Sergipe Profundo. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 01 de Janeiro, 2022

A corrida de canoas à vela no litoral sergipano é uma tradição milenar. Não se espantem, literalmente milenar. Os Tupinambás com a suas canoas chegaram à Sergipe bem antes dos portugueses. As canoas são as mesmas, com pequenas adaptações.

Hoje, a corrida foi na Foz do Vazas Barris, no Condado do Mosqueiro.

Um dos caminhos da chegada do homem às Américas foi através de grandes jangadas feitas de junco, vindo da Polinésia. Os ameríndios descendem dos malaios/polinésios. A Nação Tupi chegou pelas costas do Pacífico, estabelecendo-se inicialmente às margens do Lago Titicaca, no altiplano Boliviano.

Os Tupis, expulsos pelos Incas, fugiram pelo rio Beni, afluente do Mamoré, que vão formar o rio Madeira. Os Tupis percorreram os mil quilômetros do rio Madeira, até o Amazonas, em suas canoas.

Uma parte dos Tupis se dispersou até o rio Tocantins e daí até o São Francisco, por onde chegaram ao litoral Atlântico, tendo entrado pela foz do rio São Francisco, em Sergipe.

A Nação Tupi se dispersou a partir de Sergipe, recebendo denominações diferentes: Potiguar, no Rio Grande do Norte e Paraíba; Caetés, em Pernambuco e Alagoas; Tupinambás em Sergipe e Bahia; Tupiniquim na costa Sul da Bahia; Tamoios no Rio de Janeiro e Tupis em São Paulo. Todos falavam a nhenhen-gatu (língua boa), a língua geral (tupi).

Essa corrida de canoas dos Tupinambás em Sergipe, que continua até hoje, com os seus descendentes, os pescadores ribeirinhos, está registrada em documento histórico, desde 1531.

Em seu diário de navegação, Pero Martins de Souza (1531) relata uma batalha naval entre os Caetés de Alagoas, em suas Igaraçus (canoas grandes) de piripiri; e os Tupinambás do lado de Sergipe, em suas canoas de tronco escavados das grandes árvores, envolvendo mais de seis mil guerreiros e cem embarcações de cada lado.

Pero Martins de Souza era irmão do famoso Martim Afonso de Souza, Donatário da Capitania de São Vicente.

Essa milenar corrida de canoas à vela ocorre em quase todo litoral sergipano. Nunca deixou de ocorrer há 600 anos. Mesmo com o desprezo por nossa memória histórica, pelo menos o pessoal do turismo deveria se interessar. Imagina isso na Bahia.

Recentemente, o departamento cultural do BANESE patrocinou uma corrida de canoas à vela, na foz do Rio Sergipe. Batizou-a de “primeira corrida de canoas sergipanas”. Assim fica difícil. Primeira? Como se eles estivessem inventando as corridas. Canoas sergipanas? Essas canoas são patrimônio da Nação Tupi, eles são anteriores a Província de Sergipe d’El Rey.

Mas o BANESE pelo menos fez alguma coisa, dizem os governistas. Soube que gastou 14 mil reais com a iniciativa. Os canoeiros saíram satisfeitos.

Gente da cultura, do esporte, do turismo, sergipanos de bom senso, acordem! As tradições culturais não são curiosidades de desocupados. São fontes de recursos para o estado.

Claro, nada acontecerá!

Antonio Samarone (médico sanitarista)

PS: a foto é de minha lavra.

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