Mulher Sergipana na Literatura 2: Ligia Pina

Por Sandra Natividade

Domingos Pascoal, 13 de Abril , 2020

Saudosismo não é defeito ou desvirtude, mas forma de gratidão por alguém que no passado marcou indelevelmente um período, a educadora Maria Lígia Madureira Pina o fez enquanto ocupou espaço entre nós, não foi insubstituível, mas deixou lacuna de considerável extensão. Observo o trajeto percorrido por Lígia como verdadeiro sacerdócio, estendo um pouco o texto definindo-a no desempenho de suas funções como educadora com visão de águia e tudo estaria resumido assim, era perspicaz,viveu para ensinar sem reserva. Mestra dedicada serviu a educação sergipana com denodo demonstrando compromisso com a missão. Amava o que fazia e aos que carinhosamente a cercavam. Difícil aproximar-se de Lígia e não receber um sorriso acolhedor. Olhava seu próximo com inexplicável ternura. O corpo tão franzino aparentemente diminuto parecia aos observadores, que se o vento soprasse um pouco mais forte poderia levá-la, contudo, os passos pequenos, porém certeiros, sabia muito bem aonde queria chegar.

Professora Maria Ligia Madureira Pina, natural de Aracaju, filha de Afonso Pinna e Alexandrina Madureira Pinna licenciou-se em História e Geografia pela então Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. O magistério impulsionou sua vida todo o tempo, tornou-se para a plêiade de admiradores que conquistou uma referência, semeou a boa semente da virtude ensinando para a vida. Não se ateve as substanciosas matérias que se especializou História e Geografia, não ficou na letra fria, mas disponibilizou conteúdos programáticos abrangentes, indo além, bem além, razão que a fez diferente, popular, popularíssima, os discentes conversavam com a mestra que se tornou amiga fraterna sem qualquer distância; quantos executivos, políticos, profissionais de diversas categorias a cumprimentavam apresentando-se como seus ex-alunos nas instituições de ensino onde lecionou, a exemplo: Colégio Atheneu Sergipense, Colégio de Aplicação da UFS, Instituto de Educação Rui Barbosa, Colégio Nossa Senhora de Lourdes entre outros. Era distinção também entre gente simples do povo, dizendo ter sido ela sua professora ou de filhos e parentes, fato que lhe enchia a alma, diríamos atualmente que os alunos a empoderavam, então, aparecia sorriso largo no rosto angelical expressando gratidão e certeza do dever cumprido na arte de bem ensinar. Ligia era inconformada com a mesmice, queria sempre ter novidade conhecimento de causa para ser agente multiplicador, isso a boa mestra fez durante sua caminhada profissional e no trato com os amigos.

Nesse labutar profissional cruzou mares indo especializar-se fora do país, a exemplo de sua participação no Seminário de Sistemas Educacionais de Israel, do Colóquio de Educação Comparada Brasil-Israel este último realizado na cidade do Rio de Janeiro ambos em 1989; Cursos nas áreas de História, Literatura e Dicção faziam parte do extenso currículo, assim também foram as homenagens que lhe prestaram: Sindicato dos Professores da Rede Particular de Ensino do Estado de Sergipe – O Educador do Ano, Secretaria de Educação do Estado – Serviços Prestados à Educação e ao Civismo, Interact Rotary Clube – Medalha do Mérito Cultural à Mulher Sergipana, antiga Associação dos Professores de Sergipe – Diploma de Honra ao Mérito, Colégio de Aplicação/UFS – por Serviços Prestados, Colégio Tiradentes – Professor Fundador, essas acrescidas por distinções do Museu de Arte e História Rosa Faria e do Programa TV Memória da TV Aperipê.

Educadora que levou consigo o título de Cidadã do Mundo pelos relevantes serviços prestados em sua área de atuação. Órfã de pais regia a própria vida em estilo single, chegou à velhice sem irmãos, encontrou amigos fiéis, fraternos, família representada por Shirley Rocha, filha do coração exemplificando, assim a pequena família nuclear. A educadora de gerações que nasceu em setembro de 1925, chegou à presença de Deus em agosto de 2014, com exatos 88 anos, e até nos últimos instantes de sua preciosa vida, Lígia trocava experiências: sua partida foi precedida por momentos de partilha quando o AVC lhe alcançou, estava diante de um aluno, proporcionando subsídios para a qualificação do mestrado daquele na Universidade Federal de Sergipe - UFS. Lígia Pina muito andou, falou, construiu, deixando legados inapagáveis, isto desde cedo quando remia tempo para ensaiar com as crianças em sua comunidade residencial, visando a apresentação do Auto de Natal ação que realizava anualmente. Quanta popularidade! Ligia Pina, cronista, contista, romancista e teatróloga seus primeiros versos foram escritos quanto tinha dez anos de idade; no exercício da cátedra encenou duas peças teatrais de caráter histórico com objetivos didáticos O Viajante do Tempo com alunos do Colégio de Aplicação da UFS/1975, e O Ponto Ômega com alunos e professores do Colégio Atheneu Sergipense/1979; escreveu destarte obras que reverberam na literatura sergipana: Flagrando a Vida, 1983; A Mulher na História, 1994, Satélite Espião, 1998 e A Relíquia 2008. Educadora fantástica, com tantas atribuições que lhe cercavam Lígia incluiu tempo para assumir o cargo de Secretária da Associação dos Geógrafos da Brasil secção de Sergipe, do Centro de Pesquisa Histórica da UFS, Sindicato dos Professores da Rede Particular de Ensino do Estado de Sergipe presidindo este por cinco anos. Seus compromissos eram assumidos com esmero e dedicação, assim o fez no Conselho Estadual de Cultura, Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, Associação Sergipana de Imprensa, Academia Sergipana de Letras, enfim vida compromissada com a educação e cultura de sua terra natal; como se não bastasse reuniu tempo de qualidade para criar em 20 de dezembro de 1992 juntamente com catedráticas de sua contemporaneidade a Academia Literária de Vida – ALV - doando atenção redobrada, era a presidente do sodalício, as reuniões sempre realizadas em sua residência continuaram até depois do seu falecimento pela benevolência da presidente que a substituiu jornalista Shirley Rocha. A Academia Literária de Vida – ALV- completará neste ano de 2020, 28 anos. Lígia sustentou a academia com o que tinha de mais precioso, cultura, responsabilidade e humanismo. A composição da ALV se expandiu, como aquela realizadora estaria feliz participando deste novo momento, contudo a alegria é notada em todas e em cada uma das acadêmicas que canalizam para Lígia Pina, a fundadora, in memoriam, reconhecida pelas inúmeras Academias de Letras deste Estado como patrona em suas cadeiras. Os méritos da catedrática causam reconhecimento público notório e a instituição criada com seu tempo de qualidade a ALV, agradece com honra esse reconhecimento.

*Sandra Natividade Jornalista, Membro da Academia Literária de Vida- ALV - Cadeira º 12 e da Academia de Letras de Aracaju- ALA- Cadeira nº 19.


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