A tradição etnocentrica no ensino de História no Brasil.
A TRADIÇÃO ETNOCENTRICA NO ENSINO DE HISTÓRIA NO BRASIL
Por Carlos Braz
Colonizado por europeus, a construção da cosmovisão da sociedade brasileira ocorreu nos moldes por eles definidos, e estabeleceu-se através dos tempos, influindo de forma inconteste na elaboração dos currículos escolares, a partir da instituição do ensino de história no Colégio Pedro II, fundado em 1837, como parte do esforço civilizador implantado com a chegada da da Família Real, portuguesa ao Rio de Janeiro, que possibilitariam a governabilidade e o bem estar da corte.
Iniciado em 1838, já no I Império, o ensino de História utilizou práticas pedagógicas incipientes e polêmicas, já que tinham como base textos clássicos franceses.
Ao mesmo tempo em que surgiu o Colégio Pedro II foi criado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), com a finalidade de escrever a história oficial da nação em formação. Com clara inspiração eurocêntrica, seus membros tinham como tarefa estabelecer uma identidade nacional e elaborar registros sobre nossa geografia e população. Em uma perspectiva etnocêntrica, os não europeus eram considerados inferiores e naturalmente excluídos do processo civilizatório.
Os ilustres letrados do IHGB atuavam ainda como docentes do Colégio Pedro II, e imprimiram sua cosmovisão aos alunos em uma prática pedagógica conservadora, que tinha como base didática o uso da literatura clássica greco-romana e uma narrativa cronológica com ênfase nos grandes personagens da história dos povos, acontecimentos e datas importantes.
Oficializava-se assim a consolidação do ideal de superioridade das civilizações clássicas, privilegiando a cosmovisão prevalecente no meio social naquele momento, e influenciando a interpretação da história, através de uma narrativa de um passado único e homogêneo, sem atentar para os diferentes setores sociais e étnicos que compõem a sociedade brasileira.
Esse viés conservador da educação no Brasil fez com que a introdução da civilização e do progresso como conceitos essenciais no ensino de História fossem assumidos pela intelectualidade nacional somente nos primórdios do regime republicano.
A visão etnocêntrica do colonizador, reforçada a partir do IHGB, atravessou o século e adentrou aos primórdios republicanos alimentando desde meados de 1910 os ideais eugênicos, que procuravam razões científicas para justificar a hierarquia étnica.
Em meados da década de 30 e após a II Guerra Mundial as teorias de de supremacia racial foram duramente questionadas, ocasionando embates em politico-ideológico, com as minorias étnicas, reivindicando direitos e seu lugar na história nacional.
O regime militar abriu uma lacuna nesse processo, contudo, com a redemocratização do Brasil em 1984 e a promulgação da Constituição de 5 de outubro de 1988, vários avanços ocorreram no campo educacional, a partir das Leis de Diretrizes e Bases( LDB), e a abordagem da História Contemporânea passou por mudanças relevantes, entre elas a inclusão nos currículos de vários subtemas, como cidadania, direitos humanos, respeito a diversidade cultural e igualdade entre etnias produto de intenso debate político ideológico, em busca de uma de uma sociedade democrática, melhor e mais justa.
Entendemos que a cosmovisão excludente da sociedade brasileira, construída desde o período colonial, determinou valores, maneiras de agir e influenciou a formação das estruturas sociais, definindo por um longo período a narrativa dominante no ensino de História, que provocaram na contemporaneidade disputas no campo das ideologias e da política.
As tensões sociais resultantes desse processo tornam-se cada vez mais alarmantes, e o estudo da História no âmbito escolar, muito pode contribuir para um futuro onde as diferenças sejam compreendidas como naturais e o convivo salutar entre todos nos leve realmente à ordem social e ao progresso.
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