Os Médicos e as Pandemias no Brasil. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 23 de Abril, 2020 - Atualizado em 23 de Abril, 2020

 


É assustador o número de profissionais de saúde infectados e mortos pela Peste da Covid – 19. O fato está sendo naturalizado pelas autoridades. Como se fosse inerente ao exercício profissional se morrer em combate. Não é verdade! Os riscos podem e devem ser prevenidos. Estamos morrendo por falta de EPI adequados.

Não entendo o silencio. Não queremos heróis mortos!

Os médicos vieram ao Brasil com Pedro Álvares Cabral. Entre os principais componentes da Armada, estava o médico, cosmógrafo e astrólogo Mestre João.

A partir da terceira década do Século XVI chegaram os cirurgiões barbeiros e os boticários. Esses homens práticos que lancetavam, sangravam, sarjavam e partejavam.

A primeira epidemia de febre amarela no Brasil data do final de 1685, em Recife, onde morreram 600 pessoas em 15 dias, entre eles, o único médico da cidade.

O marques de Montebelo, Capitão General da Província de Pernambuco, determinou as seguintes providencias para enfrentar a Peste de Febre Amarela:

“A purificação dos ares e a limpeza das casas, ruas e praias. Depois de limpas, as casas serão perfumadas com ervas cheirosas, e borrifadas com vinagre.” (só faltou mandar lavar o calçadão da Treze)

Em 1687, o Rei de Portugal, Dom Pedro II, encaminhou para a Capitania de Pernambuco o Dr. João Ferreira da Rosa, formado em Coimbra, recebendo uma pensão de vinte mil reis e uma ajuda de custo de cinquenta mil reis, com a condição de permanecer na Colônia por seis anos.

Estudando a epidemia de febre amarela, o Dr. João Ferreira Rosa publicou o “Tratado Único da Constituição Pestilencial de Pernambuco”, onde a febre amarela foi caracterizada como “Febre pestilenta do gênero dos sínocos podres”.

Em 1691, o Dr. Ferreira Rosa iniciou uma campanha de profilaxia em Recife. Resolveu purificar o ar e determinou que se acendesse fogueiras defronte as casas, e alimentá-las com ervas cheirosas por 30 dias. Usavam-se murta, incenso, almecega, bálsamo, óleo de copaíba, aroeira e erva-cidreira.

Acredita-se que o costume das tradicionais fogueiras juninas no Nordeste, tiveram a sua origem nas medidas adotadas pela Saúde Pública no combate as epidemias.

Apagadas as fogueiras do Recife, a febre amarela só retornou com força em 1849, em Salvador, com a chegada do Navio Brazil, procedente de Nova Orleans, onde grassava a doença.
As divergência no campo da medicina são antigas.

O Presidente da Província da Bahia, Francisco Gonsalves Martins, solicitou o parecer do Conselho de Salubridade Pública, que concluiu pela inexistência de risco de uma epidemia (era uma gripezinha). De imediato, os pesquisadores da Escola Tropicalista Baiana, John Paterson e Otto Wucherer contestaram. Afirmaram tratar-se da temida febre amarela, e que a Peste já estava em andamento.

Em meados de 1849 a epidemia de febre amarela já grassava no Rio de Janeiro.

No tratamento da febre amarela só havia um preceito: não matar o doente. Não se sabia o que fazer... Os comerciantes reagiram as propostas de quarentena.

“A quarentena é um ônus pesadíssimo, obriga despesas extraordinárias, rasga o cálculo dos roteiros, leva a perturbação a todos os interesses, que gemem. Absolviam-se as mercadorias e condenavam-se os amarelentos.” Henrique Cukierman.

Sobre os médicos no Brasil Colônia, nos conta o historiador Lycurgo Santos:

No Brasil enriqueceram os mercadores, os comerciantes, os agricultores e criadores, os traficantes de escravos. Prosperaram, afidalgaram-se e tronaram-se os “Principais”, os homens bons da Governança. O mesmo não sucedeu aos Profissionais da Medicina. Humildes vieram e assim continuaram. Chegaram pobres e tornaram-se remediados.

“Nos primórdios do povoamento, os médicos vestiam-se como o povo: ceroula, camisa e tamanco. Ceroulas de cacheira ou de algodão tinto, com a bainha arregaçada. Camisa de algodão. Um rosário pendente no pescoço, para atestar a devoção.

No momento, os médicos, e todos os profissionais de saúde, estão combatendo a Peste de Covid – 19 sem a devida proteção (EPI). O número de profissionais contaminados e dos que morrem está sendo muito elevado. Os dados são imprecisos e dispersos. Acompanho pela Imprensa.

Procurei nos Portais do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Médica Brasileira (AMB) informações sobre os óbitos dos médicos devido a Peste, e não encontrei nada. O CFM pede que se estabeleça regras para a remuneração dos médicos infectados. Um horror, a monetarização de um risco que pode e deve ser evitado.

Para a minha surpresa, nos Portais das duas entidades médicas estão estampadas Notas de Apoio Político ao novo Ministro Nelson Teich.

E um Silencio sombrio sobre as mortes!

Antonio Samarone.

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