Em busca dos sonhos. (por Antonio Samarone)
Sonhei com a Revolução de Outubro e com o surrealismo. A militância política era inspirada pelas utopias e na luta pelos interesses das classes subalternas.
Herdei o DNA de Totonho de Bernardinho, meu avô. Um ferreiro sonhador, que cantava excelências na Matapuã. A sua biblioteca era lotada de Cordel, uma coleção memorável. Não sei que fim levou.
Aprendi a ler com esses Cordéis. Já cheguei na escola lendo de carreirinha e cantando. A professora pensava ser uma habilidade inata.
Totonho criava abelhas e passarinhos, plantava flores, ouvia os sapos na lagoa, plantou um pomar e deu o nome de suas filhas as jabuticabeiras. A primeira, recebeu o nome de mamãe. Bota até hoje. “Jabuticabeira Maria de Lourdes”, foi a única homenagem que mamãe recebeu em vida.”
O povo das Flechas dizia: “Totonho é doido”.
Na noite da sua morte, as abelhas saíram dos cortiços, sobrevoaram ruidosamente o seu corpo inerte e foram embora para sempre. Os cortiços ficaram vazios. Eu vi!
Ao amanhecer, o seu corpo foi levado numa rede, por homens treinados, num sacolejo harmônico e cadenciado. Na entrada da cidade o corpo passou para um ataúde cinza, seguindo até o sepultamento no Cemitério de Santo Antonio e Almas.
Não sei as razões de não sepultarem o meu avô no Cemitério do Rumo, no Pé do Veado, onde repousa parte da família.
Herdei parte do DNA do velho ferreiro. Ando em busca de novas utopias.
*Antonio Samarone (médico sanitarista)*
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