O Mercado do Sofrimento. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 18 de Janeiro, 2022

“Eu libertei os homens da obsessão da morte, instalei neles as cegas esperanças...” Prometeu.

O neoliberalismo elevou ao extremo a produtividade e o lucro do Capital, internalizando nos trabalhadores a obsessão pelo desempenho. O conto do empreendedorismo transforma cada um em empresário de si próprio.

Com a redução estrutural dos empregos, a auto exploração é o que sobra como sobrevivência.

O insucesso é assumido como uma derrota pessoal e é psicologizado, transformando-se em sofrimento mental: “se não deu certo, a culpa é minha, que não tive a dedicação necessária.”

A estrutura social injusta não é mais responsabilizada. No máximo se busca ajuda no coaching.

A auto exploração é ilimitada.

O neoliberalismo exige o tempo e a dedicação integral de cada trabalhador, travestido de auto empresário. Se avança no tempo do sono, do descanso, do lazer e do entretenimento.

A última barreira à exploração capitalista é o sofrimento, o esgotamento mental e o Burnout.

Quem fracassa responsabiliza a si próprio. A injustiça social é psicologizada, transformando-se em depressão, ansiedade e Burnout. O suicídio, torna-se a revolta extrema.

A explosão epidêmica do sofrimento mental neste começo do século XXI, nomeado pela psiquiatria como transtornos mentais, decorrentes do desequilíbrio dos neurotransmissores, reflete na verdade, o avanço impiedoso do Neoliberalismo como modelo hegemônico de produção.

A psiquiatria de mercado oculta essa realidade fragmentando o psiquismo, esquartejando o mal-estar e o sofrimento mental em sintomas quantificáveis.

A psiquiatria precisou abandonar as grandes escolas (Freud, Kraepelin, Jung, Lacan, Jaspers), para abraçar a abordagem pragmática, ateórica, da psiquiatria americana.

A singularidade e as raízes do sofrimento humano são falseados pelo doping generalizado, com a prescrição de drogas farmacêuticas psicoativas, geradoras de dependência.

A psiquiatria de mercado abraçou a poli farmácia. “Uma droga para cada sintoma”.

Os medicamentos psicoativos se tornaram os mais consumidos. A indústria Farmacêutica explora o mercado do sofrimento.

O sofrimento humano é a última fronteira do Capital.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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