A Era das Pandemias. Darwin Explica? (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 10 de Julho, 2021

A normalidade sanitária não voltará após a vacinação. A mortalidade por Covid-19 será reduzida, mas as condições geradoras de pandemias permanecerão.

A Covid-19 era previsível e veio se somar a várias zoonoses precedentes, como o SARS-CoV (2002), a gripe aviária por H5N1 (2005), a gripe A por H1N1 (2009), o MERS-CoV (2012) e o ebola (2014).

A partir de 2003, tivemos pelo menos cinco pandemias ou pandemias potenciais no mundo: síndrome respiratória aguda grave (SARS, 2003), "uma quase pandemia"; uma pandemia de influenza (H1N1 pdm, 2009), uma pandemia de chikungunya (2014), uma pandemia de Zika (2015) e uma “extensão semelhante a uma pandemia de Ebola em cinco países africanos” (2014-2015).

Pode-se concluir dessa experiência recente. que entramos em uma Era Pandêmica.

Essas doenças decorrem do atual modelo econômico que contamina a água, o ar e o solo com agrotóxicos, metais pesados e gases tóxicos, impõe o desmatamento para a ampliação da fronteira agrícola, explora a criação de animais em condições deploráveis, constituindo um meio de cultivo ideal para a gênese de mutações virais, como ficou demostrado com a gripe aviária, a gripe suína e a SARS.

Pandemias e epidemias acompanham os humanos desde a invenção da agricultura e a domesticação dos animais. Como as populações eram esparsas, as doenças eram localizadas.

Parece claro que agora vivemos em uma Era de Pandemias. Doenças infecciosas emergentes e o retorno de velhos inimigos contagiosos.

As doenças infecciosas têm ameaçado os humanos desde a revolução neolítica, 12.000 anos atrás, quando caçadores-coletores humanos se estabeleceram em aldeias para domesticar animais e cultivar plantações. Entretanto, nada parecido com o potencial de ataque atual, em decorrência da demografia e da crise climática.

O que causa as novas pandemias?

Os seres humanos são a causa principal. O desmatamento, a intensificação agrícola, urbanização e perturbação do ecossistema que colocam as pessoas em contato com a vida selvagem e seus patógenos potencialmente zoonóticos.

Entramos em contato com milhões de criaturas desconhecidas, que habitam os ecossistemas naturais, (vírus, bactérias, fungos, protistas –– a virosfera).

A perturbação dos ecossistemas naturais libera esses micróbios para o mundo mais amplo, o chamado transbordamento (um patógeno passa de membros de uma espécie, como hospedeiro, para membros de outra).

As formas microbianas de vida foram os únicos predadores naturais que os humanos não conseguiram conquistar em sua história tecnológica e evolutiva. Essa guerra evolutiva é desigual, as formas microbianas de vida persistiram neste planeta por 3,8 bilhões de anos. O Homo sapiens existe há 300 mil anos.

Os Coronas vírus possuem uma vantagem evolutiva particular, a sua instabilidade genética, permitindo uma rápida evolução microbiana, para se adaptar a nichos ecológicos em constante mudanças.

Aliás, uma vantagem evolutiva dos vírus de RNA, como vírus influenza, flavivírus, enterovírus e coronavírus, que à medida que se reproduzem e são transmitidos se comportam como um enxame de muitas espécies, com centenas ou milhares de variantes genéticas, o que torna difícil para os humanos combatê-las.

O que vem ocorrendo o vírus da Covid-19 evidencia essa verdade.

“O futuro dos micróbios e da humanidade provavelmente se revelará como episódios de um thriller de suspense que poderia ser intitulado. Nosso raciocínio versus seus genes”. Joshua Lederberg – Prêmio Nobel em Medicina.

Foi apenas por volta de 1985, 150 anos após o início da Revolução Industrial, que a classe média, com capacidade de consumo, atingiu 1 bilhão de pessoas. Em seguida, demorou 21 anos, até 2006, para que a classe média adicionasse um segundo bilhão. O terceiro bilhão foi adicionado à classe média global em nove anos. Hoje estamos a caminho de adicionar outro bilhão em sete anos e um quinto bilhão em mais seis anos, até 2028.

O planeta não suporta esse modo de vida predatório.

É fundamental lembrar aos humanos, a espécie chamada Homo sapiens, que apesar de todo o seu domínio da tecnologia, não estamos fora da história de vida e evolução darwiniana, que se desenrola neste planeta.

As doenças infecciosas em humanos referem-se à sobrevivência microbiana, por meio da cooptação de alguns de nossos mecanismos genéticos, celulares e imunológicos para garantir a sua transmissão contínua.

Nessa luta evolutiva, os micróbios são favoritos.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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