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Itabaiana – 350 anos. Tinda e os Pretos do Tabuleiro dos Caboclos. (por Antonio Samarone).

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Em Itabaiana, o “football” nasceu no Tabuleiro dos Caboclos (atual Bairro São Cristóvão) e foi praticado majoritariamente pelos Pretos. Até a chegada deles, vindos do Quilombo Barro Preto, no pé da Serra, vizinho ao Bom Jardim, o Tabuleiro era dos Caboclos (índios miscigenados).

Os Pretos eram ceramistas: faziam potes, panelas e porões. Outros, pataqueiros ou sapateiros. Nas horas vagas, jogavam futebol. Os primeiros, que se destacaram no futebol, foram: Coringa, sobrinho de Divo Preto, que foi jogar na Bahia e Lima de Mané Padeiro, que brilhou no gol do Confiança.

O futebol era jogado pelos Pretos.

Tinda (foto), José Nivaldo dos Santos, era um meia-esquerda rápido e inteligente. Filho de Raimundo Preto, o zelador do antigo Etelvino Mendonça, e Dona Zefinha. O Tabuleiro dos Caboclos era uma comunidade muito pobre.

A única família que possuía um rádio era a de Mané Padeiro, berço de vários jogadores de futebol: além de Lima, citado acima, Lafayete, Beto, Nado e Manoelito. O grande zagueiro Zé de Chico, do Itabaiana, é casado com uma filha de Mané Padeiro.

Quando Tinda nasceu (08/02/1952), o pai trabalhava num órgão de fomento agrícola (Fazenda Grande), e tomou como padrinho para o filho, o Dr. Cansanção, engenheiro-agrônomo e chefe da repartição.

O Dr. Cansanção deu ao novo afilhado, Tinda, uma cabra parida. Garantiu o leite da criança, por um bom tempo. Tinda é de uma família de 13 irmãos, não frequentou a escola. Aprendeu a arte de sapateiro. Ainda fabrica sandálias de couro, para completar a renda da aposentadoria.

No Tabuleiro dos Caboclos, os Pretos eram quase todos parentes. Seu Raimundo, o pai de Tinda, era irmão de Divo, um preto de porte atlético, zagueiro do Itabaiana; irmão de Seu Deca, pai de Zé de Vitinha, ponta esquerda de rara habilidade; de Dona Preta, mãe de Nado Preto e Tica, dois craques; de Tonho de Zeferino e de Seu Rufino, um pataqueiro que limpava mil covas por dia.

Outros Pretos se destacaram no futebol itabaianense: Tonho e Zé de Preta, filho do finado João Babão; Cosme e Damião, gêmeos, filhos de João Barraca, Augusto e Elisio, filhos do bodegueiro Zé Mapinguim; Turinha, sobrinho de Osano, Pai de Santo. Sem contar os Pretos importados de Maruim: Pierrô, Bonito e Seu Jorge (goleiro).

Os pretos também se destacaram na música. O maestro Antonio Silva foi uma grande estrela. Maestro da Filarmônica e compositor. Pai do Professor Airton (Órion), de Nilo Base, alfaiate e jogador de futebol, e de Seu Bebé dos Passarinhos.

Sobre Nilo Base no futebol, Antonio de Dóci deu uma definição inusitada: “Nilo corria bem, chutava forte, cabeceava com força, sabia driblar, mas não era um bom jogador.” Como assim, eu perguntei. Seu Antonio foi sucinto: “Ele fazia tudo isso na hora errada.”

Hoje, o Bairro São Cristóvão não tem mais nem paneleiros, nem jogadores de futebol. A última artesã do barro é Nega, que mora no Povoado Cajueiro, onde mantém um Terreiro de Umbanda.

Acho que essa visão que em Itabaiana não tem Pretos é falsa. Todos citados acima, com quem convivi, são Pretos, ou quase Pretos, como diz Caetano Veloso. Foram eles que praticavam o futebol e faziam panelas em Itabaiana.

Observação: esqueci de muitos Pretos. Eu fiz dupla de ataque no Cantagalo, com Tinda (foto). Ele um craque, eu esforçado.

Antonio Samarone. Secretário de Cultura de Itabaiana.

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