O voto já foi sagrado. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 17 de Agosto, 2022 - Atualizado em 17 de Agosto, 2022

 

 

Pelo menos em sua origem, o voto era um pedido solene, uma promessa dos devotos aos deuses. O “ex-voto” é o pagamento de uma promessa. Se fazia votos de pobreza, de obediência e de castidade. “Faço votos que você se recupere dessa doença”, era um dito corrente.

Com as democracias, o voto passou a ser a vontade livre dos eleitores. O voto como mercadoria é recente.

Na contramão de muita gente, eu gosto da política, gosto de votar. Não estou falando da política enquanto filosofia, ciência, teoria, não, eu gosto da prática, sobretudo da política eleitoral. Estou com saudade dos comícios, uma velha tradição romana. “Zoada e empurrão eu só tolero em comícios”, dizia o finado Zeca Cego.

Em Roma, os “candidatus” se vestiam de branco. Uma referência ao cargo que iriam ocupar no Fórum Romano, onde usavam uma toga branca, devido a crença de que o branco era a cor da pureza e da probidade. Hoje quem usa branco são os médicos, barbeiros, pais de santo e o Papa Francisco.

Só somos iguais na vida em duas ocasiões: na morte e nas eleições. Da morte ninguém escapa e o voto tanto faz dos magnatas como dos miseráveis, têm o mesmo peso. Somos iguais apenas no voto secreto e unitário.

A igualdade perante a lei é uma utopia jurídica. Somos iguais apenas perante as urnas. Elegemos periodicamente essa fauna de políticos, por nossa conta. Os eleitos refletem a sociedade, nem mais, nem menos.

Se um espelho reflete uma imagem degradante, quebrá-lo não resolve, não altera a realidade.

Reconheço que mesmo atentos, podemos errar. Tem candidato que engana bem. Apresentam-se com um discurso de mudanças, que são diferentes, nem políticos são. Quando se elegem, são farinha do mesmo saco.

Outro ponto: a democracia representativa só garante o direito a eleição. Em caso de arrependimento, o direito a revogação do mandato não é o de eleitor.

Alexis de Tocqueville acreditava que a força da democracia americana estava na democracia direta. Agora, com as tecnologias de comunicação, a democracia direta precisa voltar a pauta.

Muita gente não gosta de eleições por sua natureza igualitária. O voto universal foi uma conquista. No Império o voto era censitário, só votava quem possuía renda elevada. Até 1937, as mulheres não tinham direito ao voto. Os votos dos analfabetos e dos maiores de 16 anos são recentes.

Bertolt Brecht condenou os analfabetos políticos. Os mais sofisticados são contra o voto obrigatório. O direito a omissão.

O Brasil precisa encontrar o seu caminho pela via democrática.

Somos a maior nação latina do mundo, herdeiros de Roma (língua, direito, religião). Herdeiros dos povos originários e dos povos africanos. Somos uma civilização híbrida, complexa e criativa. Como Darcy Ribeiro, acredito que o Brasil termina dando certo.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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