A República brasileira e sua sina de “quarteladas”

Carlos Braz, 27 de Setembro, 2020 - Atualizado em 27 de Setembro, 2020

 

 

A República brasileira e sua sina de “quarteladas”. 

Por Carlos Braz 

É impossível entender o Brasil sem conhecer sua história.  A República brasileira, construída desde 1889 a partir de um golpe militar que derrubou o império comandado por D. Pedro II, não é apenas uma história da traição de ideais e de frustação com promessas de liberdade que não se cumpriram.  

Marechal Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto fundaram a república da espada, assim denominada pois somente militares ocuparam o cargo de presidente até 1894, e, desde então, as “quarteladas”, ou seja, a interferência militar no regime republicano tornaram-se cíclicas. República e liberdade são palavras que frequentemente se confundem, mas nem sempre se encontram na história efetiva das nações. Em nosso país, as intervenções militares sempre resultaram em ditaduras.

Após Floriano, o poder civil consolidou-se nos anos seguintes, em um período de refluxo das agitações nos quarteis. O “condomínio de fazendeiros” dominou a cena política nacional, contudo, o processo eleitoral não representava a efetivação da democracia. Era um jogo de cartas marcadas entre a elite política e latifundiária.

Esse contexto alimentou o movimento tenentista de 1922 que marca o retorno da caserna aos conflitos sócio/políticos do país, insubordinando-se contra o governo do presidente Epitácio Pessoa, que para concluir seu mandato precisou declarar estado de sítio e fazer uso de uma enorme força repressiva.

A derrota dos revoltosos demonstrou que sem o apoio da cúpula militar, o Estado-maior das forças armadas, as revoluções não progridem. O salvacionismo militar mostrou seus limites, pois só a coragem e o voluntarismo do seus integrantes não bastavam para mudar o Brasil. As sucessivas crises e revoltas posteriores ao tenentismo redundaram no golpe militar contra o governo de Washington Luís, orquestrado por Getúlio Vargas em 1930.

O Estado Novo, como denominou seu governo ditatorial, perdurou por 15 anos, até o seu suicídio em 24 de agosto de 1945, após ser deposto pelas mesmas forças militares que o apoiaram em seu apogeu.

Passou-se apenas uma década para que o ranço do militarismo que nos permeia historicamente mostrasse suas garras sempre afiadas e sedentas de poder. A revolução cívico-militar de 1964, alimentada nos bastidores pela guerra fria entre as duas potencias mundiais, EUA e URSS, nos levaram a vinte anos de um regime militar sem  limites repressivos, extrapolando em todos os sentidos o respeito à vida e aos direito humanos.

Dois expoentes dessa “página infeliz da nossa história”, os generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva, coadjuvados pelo monstro sagrado da nossa democracia, Ulysses Guimarães e seus companheiros de uma persistente oposição, conseguiram a retomada democrática da nação, sacramentada na constituição cidadão de 1988.     

Quando pensávamos que o estado democrático de direito estava consolidado em nosso país, após os dissabores dos anos de chumbo, eis que surge Jair Bolsonaro, ex-capitão expulso do exército por má conduta e parlamentar pelo Rio de Janeiro com sucessivos mandatos irrelevantes, marcados apenas por declarações estapafúrdias, que demonstravam claramente sua índole fascista e contrária aos valores do mundo contemporâneo.

Eleito, com um discurso anticorrupção e combate ao crime organizado, não tardou a trair os seus eleitores e a pregar uma ruptura constitucional que nos remete a um passado de supressão de direitos constitucionais e a truculência do Estado sobre seus cidadãos. Aliando-se ao que de mais sujo que existe na câmara federal, o grupo de parlamentares denominado centrão, formado por envolvidos em crimes protegidos pela imunidade parlamentar, a serpente choca seus ovos, em um ninho onde muitos esqueceram seus pijamas, saudosistas de um tempo de trevas que nos levou ao charco das nações.

 

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