PROSTITUIÇÃO: UMA HISTÓRIA SEM FIM
Por Carlos Braz
Foto: Pixabay
PROSTIUIÇÃO: UMA HISTORIA SEM FIM
POR CARLOS BRAZ
Diz a sabedoria popular que a prostituição é a mais antiga das profissões. Há evidencias de sua prática desde tempos imemoriais nas mais antigas civilizações. Os relatos dos primeiros historiadores já abordam sua existência e suas finalidades. Na Bíblia Sagrada encontramos um registro a esse respeito. Maria Madalena é a meretriz salva por Jesus Cristo do apedrejamento, momento em que foi proferindo um questionamento que permanece válido até os dias de hoje: quem não tiver pecado que atire a primeira pedra.
Relatos antigos da sociedade grega e romana também evidenciam as relações sexuais em troca de alguma compensação, contudo, o conceito de prostituição baseia-se em valores culturais, sendo portanto abordada por várias perspectivas. Na Europa contemporânea, por exemplo, a legislação sobre o tema é diferenciada, de acordo com os costumes de cada país. Alguns são mais rígidos, outros mais liberais, mas sempre há algum tipo de regra quanto à sua prática. Enquanto as famosas vitrines de prostitutas atraem o turismo sexual em Amsterdã, em outras cidades existem regras mais severas que coíbem o comércio do sexo e pune severamente quem o exerce.
No Brasil a prostituição existe desde seus primórdios coloniais, o que é constatado pelos historiadores nacionais, que indicam sua aceitação sem muitos embaraços. Os códigos morais frágeis, fruto da colonização portuguesa permitiram a presença de “mulheres da vida fácil” em espaços públicos e privados, e algumas ficaram famosas pela sua convivência com grandes personagens da história.
Ao final do século XIX já se havia solidificado o sistema de codificação moral, difundido a partir da religião, que pregava as uniões monogâmicas, construída a partir de imagens da família e da mulher da classe dominante. Ao mesmo tempo, em surdina, a prostituição era considerada como mal necessário, justificado pelos padrões morais vigentes, tais como a virgindade, a monogamia e o patriarcado, que concediam ao homem uma liberdade sexual aceita socialmente, e que destinava um lugar específico para o que considerava a sexualidade insubmissa: o bordel.
Nesse contexto a prostituição tornou-se adequada para a iniciação sexual de adolescentes, bem como para permitir aos adultos realizar suas fantasias, fetiches e perversões que não podiam ser praticadas com as esposas, resguardadas apenas para a procriação e cuidados domésticos.
Nos grandes centros urbanos da época, Rio de Janeiro e São Paulo, além da existência do baixo meretrício, as zonas, frequentadas pelas classes sociais inferiores existia a prostituição de luxo, que acontecia em palacetes estruturados, onde se podia dançar beber, assistir espetáculos musicais e usar drogas ilícitas, espaços frequentados pela elite financeira e intelectual. Nas outras regiões do país menos favorecidas economicamente, também ocorria essa diferenciação de espaços, mas não com tanta opulência, quanto nas cidades acima citadas.
Obviamente essa atividade ocorria sem grandes interferências policiais, contudo, essa relativa liberdade ia de encontro aos protestos de setores tradicionais que zelavam pela proteção das famílias e dos bons costumes. Além disso, sempre estiveram presentes as imagens de perigo suscitadas pela prostituição feminina, tematizadas pelo discurso policial e jurídico, que associava a prostituição ao crime. Já os profissionais da saúde sempre alertavam para o risco de doenças transmissíveis sexualmente, enquanto outros setores oficiais debatiam a regulamentação da prostituição.
Ainda analisando o recorte temporal entre o fim do século XIX e as primeira metade do século XX, o submundo do sexo era regulados por códigos próprios, e gerava um ciclo econômico que sustentava uma rede de cabarés, bares, pensões, dancings, teatros e outros espaços congêneres, onde circulavam artistas, músicos, dançarinas, garçons motoristas, cafetões, prostitutas de diversas nacionalidades e clientes, constituindo uma efetiva rede de sociabilidades.
Na prática, nos dias de hoje, a prostituição é exercida de diversas formas em todos os lugares do Brasil. Encontramos aquelas profissionais do sexo que ficam à espera de clientes nas ruas, em locais movimentados, em contato direto com os clientes. Também existem ainda os pequenos bordéis, frequentado por pessoas de classes sociais inferiores, e o meretrício de luxo, onde agencias disponibilizam books com fotos das mulheres disponíveis e suas especialidades.
Com a chegada da internet e suas facilidade, o mercado do sexo também beneficiou-se e hoje movimenta uma quantia incalculável de recursos financeiros. Muitas não são mais escravas do cafetões e cafetinas. São donas da sua vontade, gerenciando a si mesmas, oferecendo seus serviços abertamente nas redes sociais. Não são mais chamadas de “puta”. São garotas de programa.
Minimizou-se aquele discurso de vitimização, de pervertida sexualmente, da insaciável e sedutora mulher fatal que ameaçava os núcleos familiares. Hoje as profissionais do sexo, em muitos casos, são pessoas de nível intelectual alto que se prostituem por achar que é a maneira mais fácil de ganhar dinheiro que as sustente. Possuem representatividade, e uma rede de instituições do terceiro setor que defendem seus interesses. Muitas são universitárias, possuem seus apartamentos onde moram e trabalham. Outras são donas de casa que sustentam a família com esses ganhos.
Como se vê, a prostituição está muito longe de acabar, o que justifica o título desse artigo. Ela acompanha o desenvolvimento das sociedades, adaptando-se aos novos tempos de maneira natural. É mesmo uma história sem fim.
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