ITABAIANA – 350 ANOS. MOZART FONSECA DE OLIVEIRA

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Itabaiana, 350 anos – Mozart Fonseca de Oliveira (96 anos).
Por Antonio Samarone.

Itabaiana viveu um período de turbulência política na década de 1960. A cidade dividia-se apaixonada entre o PSD de Manoel Teles e a UDN de Euclides Paes Mendonça. Uma disputa pelo controle do comércio. Um coronelismo urbano.

Economicamente, Itabaiana crescia, apesar da política, transitando de uma economia agrícola para a uma economia mercantil.

A chegada da BR – 235 fomentou a criação de um polo de transporte. Surgia os caminhoneiros, com a sua rede produtiva: oficinas, autopeças, fábricas de carrocerias, provendo uma revolução na economia.

O crescimento do comércio levou a uma disputa pelo seu controle e transferiu a concorrência para a política.

A disputa política caminhou para um vale tudo, para a violência desmedida, culminando com o assassinato dos dois chefes: (Euclides em 1963 e Manoel Teles em 1967). A cidade viveu uma longa noite de pessimismo político, na contramão da explosão econômica.

A cidade estava profundamente dividida. Um simples exemplo:

Em 19 de dezembro de 1965, ocorreu em Itabaiana uma grande marcha para a construção de uma nova igreja. O Padre Arthur Moura Pereira, próximo ao PSD, organizou uma caravana de caminhoneiros, voluntariamente, para buscar pedras no povoado Bom Jardim.

Foi o fim das seculares cercas de pedras do povoado.

Eu tinha 11 anos, mas ajudei a carregar essas pedras para a igreja. As pedras foram despejadas no Campo Grande, próximo ao antigo Tanque de Santa Cruz, onde ocorriam as festas de Natal, e hoje funciona a Praça de Eventos.

Não sei o destino dessas pedras, nem as razões da igreja não ter sido construídas. O que impediu? Não foi por falta de pedras! A cidade, nessa época, não se unia nem para construir uma igreja.

No cenário nacional, a ditadura de 1964 se consolidava, eliminou os Partidos Políticos e criou a ARENA.

Os grupos locais, adversários políticos, que entrassem em acordo. Em Itabaiana, a UDN de Euclides virou a ARENA I e o PSD de Manoel Teles, ARENA II.

Nas eleições municipais de 1966, a ARENA I indicou o candidato a Prefeito, Vicente de Belo, e o vice, Derivaldo Correia, foi indicado pela ARENA II.

Em 1970, como contrapartida de 1966, era a vez da ARENA II (PSD) indicar o candidato a Prefeito e a ARENA I (UDN), o vice. E assim foi feito: Seu Mozart (PSD), para Prefeito e José Elson (UDN) para vice. Todos concordaram, a eleição caminhava para a vitória.

Faltando 8 dias para o pleito, o novo chefe da UDN, Chico de Miguel, herdeiro de Euclides, rompeu o acordo e decidiu apoiar o candidato do MDB, Filadelfo Araújo, um alfaiate ilustre, sem peso eleitoral. Resultado, vitória improvável do MDB.

Até o vice da chapa da ARENA, José Elson, votou em seu Filadelfo.
Chico de Miguel consolidou a sua liderança.

Existia o MDB, para uma minoria que resistisse a ditadura.

Foi necessária essa introdução, para o entendimento do papel de Seu Mozart, na vida itabaianense. Um homem pacífico, voltado para a conciliação.

Mozart Fonseca de Oliveira foi vanguarda nesse processo de reunificação da sociedade, em Itabaiana. Sem ele, o fim da cisão social teria sido mais demorada.

O crescimento econômico de Itabaiana continuava, só que a nebulosa cinzenta da política não ajudava. A política repetia os vícios do coronelismo.

Foi nesse momento de crise, que Mozart Fonseca de Oliveira, Pedro Garcia Moreno e José Queiroz da Costa investiram no Futebol.

Procuraram uma saída para reunificar a cidade, alimentar a autoestima e construir uma narrativa de grandeza. O futebol propagou a importância de nova Itabaiana.

O primeiro campeonato, ocorreu cedo, em 1969.

Depois veio o Penta campeonato! Zé Queiroz é o patrono, imprescindível. Entretanto, o papel de Seu Mozart foi fundamental, ele foi o eterno presidente do Tremendão da Serra. Exatamente ele, um homem de paz, voltado para a conciliação.

A Associação Olímpica de Itabaiana não é apenas um time de futebol, é a cidade de chuteiras. A letra do hino, autoria do professor e poeta Alberto Carvalho, deixa claro num verso: “Somos Itabaiana, cidade, celeiro…”.

Foi o futebol que mais divulgou imagem de grandeza da cidade. Aliás, divulga até hoje.

Nesse tempo de dificuldades, Seu Mozart se disse presente. Em 1968, fez parte do grupo que investiu no futebol. Repaginou a Associação Olímpica. Transformou Itabaiana, na Capital sergipana do futebol.

Em 1978, a criação da rádio Princesa Serra ajudou a consolidar o crescimento de Itabaiana, sobretudo, em seu aspecto simbólico. A fama de Itabaiana Grande se espalhou.

Novamente a contribuição de Seu Mozart foi importante. Com a chegada da rádio, ele montou um programa cultural aos domingos, “Revista Dominical”, uma enciclopédia cultural do rádio. O programa continua no ar, com uma boa audiência.

Mozart Fonseca de Oliveira, nasceu em Itabaiana, na rua do fundo da igreja, a 19 de junho de 1928. Filho de Antonio Agostinho de Oliveira, dentista prático e promotor da cidade, e Dona Lucila Fonseca de Oliveira, de Capela.

O pai, Antonio Agostinho, era irmão do General João Perreira.

Seu Mozart cresceu com todos os meninos daquele tempo. Jogando bola na rua, banho nos tanques e participando dos folguedos e traquinagens.

Conta-se que da primeira vez que ele viu um picolé, ficou encantado. Entregou para a empregada, Maria Cajueiro, guardar. Na volta, ele não se conformou, o picolé tinha desaparecido, descongelou. Ele achou que Maria Cajueiro tinha chupado.

Maria Cajueiro, era empregada na Pensão de Dona Antonieta, a mãe de Zé Bezerra e Dona Didi. Funcionava onde depois foi a casa paroquial e, em seguida, a sede da Associação Olímpica de Itabaiana. Depois eu falo das pensões.

Mozart era um “center forward” habilidoso, mas lento. Foi um artilheiro.

Na conversa, ele me esclareceu que o Fluminense chegou a Itabaiana pelas mãos do Promotor Severiano Cardoso, que criou um time com mesmo nome. Seu Mozart jogou nesse fluminense, quando começou a torcer.

Na mesma época, o mestre Paulo sapateiro criou o Flamengo. Ou seja, já houve o Fla-Flu de Itabaiana, confirmando a tese que de tudo o que existe no mundo, em Itabaiana tem pelo menos dois.

Seu Mozart fez as primeiras letras com as professoras: Dona Glorinha, esposa de Firmino Almeida; Miriam Barbosa, irmã do Padre Eraldo e com o professor José Fortunato Pinto, diretor do Murilo Braga.

Depois seguiu para Aracaju, onde estudou nos Colégios Salesiano e Tobias Barreto, e na Escola de Comércio, da Praça Camerino.

Mozart passou pelo Serviço Público, pela Receita e Federal e polo Serviço de Correios e Telégrafo. Retornou à Itabaiana, onde montou a Padaria Senhor do Bomfim, vendendo-a depois a Heleno da Padaria. Aproveitando o crescimento do número de caminhões na cidade, montou um comércio de autopeças.

Seu Mozart casou em 19 de março de 1957, com Maria de Lourdes Santos, filha de José de Germano e Dona Maria das Virgens. Uma mulher elegante e de inteligência ágil. Fina! Educada em Colégio de Freiras. Foi interna no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, em Aracaju, entre 1948 e 1951.

Tiveram três filhos: Mozart Augusto, Carlos Augusto e Germano.
Dona Lourdes foi a minha inesquecível professora de desenho, no tradicional Colégio Murilo Braga.

Mozart Fonseca de Oliveira foi um pacificador. Sem ele na presidência, a Associação Olímpica de Itabaiana não se tornaria uma ponte de união da sociedade. Zé Queiroz foi decisivo para o enfrentamento dos vícios de um futebol de cartas marcadas. Sem ele, não teríamos as conquistas.

Por outro lado, sem Mozart Fonseca, não teríamos a união de todos os itabaianenses sob a bandeira tricolor. Sem o seu equilíbrio, tranquilidade e inteligencia, o seu amor pelo futebol serrano, os caminhos seriam mais difíceis.

Ao seu modo, Mozart Fonseca de Oliveira, foi um experiente engenheiro, na construção da grandeza atual de Itabaiana. Sem aparecer, longe dos holofotes da fama, Mozart cumpriu a sua missão.

Ao final, Dona Lourdes me confirmou uma lenda: Lampião rondava, rondava, mas nunca entrou em Itabaiana. Por quê? O chefe politico, Dorinha, contava que foi a sua valentia que barrou Lampião. Sabemos que é gabolice.

A verdade foi revelada por Dona Lourdes. Quando o bando de Lampião apontou na entrada de Itabaiana, encontrou um Franciscano, com uma criança no braço e uma batina amarronzada.

O frade balançou negativamente o cordão que circundava o hábito pela cintura. Pode voltar! Lampião, aqui você não entra.

Quem era esse Frade corajoso? Mamãe tinha certeza que o frade era Santo Antonio. Ontem, dona Lourdes, esposa de Seu Mozart, me confirmou.

Viva Santo Antonio!

Antonio Samarone – médico sanitarista.

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