A grande interrogação do mundo pós COVID-19

Por Márcio Monteiro

Marcio Monteiro, 12 de Abril , 2020 - Atualizado em 13 de Abril, 2020

Estamos vivenciando um período de grande apreensão, reféns de uma pandemia que em poucos meses imobilizou toda a economia do planeta cujos impactos estão longe de serem dimensionados. Nem mesmo os mais sofisticados sistemas de agencias de consultorias, organismos internacionais ou academias renomadas, são capazes de projetar com alguma segurança o cenário econômico que nos espera no pós pandemia.

A maior tragédia mortal da historia foi Segunda Guerra Mundial, que devastou a Europa, provocou danos econômicos e devastação em países asiáticos, além do grande numero de perdas humanas (3% da população mundial), estimadas em 56 milhões de mortos envolvidos diretamente no conflito (entre militares e civis), além de 25 milhões de pessoas mortas em decorrência de doenças e da fome provocadas pela Guerra.

Estamos entrando numa espécie de Terceira Guerra Mundial, cujo inimigo comum é a COVID-19. Os países compreenderam que para enfrentar o avanço da pandemia teriam que mobilizar toda a população para o cumprimento do isolamento social e os governos adequarem minimamente os serviços de saúde para atenderem à demanda por tratamento aos infectados pela pandemia.

Enquanto medidas emergenciais de prevenção à saúde foram sendo tomadas, simultaneamente os governantes buscavam soluções econômicas capazes de garantir que as pessoas permanecessem em suas residências, liberando fundos, auxílios emergenciais e antecipação de pagamentos de benefícios sociais. O custo de manutenção do isolamento social até julho deste ano, ira causar um recuo no PIB brasileiro estimado em 5%.

Retomando a referência feita à Segunda Guerra Mundial, a solução para a reconstrução econômica da Europa devastada pelo conflito, partiu do secretário de estado americano, George Marshall, que viabilizou empréstimos de baixo custo para os integrantes da chamada Europa Ocidental, pois já havia parte do governo americano no pós-guerra a preocupação com a expansão territorial socialista. Logo em seguida, os americanos ampliaram as ações de cooperação e ajuda aos países asiáticos afetados diretamente pela guerra, visando reparar os danos estruturais e a recuperação econômica dos países através do Plano Colombo.

Assim como a humanidade enfrentou e superou o flagelo da guerra, o mundo irá passar por período de grandes dificuldades no pós COVID-19. Nada será como antes, até porque deixando o papel meros espectadores das mazelas do mundo e passando a experimentar um pouco do medo que aterroriza nossas famílias, mesmo que isso signifique apenas uma fração da dura realidade vivida por aqueles que passam ou passaram por conflitos e horrores de uma verdadeiro embate bélico.

O desmonte econômico mundial provocado pelas medidas sanitárias necessárias ao controle da pandemia, não tem precedentes na história. Diferentemente da Segunda Guerra Mundial, não haverá disponibilidade imediata de recursos econômicos dos países do primeiro mundo para proverem os recursos para a retomada da economia das nações da menos desenvolvidas da America do Sul, África e Oriente Médio.

Segundo especialistas da CEPAL – Comissão Econômica para a America Latina e Caribe, a quebra de oferta de insumos, por causa da interrupção das inúmeras cadeias produtivas e o custo social por causa da perda de renda de subsistência e realocar o grande contingente de desempregados, serão os desafios mais imediatos. Se o cenário previsto pela CEPAL de redução de 1,8% no PIB e aumento de 10% no número de desempregados, o número de pessoas na extrema pobreza (sem recursos para a manutenção da capacidade de trabalho) será de 90 milhões de pessoas na América Latina.

O Brasil, por sua vez, perdeu a chance de salvar o chamado Pacto Federativo, que como uma gazela perdida na savana tornou-se a primeira vítima do COVID-19, inviabilizando o que ainda restava de federalismo cooperativo face aos recentes acirramentos das disputas políticas. Por outro lado, talvez tenha chegado a oportunidade do Governo Federal assumir de vez o protagonismo na coordenação e definição das regras de uma política nacional que viabilize de vez o Pacto.

Importante destacar que o Brasil além de ter um sistema de saúde estruturado (SUS), é também um grande produtor e exportador de imunobiológicos. Somente a Fiocruz produz 25 tipos de vacinas que atendem mais 70 paises. Portanto, temos expertise e laboratórios capazes de replicar novas vacinas em larga escala, fato que nos diferencia e nos coloca em vantagem em tempos de pandemia.

Em Sergipe, o Governo terá à sua frente um paredão de desafios. Manter a máquina do Estado funcionando e honrando compromissos com fornecedores, folha de pagamentos de ativos e inativos, ante uma queda da arrecadação estimada em 30% para 2020. Novas demandas sociais que irão aflorar pós pico epidêmico, irão exigir muita perda de gordura na estrutura governamental e um grande esforço político na busca de novos recursos. E como a justiça não para, existe ainda uma nuvem pairando no ar sobre a continuidade ou não da atual gestão governamental.

As guerras sempre têm uma motivação, declarada ou não, relacionada ao expansionismo territorial ou econômico, e não é segredo de que há meses existe uma tensão entre Estados Unidos e China em razão de disputas pelo protagonismo econômico mundial. E mesmo antes do surgimento da pandemia, os chineses estavam atuando no mercado de ações assumindo o controle acionário de muitas grandes empresas, fato que estava incomodando o governo americano. Sentimento por certo potencializado pelo fato na China ter sido o país de origem da pandemia (?) e por estar saindo na frente de todos na retomada da normalidade econômica interna.

Mesmo dentro de um cenário de total imprevisibilidade sobre os reais efeitos da pandemia, estamos assistindo a um fenômeno novo, o fato de todos os países operarem de forma verdadeiramente colaborativa no combate à COVID-19, sem restrições no compartilhamento de informações e de apoio técnico e material para nações com maiores índices de letalidade.

Esse movimento cooperativo guarda certo paralelo com ações dos países aliados após a Segunda Guerra Mundial, que criaram a Liga das Nações, que dentre suas áreas de atuação mais importantes estava a de coordenação das questões sanitárias e que deu origem à Organização Mundial da Saúde (OMS), agencia que passou a orientar as ações de saúde nos países filiados à Organização das Nações Unidas.

A estimativa mais otimista é de que se produza uma primeira vacina eficaz contra a COVID-19 em no mínimo um ano, portanto devem ser priorizadas as ações preventivas e coordenadas dos governos, visando atenuar os impactos na saúde física e mental das pessoas, e ao mesmo tempo evitar a derrocada definitiva da economia do planeta. Como bem disse, Qu Yuhui, ministro-conselheiro da Embaixada da China no Brasil: “O jogo não vai ser vencido pelo melhor jogador em campo, mas só quando o pior jogador em campo conseguir aguentar o jogo. Por isso todos os países precisam se unir”. Teremos pela frente o aumento exponencial das demandas na área da saúde, além do desafio do enfrentamento do crescimento da pobreza extrema e do desemprego.

Certamente a nova agenda geopolítica das nações deverá se concentrar na compreensão e no controle dos efeitos desse vírus tão letal, até que cheguemos a uma vacina que possa ser produzida em escala mundial, o que exigirá de todas as nações um grande esforço cooperativo e muita solidariedade.


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