Concursos e festivais fortalecem e incentivam quadrilhas juninas sergipanas 

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Eventos locais e regionais contribuem para o surgimento dos grupos tradicionais, que encantam o público e se tornam um elemento de destaque das festas juninas do nosso estado

Um dos maiores símbolos da tradição das festas juninas no Nordeste brasileiro é a quadrilha junina, que reúne uma grande variedade de músicas, danças e histórias contadas em pouco menos de uma hora, ao som do xote, do xaxado, do baião e do forró. Esta manifestação é preservada por centenas de grupos em toda a região, que se preparam durante todo o ano para se apresentar em grandes eventos de São João e disputar festivais e concursos promovidos nos estados nordestinos – ou até mesmo fora deles. E por onde passam, impressionam e encantam o público com a grandiosidade artística demonstrada na beleza e no luxo de seus adereços, na musicalidade e vibração de seus componentes, expressada a simplicidade de seus gestos e elementos.   

Sergipe tem grandes quadrilhas juninas na capital e no interior, que se destacam por suas classificações, apresentações e prêmios conquistados em concursos regionais e nacionais. Entre as principais, se destacam a Século XX, Unidos em Asa Branca, Meu Sertão, Pisa na Brasa, Pioneiros da Roça, Cangaceiros da Boa, Xodó da Vila, Rala-Rala, Assum Preto, Retirantes do Sertão e Balança Mais Não Cai. 

“As quadrilhas juninas em Sergipe são elementos de destaque quando o assunto são as manifestações culturais relacionadas ao período junino. Em nosso estado, elas possuem lugar de destaque, chegando a atrair visitantes com o intuito de vivenciar as apresentações nos concursos e campeonatos que acontecem durante todo o mês junino em muitas cidades do Nordeste”, destaca o professor Rony Rei do Nascimento Silva, do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPED) da Universidade Tiradentes (Unit).  

Entre esses concursos e festivais locais e regionais estão o Arraiá do Arranca-Unha (no Centro de Criatividade) e o do Gonzagão, ambos promovidos pelo Governo do Estado; o Arrasta Pé (pela Liga de Quadrilhas Juninas de Sergipe), o Levanta Poeira (pela TV Sergipe), o Seu Menino (pelo Sesc) e outros promovidos por prefeituras no interior. Para Rony, a criação destes eventos ajudou a consolidar essa tradição, colaborando com a profissionalização e o aperfeiçoamento da qualidade artística destes grupos. 

“Os brincantes se caracterizam conforme o tema da dança; coreografia, os grupos são obrigados a executarem, no mínimo, quatro passos tradicionais nos concursos promovidos pelos órgãos públicos, os brincantes precisam ter um ótimo desempenho na dança, porque estão sendo avaliados e competindo com outros grupos; na música, é necessário que cada grupo apresente letra inédita e tema a ser desenvolvido durante a evolução da quadrilha, e no processo de organização social, os grupos de quadrilhas se tornaram empresas, possuindo Cadastro Nacional Pessoa Jurídica (CNPJ)”, explica o professor da Unit.  

Estas e outras mudanças em relação a alguns aspectos ajudaram a tornar as quadrilhas juninas nordestinas mais diferenciadas e sofisticadas, em relação ao modo como elas são dançadas no restante do país. Rony destaca a importância das famílias e, por sua vez, das direções das quadrilhas. “Eles são vistos como os responsáveis por manter a unidade do grupo frente às mudanças ocorridas ao longo dos anos no processo de reconfiguração das quadrilhas juninas. Ou seja, mesmo adaptando seus figurinos em função das demandas dos jovens, mudando sua estética, modernizando sua aparelhagem tecnológica e respeitando as orientações sexuais, se mantém a tradição”, afirma. 

Ao mesmo tempo em que cumprem a função de manter elementos tradicionais da cultura popular junina, as quadrilhas acabam incorporando outros elementos novos, como outros tipos de tecidos, ritmos e danças mais urbanas voltadas ao público jovem. Elas também incluem personagens ligados ao típico casamento junino (padre, beatas e noivos) e os alusivos ao cangaço (Lampião, Maria Bonita e cangaceiros armados), que se misturam aos enredos contados nas apresentações, em meio às danças e às músicas típicas. “A possibilidade de inovação e incorporação de elementos novos à manifestação se torna, às vezes, contraditória”, aponta o professor Rony, explicando que as quadrilhas, em geral, aceitam a inovação relacionada às questões de novas músicas, vestimenta e adereços, mas por outro lado criticam o uso de determinados tecidos, passos e instrumentos musicais que compunham cenários considerados fora do contexto. 

Como surgiram

A própria origem das quadrilhas juninas está fora do Brasil. Ela veio dos bailes da aristocracia europeia dos séculos 17 e 18, época em que os casais dançavam paramentados ao som de valsas, polcas e mazurcas. Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, a partir de 1808, estes bailes passaram a ocorrer nos palácios e logo foram reproduzidos ou imitados por pessoas de outras classes sociais, mas incorporando outros elementos mais presentes em comunidades rurais, como as roupas remendadas, as sanfonas, as violas e as marcações de dança. Além das músicas típicas de cada região, como o xote, xaxado, baião, rancheira e marchinhas juninas. 

Em seu livro Dicionário do Folclore Brasileiro, o escritor e folclorista potiguar Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) descreveu a quadrilha junina como “a grande dança palaciana do século XIX, protocolar, abrindo os bailes da corte, em qualquer país europeu ou americano, tornada preferida pela sociedade inteira, popularizada sem que perdesse o prestígio aristocrático, vivida, transformada pelo povo que lhe deu novas figuras e comandos inesperados, constituindo o verdadeiro baile em sua longa execução de cinco partes, gritadas pelo ‘marcante’, bisadas, aplaudidas, desde o palácio imperial aos sertões”.  

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