Arraial, Villa ou Cidade - Apontamentos, (parte I) *(Por Antonio Samarone)*

Antonio Samarone, 06 de Janeiro, 2022 - Atualizado em 06 de Janeiro, 2022

“O que é dito passa a existir!”

Itabaiana foi uma Villa agrícola até meados do século XX. Uma sociedade rural, de base camponesa, com o predomínio das pequenas propriedades produtoras de gêneros alimentícios. Era o “celeiro” sergipano.

Os pataqueiros eram os párias, trabalhadores rurais sem-terra, que formavam uma ampla base de miseráveis.

O pequeno núcleo urbano era dominado pelas “casas de rancho”, frequentadas apenas em dias de feiras e festas religiosas.

Culturalmente, havia uma absoluta hegemonia da igreja católica (santa missão, procissão, trezenas de Santo Antonio, São João, Natal).

Dentre as manifestações culturais profanas deixaram registros apenas, a fotografia e a música. Mesmo assim, uma música voltada para os ritos religiosos.

O capitalismo demorou para se estabelecer na Villa de Itabaiana. As atividades econômicas urbanas eram de base artesanal: pequenas manufaturas, sapateiros, alfaiates, pedreiros, marceneiros, padeiros, ferreiros, fogueteiros, paneleiros, marchantes, tropeiros, feirantes, bodegueiros e pequenos comerciantes. Gente pobre, que lutava pela sobrevivência.

As manifestações culturais desse período eram dominadas pela batina. Fora da Igreja, pequenas iniciativas, efêmeras e incertas. O circo, o mamulengo, os reisados, a zabumba e os entrudos.

Itabaiana ignorou a escola até a década de 1950!

Pequenas escolas rurais, criadas por Vargas, escolas particulares funcionando nas casas das professoras e um Grupo Escolar, criado tardiamente, em 1937. Quem teve destaque intelectual ou artístico nesse período, mesmo em caráter regional?

Um ou outro que conseguiu se destacar atuava fora da Villa, apenas nasceu em Itabaiana. Eu sei que algum erudito pode citar que Tobias Barreto foi professor em Itabaiana. É verdade! Mas em nada altera a sua natureza rural.

Até a década de 1950, Itabaiana foi uma Villa agrícola, pobre, culturalmente primitiva, mesmo sendo cidade, por lei, desde o final do século XIX.

A historiadora Thetis Nunes afirmava que dois acontecimentos no início da década de 1950, mudaram os rumos da Villa de Itabaiana: a chegada da BR – 235, uma rodovia federal, e a construção de um ginásio estadual, o Colégio Murilo Braga.

A BR – 235 deu dinamicidade à economia Itabaianense.

Os pequenos comerciantes mais afoitos e talentosos cresceram e criaram estabelecimentos que saíram das fronteiras da Villa. Citando de memória, são do período 1950/70: Oviedo Teixeira, Albino Silva da Fonseca, Mamede Paes Mendonça, Pedro Paes Mendonça. Gentil Barbosa, Noel Barbosa e José Cunha (Zé de Luiz de Rola), entre outros, menos endinheirados.

Itabaiana virou um entreposto comercial, geograficamente situado entre o litoral e o sertão, semelhante a Caruaru em Pernambuco, Campina Grande na Paraíba, Feira de Santana na Bahia, assim por diante.

A outra grande mudança com a chegada da BR - 235 foi a transformação dos tropeiros em caminhoneiros, criando uma categoria econômica que trouxe desenvolvimento para a Villa. Itabaiana se transformou na capital brasileira do caminhão.

Deixo de fora a história política desse período, pois acredito ter sido subalterna às mudanças econômicas. A principal disputa política, que terminou em tragédia, foi pelo controle do comércio, a disputa pela liberdade do contrabando.

Outra razão para não falar da política é que estamos aguardando ansiosos a publicação de uma grande obra sobre o tema, escrita pelo maior intelectual vivo da cidade.

O crescimento do Núcleo Urbano nos pós 1950 ocorreu centrado no comércio e no transporte. Itabaiana começou a deixar de ser um acampamento, com as mudanças culturais correspondentes.

Itabaiana passou de acampamento à feitoria. A escola pública é o principal polo civilizatório. Inicia-se a fundação da cidade.

O funcionamento de um ginásio público é o outro polo de desenvolvimento. A escola se tornou um caminho de ascensão social. Surge uma classe média letrada. As primeiras manifestações do pensamento.

O pensamento cultural dominante em Itabaiana, nesse período, pode ser expresso numa máxima do Mestre Orpílio, um alfaiate muito conhecido e respeitado: “Eu só me interesso pelo que acontece até a Serra, pois do outro lado, ninguém nunca me encomendou um terno”.

Itabaiana, culturalmente se bastava.

No período 1950/70, emerge um pensamento local, dominado pelo bairrismo. Surge um grande artista, Zé Bezerra. Os poucos intelectuais eram os artesões que frequentaram a escola. Nessa fase, os primeiros livros são escritos.

Alguns intelectuais se destacaram na Capital: Sebrão Sobrinho, Antonio Oliveira (Tonho de Doci), Thetis Nunes e Alberto Carvalho.

Pretendo, em outro momento, sintetizar o período pós 1970. Bem mais difícil, pois os personagens ainda estão vivos e gozando dos plenos direitos à vaidade.

*Antonio Samarone (médico sanitarista)*

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