MULHERES NEGRAS: O CABELO COMO RESISTENCIA E IDENTIDADE CULTURAL

Carlos Braz, 14 de Setembro, 2021 - Atualizado em 14 de Setembro, 2021

 

MULHERES NEGRAS: O CABELO COMO RESISTENCIA E IDENTIDADE CULTURAL 

Por Carlos Braz 

O Brasil é um país em que, segundo o ultimo censo do IBGE, mais de 50% da população se declara negra ou não branca. Contudo as manifestações de preconceito racial são constantes no nosso cotidiano, mesmo com a existência de leis que punem aqueles que insistem nessa prática nociva e irracional.

Ser negro no Brasil de hoje, decorridos tantos anos da abolição da escravatura, ainda é um problema, e a inserção social ainda é limitada por vários fatores, como despreparo profissional, nível escolar baixo, e, acima de tudo, a aparência.

Entre nós, o interesse pela questão racial geralmente é motivado por contextos históricos definidos. Grande parte da sociedade brasileira prefere não discutir sobre o tema, o que impede a percepção de que muitos dos conceitos atribuídos aos afrodescendentes são ambíguos e contraditórios, podendo ser interpretados de diferentes maneiras.

 Nesse contexto, a situação da mulher negra torna-se ainda mais complexa por inserir o quesito sexualidade. Desde os tempos coloniais a opressão do branco produziu uma geração marcada pela mestiçagem, e rotulou-as de possuidoras de um instinto animal que as transformavam em devassas e enfeitiçadora de homens brancos.

Sempre vistas como presas fáceis para a satisfação dos desejos carnais dos patrões, muito tiveram que lutar para merecer o mínimo de respeito, e ter a liberdade de copularem com quem desejassem. 

Na contemporaneidade com o ideal eurocêntrico republicano, essa massa escura e "mal vista" continuou em posição de inferioridade, cabendo-lhe somente a função de serviços domésticos e recorrendo de todas as formas para modificar seu cabelo “ruim” a fim de assemelhar-se à mulher branca. Foi o tempo do ferro quente, substituído nos dias de hoje por produtos de beleza industrializados, chapinhas e escovas.

A luta dos negros norte americanos por direitos civis foi, sem dúvida, o ponto de partida para as lutas anti-racismo, o empoderamento feminino e o reconhecimento de identidades. No Brasil, a Bahia através de suas manifestações culturais, acendeu a autoestima afrodescendente, resultando em desdobramentos positivos no âmbito social, politico, econômico e artístico, incentivando uma estética característica que se consolidou nacionalmente.

  Com o advento das mídias sociais e a possibilidade de disseminação da informação por atores plurais, a afirmação racial obviamente atingiu outro patamar. O incentivo à valorização da beleza negra através da libertação dos cabelos crespos é pauta cada vez mais frequente em blogs e páginas do Facebook, contribuindo efetivamente para o resgate da identidade e autoconhecimento de mulheres de todas as idades.

Hoje, contrariando os racistas de plantão, suas cabeleiras em diversos formatos e estilos, invadem os espaços televisivos e as mídias impressas, comprovando seus talentos e quebrando tabus que se estabeleceram através dos tempos.

Essa legião outrora invisível, através da ‘libertação do cabelo crespo desconstroi a imagem negativa e encontra na estética, não só capilar, um ato de resistência.

Não são poucas as meninas negras que décadas atrás não passaram por algum tipo de tentativa de esconder seu cabelo “ruim”, usando desde tranças presas umas nas outras a cabelos completamente amarrados e escondidos.  É neste momento que a criança entendia ser diferente, já que seu cabelo não podia ser solto, liberto. Estas experiências dentro de um grupo social proporcionaram traumas psicológicos carregados até a idade adulta.

Mesmo diante de um quadro delimitado pela condição social, e pela autonegação racial, a negritude feminina já consegue firmar-se socialmente a partir das suas características físicas e atributos intelectuais contudo ainda há um longo caminho a ser percorrido e a luta contra a discriminação tem que ser constante, mesmo que utópica.

 

 

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