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ARCO DE CULTURA E FÉ

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O Auto da Paixão, começou como uma iniciativa para reviver um povoado estagnado; de onde todo mundo que podia – ou precisava – ir, ia embora: a minha velha Mangabeira, onde nasci e vivi até os cinco de idade, atual região sul, do atual município de Itabaiana.
Para ilustrar, em 1975, a SUCAM encontrou no povoado 195 residências, assim divididas: na Mangabeira de Baixo, entre o riacho do Chico José e o rio das Pedras, 22 unidades; na Mangabeira de Cima, onde se encontra desde 1950, a formação urbana, 138, dispersas em sítios; e 35 concentradas em torno da Praça, hoje denominada Alexandre Frutuoso Bispo, o fundador da mesma.
Aproximadamente 600 habitantes. Em 2005, no entanto, varredura do PCE-Programa de Combate à Esquistossomose, da Secretaria Municipal de Saúde de Itabaiana, e Ministério da Saúde, localizou 462 habitantes.
Insegurança; concentração de melhorias na cidade, e a natural busca por elas, completa o quadro de abandono da zona rural, não somente na Mangabeira; mas em todo o município, que passou de 84% da população municipal rural, em 1940, para 17%, em 1991, numa inversão completa.
Em 1990, segundo o anunciado durante o evento, na última quinta-feira, 18, veio a primeira apresentação. Amadorismo total.
Claro. É um espetáculo amador. Atores, diretores, contrarregras… somente sonoplastas e iluminadores, providencial ajuda do Poder Público municipal, são profissionais.
São pessoas, em esmagadora maioria, que passam o ano inteiro labutando em seus sítios, para ao fim da quaresma, mesmo com o veteranismo da maioria dos componentes, se prepararem para o grande dia. De fato, a grande noite.
O evento ganhou tal projeção natural que, fruto dos novos tempos, a Administração Municipal viu ali um motivo de mão dupla – benefício com contrapartida do reconhecimento – o que é natural; e em 2009 entrou no Orçamento da União, recursos para a construção do conjunto urbanístico, com anfiteatro, cujas obras se iniciaram em 2010. Todavia, a obra empacou; e só foi destravada pela administração municipal seguinte, que a concluiu, em 2014.
Porém, salvo raras exceções, são 35 anos de apresentação, todas as noites de Quinta-Feira Maior, como dito, com várias inclusões de novos artistas e defecções de outros, mas que em torno de 50% permanece desde o começo.
O espetáculo da última quinta, 17, manteve a linearidade própria de um drama, que está prestes a completar 2000 anos. Belo, muito bem executado; tradicional. E casa cheia. Como sempre.

Cena final: Cristo ascende aos céus na Man

Efeito Multiplicador

Malhada, ou malhador, como local de plantação é um termo antigo. Ao menos nos Açores já era praticada, antes mesmo do Descobrimento do Brasil por Portugal. Consistia numa área pré-determinada, em que se deixava o gado pernoitar por vários dias. Daí o nome malhada, pelo aspecto que adquiria após a saída do gado, e deixando, obviamente, coalhado de excrementos – fezes, e uratos da urina – vitais para fertilizar a terra para o plantio.
A Malhada Velha, após o riacho do Cipó (Çanguê em tupi), na franja sul das terras do primeiro itabaianense e sergipano de sangue europeu, Simão Dias, o francês ou mameluco – a Cova da Onça ou Jacaracica, hoje parte de Moita Bonita – certamente, guarda esses predicativos.
A efervescência cultural serrana, pós-BIENAL 2011; e o estímulo de um exemplo que deu certo – a Mangabeira – moradores do antiquíssimo povoado da Malhada Velha começaram também uma apresentação, que se manteve no mesmo formato, até o ano passado, e agora sofre uma radical transformação com a entrada da força da grana – e, ressalte-se, da boa vontade em bem aplicá-la – e o espetáculo acaba de mudar do tradicional, amador, na raça, para dar passos rápidos à profissionalização.
Ontem ocorreu a primeira apresentação em novo modelo. Eu não fui ver. Cansado de duas: a da Mangabeira, na quinta-feira, à noite; e a do Tabuleiro do Chico, da sexta-feira, às sete da manhã, minhas condições físicas de diabético me levam à contenção de qualquer arroubo. Ficou para o próximo ano. Mas já percebi os traços profissionalizantes, a partir da prévia cobertura da imprensa; e dos vídeos do tradicionalmente efêmero Instagram (belas imagens instantâneas, que quando se busca novamente, “já era”).

Cristo ascende aos céus, na última cena, no Tabuleiro do Chico.

Tradição quebrada.

Um dia tudo e todos morrem. É a lei da vida: nascer, crescer, se reproduzir e morrer; e a Apresentação “do Campo” (estádio Presidente Médici, renomeado para Etelvino Mendonça), haverá de parar um dia; porém, causou um certo vazio no peito a ausência das multidões acorrendo ao Estádio para o último ato da Sexta-Santa, em Itabaiana.
O evento, criado pelas franciscanas, Irmã Caridade e Irmã Luciana Quaresma, dando direção espiritual à JUC-Juventude Unida a Cristo, da Paróquia de Santo Antônio e Almas, e abraçado pelo pároco de então, Monsenhor Mário de Oliveira Reis, na Sexta-Santa de 1977, e por todos os demais que o sucederam, apenas em três ou quatro oportunidades, teve breve solução de continuidade.
Mas neste ano se integrou ao projeto Malhada Velha II, a nova fase, deixando de ser executado.
De certo modo, a paróquia, que crava 350 anos de fundada, no próximo 30 de outubro, uma data magna, se ressente do tamanho da responsabilidade e das transformações do tempo, com encolhimento no quadro de paroquianos, seja por divisão de área de abrangência, seja por influências outras.
A Paróquia, que foi criada há 350 anos atrás, com 3.500 quilômetros quadrados, do rio Cotinguiba ao Cansanção; do Sergipe ao Vaza-Barris, hoje se resume ao Centro da cidade: menos 1,8 km².
Atualmente, para realizar qualquer evento sofre as consequências com a exiguidade de obreiros. Até a instituição-mãe da cidade – a Irmandade das Almas – mais velha dez anos que a própria paróquia, teve de sofrer modificações no seu tradicional quadro de membros, tradicionalmente masculino, com o ingresso de mulheres para continuar a existir. Além de encolhimento natural, há cerca de cem anos deixou de trazer vantagens imediatas dela participar.
E assim, tomara que não, mas aquele esforço, daquela eletrizante geração de jovens, na qual me incluo, a fornecer mão-de-obra às sacras intenções das citadas irmãs missionárias, baldam-se aqui.

Irmã Caridade (in memorian), e Irmã Luciana Quaresma, criadoras junto à JUC da Paróquia de Santo Antônio e Almas, da Via-Sacra do Estádio, em 1977.

Todavia, o tradicional espírito religioso itabaianense, popularmente manifestado na Mangabeira por D. Maria Evangelista dos Santos e seu filho, Alexandre Frutuoso Bispo, com uma providencial mão de D. Zefinha de Gerino (Josefa da Cruz Santos, casada com Angelino Martins Santos), em 1949, e lá mesmo revigorado em 1990, com o Auto da Paixão, continua firme; e, o que é mais salutar: multiplicador.
O apoio oficial, especialmente do Poder Público do Município, através da Prefeitura e suas secretarias, sempre fará toda a diferença.

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