A Prefeitura de Aracaju e a Peste. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 23 de Julho, 2020

A assombrosa incidência da Peste em Aracaju é uma prova definitiva da omissão da Prefeitura.

A inexistência de uma política municipal de combate à epidemia é um insulto a sociedade. Nenhuma medida efetiva de Saúde Pública de prevenção foi tomada. Faltam ações de vigilância, rastreamento, busca ativa, bloqueio, isolamento dos casos, monitoramento dos infectantes, testagem em massa, desinfecção ambiental e educação sanitária.

Aracaju conduz a Peste politicamente.

Falta uma coordenação técnica autônoma. Aracaju é um Paraíso para o vírus. O Prefeito centraliza o comando, numa estratégia clara de fortalecimento da imagem. Politicagem pura, da venenosa!

Até hoje, tivemos em Aracaju, 25.000 casos confirmados, numa incidência estratosférica de 3.819,0 casos/cem habitantes. Chegamos a 485 óbitos em Aracaju, com uma taxa de mortalidade de 73,8/cem mil habitantes.

Dos 48 mil casos notificados em Sergipe, Aracaju é responsável por 25 mil. Aracaju se tornou o centro distribuidor da Peste para o Estado. O grande caldeirão da morte.

Aracaju foi a única capital do país que não ofertou leitos de UTIs, para minimizar o sofrimento da população. Pelo contrário, fez marketing com um duvidoso hospital para casos leves.

Em Salvador, uma cidade socialmente mais desigual que Aracaju, os dados lá são distintos. A incidência é 1.643,1 casos/cem mil habitantes e a taxa de mortalidade de 55,0/cem mil habitantes.

O vírus é o mesmo, a densidade demográfica, a proporção de idosos e as desigualdade sociais são maiores em Salvador. O que explica a maior gravidade da Peste em Aracaju?

Eu respondo: a ausência de uma política de combate a Pandemia no Município de Aracaju.

Aracaju promove ações erráticas, descontinuas, movidas pelo marketing. Por exemplo: a prefeitura mantém uma equipe de profissionais medindo a temperatura dos passageiros que desembarcam no Aeroporto. Qual é justificativa dessa ação, o virus já está disseminado?

Essa semana, a prefeitura mandou lavar um cemitério, com grande cobertura televisiva. São ações cosméticas, um jogo ilusionista, para vender a imagem que não estão omisso.

A prefeitura desmontou os serviços de Saúde Pública, abandonou o valioso trabalho preventivo dos Agentes Comunitários de Saúde e dos Agentes de Endemia. Um exército bem treinado, que conhece as veredas do Aracaju. Ainda vamos precisar muito deles, na pós Pandemia.

A gestão atual de Aracaju optou por terceirizar as ações de saúde, contratar prestadores de serviços, incorporar a lógica de mercado. Na hora da agonia, teve que improvisar, apelar para o marketing, para o faz de conta, para a encenação.

A Peste continua desgovernada em Aracaju.

Sergipe chegou a 1.211 mortes. Existem dúvidas generalizadas. Qual a tendência da Peste no Estado? Começou a cair? Ainda Cresce? Quando será o pico? Como será o comportamento da curva de crescimento da doença? Atingiremos a imunidade de rebanho, onde mesmo as pessoas que não adquiriram a imunidade ficarão protegidas?

Existem muitos palpites e pouca consistência nas respostas. Duas certezas: a curva epidêmica caminha para o declínio naturalmente e o vírus se tornará endêmico. É uma tendência universal, faz parte da história natural das epidemias. Quando e como continuam incertos. O certo é que no pós Pandemia, a doença continuará fustigando, com surtos frequentes.

Enquanto o vírus existir em alguma parte do mundo, ele é uma ameaça para todos.

O despreparo da Prefeitura de Aracaju em conter a fúria da Peste, agravou a situação econômica. Não existe um plano para a saída segura do isolamento social. Não existe uma política para o controle do vírus em sua futura condição endêmica. Não existe uma aproximação com a sociedade, para a construção de formas de convivência social seguras e consensuadas.

Apresentar uma política de enfrentamento da Peste em Aracaju, no pós Pandemia, será pauta obrigatória para os candidatos às eleições de 15 de novembro.

A história acertará as contas com os que não tiveram a devida responsabilidade, mesmo dispondo de recursos fartos e informações necessárias para atenuar a Peste.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

O que você está buscando?

google-site-verification=GspNtrMqzi5tC7KW9MzuhDlp-edzEyK7V92cQfNPgMc api.clevernt.com/3ed9a8eb-1593-11ee-9cb4-cabfa2a5a2de/ google-site-verification=GspNtrMqzi5tC7KW9MzuhDlp-edzEyK7V92cQfNPgMc UA-190019291-1 google-site-verification=GspNtrMqzi5tC7KW9MzuhDlp-edzEyK7V92cQfNPgMc