Os Remédios da Moda. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 22 de Março, 2022 - Atualizado em 22 de Março, 2022



 

Em meados do século XX, a medicina popular praticada em Sergipe era de inspiração hipocratica. A teoria dos humores era bem aceita pela população. A saúde dependia do equilíbrio desses humores.

A medicina popular era fundada numa visão de mundo onde coexistiam o natural e o sobrenatural, as experiências e as crenças,

A medicina popular era uma herança do vitalismo de Paracelso, do mecanicismo de Boerhaave, do humorismo de Hipócrates e Galeno e das medicinas dos índios e negros.

A medicina popular em Sergipe, até meados do século XX, era a persistência da medicina colonial, trazida pelos portugueses.

O paradigma celular da medicina acadêmica era incompreendido pelo povo e ainda não havia sido bem assimilado pelos médicos.

Havia um acentuado gosto pela medicina evacuante: os vomitórios, purgantes e laxantes eram muito populares. Outra prática bem aceita era os suadouros. A ideia era expulsar do corpo os humores corrompidos.

O purgante preferido pelas classes populares era o “óleo de rícino”, óleo extraído a frio das sementes das mamonas.

Toda vez que mamãe cismava que eu estava com fastio, que poderia ser lombriga ou amarelão, ela mandava comprar um copo de óleo de rícino, na bodega de Zé Meu Mano. Eu bebia numa golada, sem reclamar.

Achava um copo uma dose exagerada, mas era a prescrição. Na verdade, era uma medicina dos humores e odores.

O óleo de rícino é espesso, amarelado, viscoso, de cheiro horripilante e gosto de chá de besouro do cão. Mamãe me obrigava: tampe o nariz e engula de vez, é para o seu bem... Depois eu chupava um limão com sal, para tirar o gosto ruim da boca.

Até hoje, acordo de vez em quando com o gosto de óleo de rícino na boca. Nem Freud explica. Metaforicamente, eu sei o que significa “engolir sapos”.

Em menos de três horas, eu já estava no trono para liberar os jatos de fezes alvinas, salpicados de caroços de feijão. Depois, a gente se sentia leve.

Passados os efeitos dos purgativos, era a vez do fortificante: Emulsão de Scott, óleo de fígado de bacalhau. Esse tem o gosto de caldinho de corvina, com validade vencida, remoso.

Entretanto, perto do óleo de rícino, o Emulsão de Scott era uma delícia.

Os purgativos foram abandonados pela medicina. Vivemos sob o império da “moda dos remédios”.

*Antonio Samarone. (médico sanitarista)*

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