O Último Desejo. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 15 de Julho, 2020

Só o moribundo sabe o tempo que lhe resta. A morte avisa!

Liguei para saber de Cristóvão (Frei Kiko). Ele está com diarreia, perda de apetite, anosmia, disgeusia, febre e cefaleia há três dias. PCR positivo, e uma profunda aflição. Começou a faltar o fôlego. Como esta Peste vai evoluir?

Me coloquei à disposição dele, mas só me fez um pedido:

"Não quero a vala comum. Não me sepultem coletivamente! Quero todos os rituais, as velas, os prantos, os discursos e as despedidas. Quero grinaldas. Quero que vocês cantem “noites traiçoeiras”, na hora da descida."

Frei Kiko foi seminarista em Carpina, Pernambuco, mas fugiu. Desistiu de ser padre!

"Não quero ser cremado. Tenho medo de que na hora, o forno não aqueça o suficiente e sobrem pedaços, apenas tostados. Além disso, não o sei que fazer com o pó, as cinzas. Quem vai querer guardá-las?

"Quero um epitáfio em latim: hic requiescit, contra a sua vontade, Cristóvão de Moura Barros."

"Os anacoretas egípcios pediam que os seus corpos fossem abandonados sem sepultura e expostos a voracidade dos cães e lobos."

"Eu exijo no mínimo os sete palmos. Queria ser enterrado no Cemitério do Rumo, onde ainda existem catacumbas. Um cemitério com trezentos anos, onde Conselheiro rezou uma missão de três dias.""

Se acredita que lá, no Rumo, foi cavada uma vala comum, com cinco metros de fundura, onde foram sepultadas 500 vítimas da Peste Asiática, de 1855. Ezequiel Devoto já cavou para saber a verdade, mas desistiu, quando encontrou as dez primeiras caveiras, com a dentadura completa.

"Queria ser um elo com a Peste fundadora de Aracaju, a cólera de 1855.

Se nada disso me for permitido, eu quero uma “live” de despedida, com todos os amigos. Não quero morrer na solidão do leito hospitalar. Quero morrer em público, mesmo que seja virtualmente. Se a “velha senhora” me escolheu, aceito a fatalidade."

"Quero a missa de sétimo dia pelas redes sociais, transmitida ao vivo pelo YouTube."

"Eu tinha medo do Purgatório, mas, em boa hora, o Papa Francisco acabou. Ou Céu ou inferno! Achava o povo do purgatório falso, dissimulado, fingiam-se de santo para reduzir a pena. A deleção premiada foi inventada no Purgatório."

"Não deixo quase nada. O que for meu, entreguem a Neguinho da Vila do Queijo, ele sabe por que é o meu único herdeiro. Sem muitas explicações!"

Que vous êtes pressante. O déesse cruelle! – La Fontaine.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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