Controles de gastos públicos influem na manutenção do Real como moeda forte

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Discussões sobre o controle dos gastos e o preço da cotação do dólar marcaram as comemorações dos 30 anos do Plano Real; para o economista Rodrigo Rocha, a moeda brasileira mantém “relativa força na economia mundial”

As recentes turbulências enfrentadas na cotação do real frente ao dólar, que chegou a bater a casa dos R$ 5,70 após uma série de críticas relacionadas a manutenção da taxa de juros do Banco Central, ofuscaram parcialmente as comemorações pelos 30 anos da entrada em vigor do Real como moeda oficial do Brasil. Ao nascer, em 1º de julho de 1994, ele chegou a valer mais que a moeda americana em alguns períodos, com a cotação abaixo dos R$ 0,90, mas desde janeiro de 1999, após uma série de ataques especulativos resultantes das crises globais dos Tigres Asiáticos (1997) e da Rússia (1998), o câmbio passou a ser flutuante, variando de acordo com o comportamento do mercado. 

O pano-de-fundo da crise atual, protagonizada pela divergência pública entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do BC, Roberto Campos Neto, está justamente no controle de gastos da dívida pública, que vem sendo exigida pelo mercado e influencia não apenas no preço do dólar, mas também o possível crescimento da inflação, o que justificou a recente decisão da autoridade monetária pela manutenção da taxa de juros em 10,5%. A situação se acalmou na última quarta, 3, quando o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciaram um corte de R$ 25 bilhões em despesas, fazendo o dólar cair para R$ 5,56. 

Este controle de gastos já foi adotado em outros momentos e por outros governos ao longo dos 30 anos de Plano Real, o que é apontado como um dos fatores que mais ajudaram a manter a estabilidade e a eficácia da moeda brasileira no controle da inflação. “O equilíbrio das contas públicas é um fator importantíssimo, pois possibilita a atração de mais investimentos e o controle do câmbio, evitando a disparada de preços por conta de possíveis aumentos do dólar. Apesar dos momentos mais difíceis que qualquer economia enfrenta, o Real tem conseguido resistir e manter relativa força na economia mundial”, avalia o economista e professor Rodrigo Rocha, dos cursos de Administração, Ciências Contábeis e pós-graduação Lato Sensu da Universidade Tiradentes (Unit). 

O grande objetivo do Plano Real também foi alcançado e consolidado: acabar com uma hiperinflação que se arrastava desde a década de 1970 e se agravou muito até 1993, quando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial da inflação, bateu a impressionante marca de 2.400% em apenas um ano. De 1994 até 2024, segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação acumulada foi de 708%. “Basta comparar a inflação de 1993, que chegou a 2.500%, e as taxas dos últimos anos que não chegam a 10% (com exceção de alguns momentos específicos, como durante a pandemia)”, resume Rodrigo. 

Como surgiu

O Plano Real começou a ser gestado em agosto de 1993, quando a equipe do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, anunciou trazia um longo cronograma de transição e de intensos ajustes estruturais na política econômica do governo e do país, com cortes de gastos, revisão de orçamentos, desvinculação de receitas e privatização de empresas estatais. Antes, entre 1986 e 1991, o país tinha passado por outros seis planos econômicos frustrados, que tentavam diminuir a inflação através do controle oficial de preços, o que envolveu até mesmo quatro trocas de moedas com o corte de zeros (cruzado, cruzado novo, cruzeiro e cruzeiro real) 

Para o professor da Unit, o grande desafio do então governo Itamar Franco para conter uma inflação historicamente elevada foi controlar as expectativas do mercado e da sociedade como um todo, que ainda tinha desconfianças e receios quanto ao sucesso (ou fracasso) do Plano Real. “Por isso, foi necessário construir uma estratégia com o máximo de transparência e fazer um ajuste fiscal, que demonstrasse que não se faria o que muitos chamavam de ‘travessuras fiscais’, ou seja, desequilíbrios graves nas contas públicas”, lembra.

Com a conclusão das primeiras medidas e a aprovação de leis pelo Congresso Nacional, o governo criou a URV (Unidade Real de Valor), um índice que convertia os preços de todos os produtos e serviços em cruzeiro real para o equivalente à futura moeda. Assim, 1 URV passou a valer 647,50 cruzeiros reais em 1º de março de 1994, valor que foi aumentando até chegar aos 2.750 cruzeiros reais de 1º de julho, que passaram a ser R$ 1. “A estratégia de fazer a substituição gradual do Cruzeiro deu certo, pois possibilitou uma transição gradual, finalizando com a efetiva implantação do Plano Real. Ele desvinculou os salários e a inflação, combatendo gradualmente os aumentos dos preços e usando o dólar como referência”, explica Rocha.

Fonte: Asscom Unit, com informações da Agência Brasil

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