O TANQUE DO POVO: PRESERVAR É VIVER

O TANQUE DO POVO, PRESERVAR É VIVER

Jerônimo Peixoto, 02 de Março , 2020 - Atualizado em 02 de Março, 2020

TANQUE DO POVO: PRESERVAR É VIVER

Quando era criança, vinha para a cidade, em companhia de meu pai, para as compras na feira. Adorava andar pela frente da Pop Lanche, ao menos para sentir o cheiro do pastel. Quando sobrava um níquel, dava para degustar um com caldo de cana, que era mais em conta do que suco de laranja.

Girava, na feira, de banca em banca, comprando o que podia, conforme o dinheiro fosse permitindo. Sentia, porém, repulsa quando solicitado por meu velho pai a atravessar para a rua da delegacia, passando pela feira do caranguejo, para algum recado, na casa de Zeca Cajueiro, afamado barbeiro naquela quadra.

O cheiro insuportável do Tanque do Povo invadia-me as narinas e me causava náusea, e eu nem desconfiava, em minha meninice, das razões. Ficava a me indagar pelos motivos de um tanque tão grande ser tão fétido, tão indesejável, logo por uma criança que viva batendo água no tanque do sítio onde nasci e vivi a minha pobre infância... nadar, pescar, mergulhar, disputando quem passava mais tempo submerso, eram as mais nobres diversões de nosso tempo. Não havia aparelhos de celular, nem luz elétrica no Cajueiro.

Como um tanque, que certamente nasceu para saciar a sede de pessoas e de animais, aos poucos, foi engolido pela cidade, com a consequente invasão de lixo, de dejetos e de outras impurezas que o tornaram manancial de podridão, bem no centro de Itabaiana? Como apelidar aquilo de tanque? Era uma ideia inconcebível, já que eu era acostumado a ver tanques limpos, com águas puras, capazes de dessedentar humanos e animais, sem qualquer problema.

A cidade cresceu, apareceram mansões de tirar o fôlego; o comércio passou a oferecer espaços amplos e arejados. Avenidas e praças iam surgindo, dando novas de que o desenvolvimento urbano colocaria o município no rol das médias cidades brasileiras, tornando-o uma referência para Sergipe.

Entretanto, o processo de esgotamento sanitário parecia convergir para o tanque do povo, cujo odor irradiava para boa parte da cidade. O remédio foi, definitivamente, o de aterrar o velho tanque, para que o local desse ensejo ao mercadão de hortifrutigranjeiros de Itabaiana.

O tanque do povo é uma amostra viva de que preservar fontes, nascentes, aguadas, riachos e rios é garantir o futuro, é viver! Ainda, faz refletir sobre a postura avassaladora do desenvolvimento econômico destituído da preocupação com a preservação. Se o município tivesse se despertado, em tempo, para impedir a invasão equivocada de dejetos e de outros poluentes, o tanque do povo estaria, como um belo cartão postal, embelezando e refrescando nossa cidade.

Vamos enxergar outros locais e preservá-los, a fim de que não morram como o tanque do povo? Aprendamos a lição que o tanque do povo gravou em nossa memória. Preservar é viver com dignidade, pensando do bem das futuras gerações de ceboleiros. Cuidemos do açude da Macela!


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