A Febre do Rato. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 09 de Fevereiro, 2021

A peste negra também veio da Ásia e dizimou a metade da população europeia, no final da Idade Média.

Relembrando, a guerra dos cem anos teve início em 1337, e nesse período, a fome grassava livremente.

A peste negra aterrorizou a Europa por 400 anos (1347 a 1720). Para o povo, não havia dúvidas, tratava-se da punição divina. Os mais devotos apegavam-se a São Roque e São Sebastião, sem sucesso.

Não é sem motivos que, atavicamente, a fome, as guerras e as pestes são os flagelos que assombram a humanidade.

A peste negra foi a epidemia mais importante que atingiu a humanidade. “Peste” virou nome comum de todas as pragas. “Fio da Peste” é um “xingamento raiz”.

Esperamos que a Covis-19 seja mais breve!

Antes, em 542, a peste negra havia se manifestado no Império Romano, descrita em detalhes pelo historiador Procópio, como a Peste de Justiniano.

A peste negra se manifestava de três formas: bubônica, pneumônica e septicêmica, todas com grande letalidade. As pulgas picavam nas pernas e, rapidamente, o bacilo Yersinia pestis atingia os gânglios linfáticos. No final, morria-se com uma tosse sanguinolenta.

A peste é chamada de Negra pela necrose nos dedos, que os deixavam escuros e pela coloração das tumorações linfáticas.

Além da Igreja, que tributava a peste aos castigos divinos, as universidades também foram consultadas. Os cientistas atribuíam aos miasmas, decorrentes das conjugações planetárias. Outros acusavam os judeus de terem envenenado às fontes de água e os alimentos.

A perseguição aos judeus antecedeu a perseguição aos leprosos, as bruxas e aos hereges.

Os médicos usavam máscaras de couro, embebidas com substâncias aromatizantes, para se proteger dos miasmas. Os resultados eram escassos. Dos 24 médicos de Veneza, 20 morreram. Quase todos os professores da famosa Escola de Medicina de Montpellier “bateram as botas”.

As sangrias e as substâncias para provocar diarreias e vômitos não produziam efeito. Lancetar os bubões, com a saída do material purulento ajudava na disseminação.

Todos os tratamentos usados pelos médicos da época falharam. Cauterizar os bubões com ferro quente, aplicação de sanguessugas ou cortá-los com navalha em nada alterava o destino do pestilento. O uso de unguentos de excrementos de animais, de cebola, mostarda ou terebintina eram ineficazes.

O medo do contágio, levava ao abandono do doente, para ele morrer só.

O Papa decretou o perdão a todos os que morreram da peste bubônica. Não sei o que o Papa Francisco está esperando...

A peste negra é conhecida no interior sergipano como a “febre do rato” e bubônica ainda é um xingamento (fio da bubônica).

Outras enfermidades deixaram marcas na linguagem popular: cabrunco (carbúnculo), bexiga (varíola), estopou balaio (estupor), gora serena (gota), canso (câncer), cranco mariano (sífilis primária), lazarento (lepra), infeliz da costela oca (tuberculose), entre outros.

Bubônica vem de “buba”, palavra latina que significa virilha. A peste negra tanto podia ser transmitida pelas pulgas dos ratos, como diretamente pelas vias respiratórias (transmissão oro fecal).

O corpo do pestilento exalava um odor insuportável! Tudo fedia: suor, excrementos, saliva e urina. A respiração deixava a atmosfera empesteada.

A peste negra inspirou Giovanni Bocaccio a produzir Decameron, um clássico da literatura mundial.

Falta atitude à Igreja para excomungar os negacionistas, que estão retardando a compra das vacinas, prolongando irresponsavelmente os nossos riscos e as nossas quarentenas.

Saudade do Frei Damião!

Antonio Samarone (médico sanitarista).

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