Lázaros e Lazaretos em Sergipe Del’ El-Rey (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 14 de Fevereiro, 2021

A primeira referência sobre a lepra em Sergipe encontra-se na obra “A Morféia no Brasil (1882)”, do ilustre leprologista sergipano, Presidente da Academia Nacional de Medicina, Dr. José Lourenço de Magalhães: “Raríssimos são os casos de lepra em Sergipe, existem alguns casos isolados em Estância e em Itabaiana”.

Em 1933, oito casos foram identificados; em 1934, oitenta e nove doentes e em 1937, o número de casos notificados já tinha ultrapassado aos duzentos.

Com a elevação do número de casos, a lepra, desconhecida em Sergipe nos três primeiros séculos da colonização, tornou-se um problema de Saúde Pública a partir das primeiras décadas do século XX. Antes, a doença não era notificada.

Em 19 de janeiro de 1939, através do Decreto nº 167, foi criado o Serviço de Profilaxia da Lepra”, vinculado ao Departamento Estadual de Saúde Pública. O Serviço Nacional da Lepra só seria criado em 1941.

Uma ressalva, um Serviço de Profilaxia à Lepra e Doenças Venéreas funcionou em Sergipe desde 1928. Era um órgão Federal, chefiado pelo Dr. Oscar Nascimento, instalado no prédio do Instituto de Química, local inapropriado para este fim. No final de 1930, esse serviço de combate à lepra foi fechado por medida de economia.

Em 1938, no Governo de Eronildes Carvalho, veio a Sergipe o destacado leprologista Dr. José Fonseca Guaraná de Barros, com a incumbência de efetuar um diagnóstico da lepra em Sergipe. Em 1943, estavam devidamente fichados e sendo acompanhados pelo Serviço de Profilaxia, 72 doentes.

O Dr. Fonseca permaneceu no Estado até o ano de 1944, tornando-se o primeiro Diretor do Serviço de Profilaxia, sendo o principal responsável por sua organização e pela iniciativa da criação da Colônia Jardim, primeiro leprosário de Sergipe, com 440 tarefas e moradia individualizada para os doentes. Cada leproso possuía um lote com três tarefas de terra para trabalhar.

A Colônia Jardim foi inaugurada em 19 de abril de 1945, com 18 pacientes internados. No leprosário do Jardins os doentes podiam separar pequenas áreas para o cultivo, construírem casas, funcionava como uma pequena cidade, com capela e cemitério.

Eu entrevistei o Zé de Itabaiana, admitido no leprosário em 12 de abril de 1975, natural das Caraíbas, município de Itabaiana. Ele ficou sabendo que tinha a doença numa das visitas que o Dr. Milton Mendonça fez ao seu povoado.

“Nas Caraíbas ninguém sabia que eu tinha essa doença, nem eu sabia, quando soube e fui informado pelo compadre Carlito que existia um leprosário, ele passava por dentro quando vinha para Aracaju de animal pela estrada velha, eu não pensei duas vezes, pedir para me internar... “

Seu Zé chama a colônia da “mãe dos doentes”, pois saiu de uma condição de extrema pobreza, e encontrou no leprosário casa, comida, remédio, terra para trabalhar e até uma namorada, com quem se casou. Passou cinco anos e meio internado, saindo em 18 de outubro de 1980.

O esquecido patrono dos Serviços de Lepra em Sergipe, Dr. José Fonseca Guaraná de Barros (1911 – 1985), fundador da primeira Colônia de Leprosos, era sergipano de Aracaju, formado no Rio de Janeiro em 1935. Exerceu a medicina em Campos, RJ.

O Dr. José Fonseca Guaraná de Barros era médico sanitarista e dermatologista, espírita, escritor, poliglota, um homem de vasta cultura. Publicou “Casos Diversos”, um livro de contos.

Em minhas pesquisas, identifiquei uma forte presença dos espíritas nos leprosários sergipanos, desde o seu fundador.

Na década de 1980, a Colônia dos leprosos foi transformada no atual Conjunto Jardins, em Nossa Senhora do Socorro. O Conjunto Jardim, com mil casas, foi concluído em sua primeira etapa em 1984; e segunda etapa com mais cento e cinquenta casas foi entregue em 1987.

Em dezembro de 1974, este antigo leprosário (ainda existem as ruínas) foi desativado e os leprosos transferidos para um sítio com 44 tarefas, na Avenida Santa Gleide, numa encruzilhada denominada “Volta do Tapa”, entre o Calumby, Parque São José e os mangues do Bugio.

Esse segundo leprosário, o Lourenço Magalhães, quando desativado, teve o mesmo destino imobiliário do primeiro, no local foi construído o conjunto Maria do Carmo Alves.

Entre os anos de 1938 e 1943, enquanto permaneceu por aqui o Dr. Fonseca, foram cadastrados no Serviço de Profilaxia 73 doentes, 216 comunicantes.

Em maio de 1944, assumiu a direção do Serviço de Profilaxia da Lepra em Sergipe o Dr. Fraga Lima. Uma das primeiras providências do novo Diretor foi convidar o médico Armando Ponde, do serviço Nacional da Lepra, para realizar um novo censo sobre a situação da lepra no Estado.

O Dr. Joaquim Fraga lima, é natural de Paripiranga/BA. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1925, defendendo a tese “Sobre um caso de sopro troncular de João Fróes”. Em 1926 instalou-se com consultório na cidade de Itabaiana/SE, onde clinicou até 1932 quando se transferiu para Aracaju.

Uma data histórica.

Em 21 de julho de 1951, uma comissão de três especialistas em lepra, os doutores Armando Pondé, superintendente do serviço da lepra na Bahia; Dr. Medeiros Dantas, responsável pelo serviço em Pernambuco e o Dr. Fraga Lima, de Sergipe, comprovam um milagre:

Os três técnicos do Serviço Nacional de Lepra, assumiram coletivamente a responsabilidade de conceder alta clínica aos dois primeiros pacientes portadores de lepra, internados no Leprosário Jardim, em Aracaju.

Foram as primeiras curas de lepra em Sergipe, após o advento das sulfonas no arsenal terapêutico. Até então o diagnóstico de lepra era a certeza da morte.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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