A NATUREZA RESISTE

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Algo que mudou a cabeça do europeu depois das aventuras portugueses do último quartel do século XV, foi a sua descoberta de que o mundo não se resumia a seu umbigo, e mais algumas lendas orientais: existia uma África inteira, bem diferente das franjas conhecidas do Mediterrâneo; e algo completamente incógnito até então: a América e a Oceania. E seus milhões de espécies diferentes das relativamente muito poucas da Europa.
Os iluministas holandeses ficavam fascinados. Abestalhados com tanta riqueza.
Quando Nassau resolveu provar que o modelo que representava era muito superior ao pós-medieval da Espanha imperial, obscurantista, fundamentalista até a medula, e trouxe inúmeros artistas e estudiosos na sua equipe, eles não perderam tempo.
A Holanda fervia. Amsterdã era um caldeirão borbulhante. A primeira bolsa de valores, e o primeiro “crash”. Com lucros, retorno de saques milionários, discussões filosóficas e artes. Muita arte.
E é nesse clima que o alemão Johannes Mauritius Von Nassau-Siegen, contratado pelos holandeses, embarca para dois meses e meio sacolejando nas ondas do Atlântico com sua numerosa equipe de naturalistas, botânicos, o que veio a ser depois geólogos, matemáticos, astrônomos, e médicos, naturalmente, desenhistas, pintores e cartógrafos.
Em Sergipe, onde pouco estiveram, produziram uma obra de arte, em modo mapa, naturalmente ilustrada por bela guirlanda de frutos da terra, e três das espécies animais que mais os despertaram: A anta (tapir, em tupi); a capivara e a jaguar tupi ou onça pintada.

Mapa: Prefeitura de Sergipe, em Sergipe d’El-rei, com Itabaiana.
In BAERLE, Carpar, Rerum per Octennia in Brasilia. Amsterdã, 1646

“Hei, estão voltando as flores”.

Ou é percepção falha minha, ou, realmente, uma onda de resistência vem ocorrendo acerca do mundo animal selvagem. Capivaras, jacarés, jaguatiricas estão sendo vistas cada vez mais em Itabaiana. Há anos, preservo uma antena comum de TV, que serve todas as manhãs de pouso a barulhentos bem-te-vis. Por ela também já vi os indefectíveis pardais, cabeças-vermelha, lavandeira e outros, durante o dia; à noite é ponto de apoio na caça às corujas, que acabaram com o estoque de morcegos que habitavam a região.
Carcarás, nem se fala. Onde houver um trator capinando, ou mesmo um trabalhador com enxada à mão, lá vai estar, ao menos um atrás de merenda. Seja uma cobrinha, uma minhoca. Qualquer coisa serve de petisco. Arredios à cidade, eles abrem exceções, quando se trata da periferia.
Lendo há pouco uma matéria de jornal carioca, o mesmo dando conta que as antas, supostamente extintas do estado do Rio de Janeiro, há um século, como que magicamente, reapareceram.
Aqui, em Itabaiana, não há documentos que o afirme; nem também o negue, porém é possível que antas tenham desaparecido daqui ainda no século XVII, derrotadas pela concorrência de vacas, bois e bezerros, no grande curral em que se tornou Itabaiana, dentro e fora das serras. Assim como as onças de maior porte, abatidas em nome da economia. Na esteira, depois também vieram a jaguatirica e o gato do mato.
Que agora, teimosamente estão voltando. Ainda bem.

Registro do cotidiano rural nordestino de 1640, por Frans Post

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