recordes, se sucedem ano após ano. Os ganhos de produtividade são crescentes. Uma vitoriosa agropecuária, no plano nacional e global. O mesmo não é verdadeiro, para os demais setores da economia. O padrão de desenvolvimento nacional é sofrível, quando comparado com outras nações, noselementares indicadores de educação, saúde, renda,e violência. A persistente desigualdade, é crescente e inaceitável.

 

Na linearidade, o produto agropecuáriobrasileiro cresceu mais de quatro vezes no período de 1975 a 2016. No mesmo lapso temporal, a produção de grãos aumentou de 40,6 milhões para187,0 milhões de toneladas. A pecuária bovina em carcaças, saltou de 1,8 milhão para 7,4 milhões de toneladas. Os suínos de 500 mil para 3,7 milhões toneladas, e o frango de 373 mil para 13,23 milhões de toneladas. Uma usina de produzir comida e riqueza. Uma agropecuária financeirizada, sem similar na história brasileira. A análise do produto‘per se’, traduzida no valor da produção, mostra que os maiores aumentos de 2000 a 2016 ocorreram na soja, cana-de-açúcar, laranja, banana, e frango. As chamadas commodities agrícolas. O faturamento bruto dentro da propriedade rural em 2019, foi de R$ 588,76 bilhões. Não foram notadas alterações relevantes, nos produtos de consumo interno, e da agricultura familiar.

 

A partir de 2012, a produção agropecuária cresceu de forma linear e contínua. Em 2016ocorreu uma pausa, atribuída à seca, que afetou principalmente a produção de milho, entretanto, nomesmo ano, a Produtividade Total dos Fatores, - PET (terra, capital, e mão de obra) cresceu a uma taxa de 1,24%. O salto da produção ocorreu pela utilização de insumos intensivos em capital, comefeitos no aumento da produtividade. O consumo de fertilizantes passou de 2,0 milhões de toneladas em 1975, para 15 milhões em 2016. Produzir e lucrar mais, com menos terra, e trabalho. A incorporação de novas áreas, de 1975 a 2016, consequência daexpansão das lavouras temporárias, a exemplo da soja e milho, que cresceu de 36,8 para 69,5 milhões de hectares. As lavouras permanentes, por sua vez,estacionaram entre 5,0 e 6,0 milhões de hectares. No caso das pastagens, ocorreu a redução de área.Uma produção agropecuária lastreada em inovações tecnológicas, poupadora de ‘terra, e mão de obra’.

 

Na década de 1970, marco inicial da introdução vigorosa do capitalismo no campo, até os anos 80, a ‘terra’ foi o principal fator de produção nocrescimento do produto agropecuário. De 1980, adiante, o ‘capital’ se estabeleceu como o relevante fator de produção. Existem semelhanças entre o crescimento da agricultura dos Estados Unidos e do Brasil. Estudos do Economic Research Service (ERS) americano, em relação à PTF, identificaramque, no período de 2007 a 2015, o ‘capital’ também foi a principal fonte de crescimento da produtividadeda agropecuária americana. De 2007 a 2015 a média de crescimento nos Estados Unidos foi de 0,53%, e a histórica, de 1,38%. No Brasil, a média de crescimento 2000 a 2016 foi de 3,17%, e a histórica, de 3,08%.

 

Difícil para o senso comum da cidadania, aceitar as contradições, entre a pujante produção agropecuária e a fome de brasileiros. De um lado, oBrasil tem competência para produzir a esperadasafra de 250 milhões de toneladas de grãos. Um expressivo produtor e exportador de alimentos para o mundo, em breve o maior de todos. Do outro, no seu interior, predomina a fome, e a enorme desigualdade dos seus nacionais. A extrema pobreza no Brasil, soma 13,5 milhões de pessoas,com renda de até R$ 145 reais mensais. O número de miseráveis vem crescendo desde 2015, invertendo a curva descendente da miséria de anos anteriores. A miséria brasileira, tem específicas identidades. Ela atinge principalmente o Norte e Nordeste, a população preta e parda, sem instrução,ou com formação fundamental incompleta. A pobreza atinge também a evasão escolar. 12% dos jovens mais pobres abandonam a escola sem concluir o ensino médio. Um índice oito vezes maior que os jovens ricos. O desemprego, e a carência de programas sociais estruturantes de distribuição de renda, aumentam o fosso da desigualdade.

 

Uma triste e vergonhosa realidade perante à civilização. Urge ser enfrentada e rompida. Uma miséria para os padrões arrojados da agropecuáriabrasileira. Uma crueldade no rol do humanismoiluminista. Uma situação consentida e acolhida como normal pelos cristãos de uma terra marcada pelo “sinal da santa cruz”. Pode-se afirmar, ser mais fácil crescer linearmente na produção agropecuária, do que matar a forme dos pobres, e romper a rochosa desigualdade pátria. A primeira, uma escolhatécnica, e linear no estrato da “produção” poragentes econômicos privados, e representaçõesestatais. A segunda, uma decisão política, da “distribuição ao consumo”, dependente daindignação popular, e ruptura do status quo vigentenas pétreas estruturas da sociedade.


Manoel Moacir Costa Macêdo e Pedro Abel Vieirasão engenheiros agrônomos


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