A Chegada da Vacina a Sergipe. (por Antonio Samarone)

Redação, 05 de Setembro , 2020

A vacina é um recurso antigo da medicina. Em 1798, Edward Jenner, um médico rural inglês, anunciava ao mundo a descoberta da vacina contra a varíola.

A vacinação se propagou rapidamente, mesmo com a uma certa resistência das pessoas.

A primeira vacinação no Brasil, o pus transmitido braço a braço (variolização), foi realizada em 1798, por Francisco Mendes Ribeiro, cirurgião-mor do Primeiro Regimento de Milícias do Rio de Janeiro. A linfa vacínica veio da Inglaterra, no mesmo ano da descoberta.

Na ocasião, foram vacinadas 477 pessoas, de ambos os sexos, com idade entre 20 e 50 anos. Mesmo sem incidentes, o povo mostrou-se temeroso e refratário a novidade.

A experiencia seria repetida somente em 1804, na Bahia. Os mercadores financiaram a ida de sete escravos jovens a Portugal, incumbidos de trazerem o pus vacínico. No espaço de seis meses, foram inoculados 1.339 crianças na Bahia, por inciativa do médico José Avelino Barbosa e do cirurgião Francisco Rodrigues Nunes.

Existem notícias de vacinação em Estância, Sergipe, por volta de 1826. Entretanto, eram iniciativas isoladas e de baixa
cobertura.

Em 1835, o Juiz de Paz da Villa de Propriá, Manuel José de Medeiros Chaves, solicitou ao Presidente da Província o pus vacínico para propagar por aquela Villa.

Em 22 de fevereiro de 1836, foi aprovada em Sergipe uma Lei Provincial tornando a vacinação obrigatória, prevendo multa e prisão para os infratores. A lei autorizou o Governo a gastar até um conto de réis para a difusão da vacina. Não precisa dizer que a lei não foi cumprida.

Na atualidade, tem um deputado sergipano querendo requentar essa lei da vacinação obrigatória, que se encontra em vigor em Sergipe desde 1836, pois nunca foi revogada.

Em 1843, o Presidente de Sergipe, Dr. Anselmo Francisco Peretti, solicitou ao Presidente da Bahia a remessa de lâminas da vacina e, não sendo possível, que aceitasse algumas crianças sergipanas, que seriam enviadas para a vacinação na Bahia e posteriormente, utilizadas para a extração do pus em Sergipe.

Em 1843, a Assembleia Provincial de Sergipe aprovou a criação do Cargo de Vacinador Geral, que foi ocupado pelo médico Francisco Sabino Coelho Sampaio.

O Cargo durou pouco, pois em 1846, o Governo Imperial criou o Cargo de Comissário Vacinador Provincial, ocupado em Sergipe pelo médico Joaquim José de Oliveira, que acumulava o Cargo de Provedor de Saúde Pública.

A resolução nº 260, autorizou o Governo a pagar a gratificação de 400 mil reis aos vacinadores municipais, caso eles fossem médicos. Em Sergipe, geralmente esses vacinadores eram leigos, que nada recebiam. Santo Amaro das Brotas contratou um professor para esse serviço, pagando a gratificação de cem mil réis.

No ano de 1853, foram vacinadas na Capital, São Cristóvão, apenas 163 pessoas.

Pelo livro de registro da Provedoria de Saúde Pública, em 1860, atuavam em Sergipe 11 médicos, 4 cirurgiões e 7 farmacêuticos. Em caso de dúvidas, eu possuo o documento com a relação nominal.

No final do Império, tinham consultórios em Aracaju: 12 médicos, a maioria na Rua Aurora.

A Peste das Bexigas (varíola) continuou grassando com grande intensidade em Sergipe. A varíola foi o principal problema de Saúde Pública em Sergipe, na segunda metade do século XIX.

Um fato relevante (e esquecido) da história da Saúde Pública em Sergipe.

As vacinas contra a febre tifoide e paratifoide foram produzidas pela primeira vez no Brasil, em Sergipe, no Instituto Parreiras Horta.

Os germes foram aqui isolados, cultivados em garrafas com ágar inclinado. Depois de 24 horas, as culturas eram emulsionadas, fazia-se a contagem dos germes previamente mortos com iodo. A solução era diluída a 2%, e distribuída em ampolas.

Sergipe produziu uma vacina oral, na década de 1920. A vacina era empregada com 20 gotas diluídas em água, tomada em jejum, por três dias consecutivos.

Hoje se sabe que a vacina tinha uma eficácia quase nula, mas à época, houve uma queda significativa da febre tifoide no estado, atribuída a vacinação em massa realizada.

As Vacinas em Sergipe tiveram outras histórias interessantes, mas o espaço aqui é pequeno e já acabou. Vou tentar continuar amanhã, se houver interesse manifesto.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)


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