Minhas Pulgas (por Antonio Samarone)

Redação, 26 de Julho , 2020

A Saúde Pública no Brasil se valeu historicamente dos inseticidas, para combater os agentes transmissores das doenças. Fazia-se vistas grossas aos efeitos colaterais. O exemplo mais agressivo foi a erradicação do Aedes aegypti, na década de 1960, com a borrifação em larga escala do Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT).

O nefasto DDT demora de 4 a 30 anos para se degradar. O DDT além de atingir as pragas, afetava o resto da fauna e da flora e infiltrava-se na água, contaminando os mananciais. Depois se comprovou que DDT acumula-se nos tecidos humanos, com efeitos teratogênicos e cancerígenos. A fabricação do veneno foi proibido no mundo na década de 1970.

Os mais antigos devem lembrar como se tratava a pediculose, a tradicional infestação pelo Pediculus humanus, o velho piolho. Antes de dormir, usava-se o Neocid polvilhado na cabeça e coberto com um pano. Ao acordar, contava-se os piolhos abatidos. A operação era repetida com 15 dias, para se exterminar as lêndeas que se tornaram adultos.

O Neocid antigo era da Bayer, um inseticida em pó à base dos organofosforados, comercializado numa lata (quem lembra?) contendo 50 gramas do produto. Um detalhe macabro: havia uma informação na lata indicando que o veneno era inofensivo para os humanos e animais domésticos.

Os sanitaristas formados pela escola do pensamento crítico, diziam que a solução para a Doença de Chagas não era o (BHC), o inseticida Hexaclorobenzeno usado para eliminar o barbeiro, mas o (BNH), Banco Nacional da Habitação, para construir residências adequadas para a população.

A Saúde Pública já livrou a humanidade de muitas mazelas. Em boa parte, obra do saneamento básico, da melhoria da alimentação e de hábitos de higiene pessoal. Os antibióticos ajudaram.

Hoje em dia tem menino que nunca viu uma pulga.

Ontem ouvi uma novidade na TV, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em parceria com a Embrapa, obteve um inseticida natural (bioinseticida) à base de extrato (suco) retirado das folhas do sisal (Agave sisalana) que se mostrou eficaz contra as larvas do Aedes aegypti.

O sisal é uma planta oriunda da América Central, cultivado principalmente na Bahia e na Paraíba. A fibra do sisal é utilizada na confecção de fios, cordas, tapetes, sacos, vassouras, artesanatos, acessórios e o uso como componente automobilístico.

O principal produto do sisal é a fibra extraída das folhas, mas grande parte da planta ainda é desperdiçada. A fibra equivale a somente 5% do peso das folhas e o restante da produção tem pouco uso. Em torno de 80% da folha do sisal é composta por suco que pode ser extraído para combater o mosquito e 15% por mucilagem, que normalmente são despejados no campo.

O Brasil deixou de apostar na ciência. Só existe um caminho para o desenvolvimento sustentável; apostar numa escola pública de qualidade e investir em ciência e tecnologia.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)


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