Itabaiana – 350 anos. José Queiroz da Costa.(por Antonio Samarone)

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O desenvolvimento de Itabaiana teve a participação de Zé Queiroz.

Na década de 1960, uma nuvem de pessimismo cobriu Itabaiana: a luta política pelo controle do comércio atacadista, terminou em um banho de sangue. As paixões foram estremecidas.

A passagem de uma economia centrada na agricultura, para um polo comercial, foi traumática, seguiu o “vale tudo” da acumulação primitiva.

A cidade ganhou a fama de violenta e estava dividida pelo ódio e pelo ressentimento. Muitas famílias migraram para Aracaju. Nada unia os itabaianenses.

Um grupo, liderado por Zé Queiroz, Dr. Pedro, Mozart, Resende, Zé de Gentil, Pedro Goes, Alemãozinho, Fefi, Faustino, Tonho de Dóci, entre outros, investiram no futebol. Encontrou-se um caminho de reunificação: Somos Itabaiana, “Cidade Celeiro”, diz o hino.

Zé Queiroz liderou uma revolução cultural, através do futebol, ajudando na reunificação da sociedade civil itabaianense.

Infelizmente, a luta política continuou nos moldes coronelísticos. A modernização política, esperou pelo século XXI, com a chegada do grupo político liderado por Valmir de Francisquinho.

Em 10 de janeiro de 1960, Zé Queiroz casou-se com Maria do Carmo Monteiro, filha de Juca Monteiro, descendentes de Nicolau, um judeu russo, plantador de fumo. Carminha e Zé Queiroz tiveram seis filhos: Carmen, Zezinho, Norma, Ivan, Nana e Rui.

A partir de 1968, Queiroz passou a contribuir com a Associação Olímpica de Itabaiana, levando a conquista de vários títulos estaduais. Inclusive, o penta campeonato de 1978-1982, e um título de campeão do Nordeste, em 1971.

Queiroz realizou um sonho: a construção da Vila Olímpica, que levou o seu nome. Por tudo isso passou a ser conhecido como o “Patrono” da Associação Olímpica de Itabaiana.

José Queiroz da Costa, nasceu em 14 de julho de 1936, em Itabaiana. Filho único de Antônio Sacristão e Dona Rosinha.

Zé participou de todas as traquinagens permitidas, naquele tempo, aos meninos do interior. No futebol, foi ponta esquerda do Cantagalo. Não chegou a ser um craque. Foi um ponta arisco, como se dizia.

O avô de Zé Queiroz, José dos Santos Queiroz (Cazuza), foi Prefeito de Itabaiana entre 1926/29. Seu Cazuza, um homem de posses, foi assassinado às pauladas, em frente a sua loja de tecidos, num sábado, as 10 horas da noite, no centro de Itabaiana.

Nessa trágica noite, a Orquestra “Almas Latinas Marimbas Mexicanas”, animava um baile na Associação Atlética. Esse crime brutal nunca foi esclarecido. As fundadas suspeitas circulam a boca miúda. Todos sabem, mas ninguém comenta publicamente.

Queiroz passou pelo Grupo Escolar Guilhermino Bezerra. Fez o curso ginasial na primeira turma do Murilo Braga, sendo o orador na festa de formatura. Serviu ao Exército Brasileiro no Tiro de Guerra, em Itabaiana. Ao lado de familiares, trabalhou no comércio, na loja do avô, herdada por sua mãe, na venda de tecidos e produtos para vestuário.

Queiroz é a encarnação da alma itabaianense. Competitivo, inteligente, irônico, prático, só entra numa disputa para vencer. Se quiser responder rapidamente, qual a natureza do itabaianense, pode dizer: do jeito de Zé Queiroz.

Zé Queiroz envolveu-se muito cedo com a vida social em Itabaiana. Participou, como tesoureiro, do Centro de Ação Social Católica de Itabaiana, na paróquia de Santo Antônio e Almas, onde participou ativamente da Construção da Maternidade São José e do Colégio Dom Bosco.

Foi funcionário do Banco do Brasil (1955), em Itabaiana, depois transferido para a capital sergipana, onde completou tempo de serviço para aposentadoria.

Outra grande contribuição de Zé Queiroz: em 13 de junho de 1978, criou a Rádio Princesa da Serra, a segunda do Interior sergipano. A emissora deu voz a Itabaiana. Levou a nossa versão, a nossa narrativa e os nossos valores. Antes, a Capital falava sozinha.

A importância da Rádio Princesa da Serra para o desenvolvimento de Itabaiana, precisa ser estudada.

Queiroz foi o distribuidor exclusivo, em Sergipe, da Editora Abril, empresa que tinha como produto de livros e revistas. Tendo sido premiado como destaque na área de vendas. Foi representante do Baú da Felicidade, empresa do Grupo Sílvio Santos.

Queiroz se meteu com cinemas, chegando a controlar 15 cinemas simultaneamente, incluindo Cine Rio Branco e Cine Palace em Aracaju, Trianon em São Cristóvão, São José em Itaporanga D’Ajuda, etc.

Iniciou as atividades com o Cinema Santo Antônio, em prédio de propriedade da Paróquia de Santo e Almas de Itabaiana, localizado na Praça João Pessoa, onde hoje funciona o Supermercado Nunes Peixoto.

Posteriormente adquiriu o Cinema Popular, de Zeca Mesquita, que após fechar as portas, passou a funcionar os estúdios da Rádio Princesa da Serra FM e AM. Em Aracaju, adquiriu o Cine Aracaju, e construiu o Cinema Plaza, com 1.250 lugares.

Na política, o neto de Cazuza Queiroz, foi eleito em 1986, Deputado Federal Constituinte, com maioria dos votos dos filhos de Itabaiana. Representou o Estado de Sergipe na elaboração da nossa Constituição, promulgada em 05 de outubro de 1988.

Queiroz participou ativamente da política municipal, chegando a ser eleito em 1996, vice-prefeito.

Pela atuação na Constituinte, como destaque, além de diversos projetos sociais, recebeu o Diploma “Palavra de Honra” concedido pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar – DIAP, em defesa dos interesses dos trabalhadores, e a “Medalha do Mérito Desportivo” concedido pelo Ministério da Educação, pela atuação em defesa do esporte.

Teve vida curta na política. A sua personalidade era incompatível com as virtudes políticas: conciliações, conchavos, composições, transigências, jeitinhos e fidelidade ao grupo. Sempre foi ele, depois ele, e, finalmente ele. Queiroz era a verdade.

Entretanto, a maior contribuição de Zé Queiroz para Itabaiana foi imaterial. O seu sucesso e a sua autoestima servem de exemplo. A alma itabaianense foi reforçada: gente empreendedora, esperta no comércio, independente e cheia de ironias e narrativas. E mais, o nosso bairrismo passou a fazer sentido, se aproximou da realidade.

O Itabaianense tem orgulho até das fragilidades. Como diz Fernando Pessoa: “o rio da minha Aldeia, (jacarecica) é maior que o Tejo.”

Zé Queiroz foi um intransigente. Nunca tergiversou. Nunca cedeu, com ou sem razão. “Nunca deu o braço a torcer”! Mesmo assim, foi um vitorioso. O verso de Gonzaguinha: “vence na vida quem diz sim”, não orientou Queiroz.

Ele venceu, dizendo “NÃO”.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura.

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