O SILÊNCIO DOS BONS por Manoel Moacir Costa Macêdo

Antonio Samarone, 27 de Maio, 2022 - Atualizado em 27 de Maio, 2022

 

 

O “silencio dos bons” e o “melindre” são traços do comportamento humano. Ultrapassam o sentido gramatical e alcançam a história e as relações sociais. O primeiro, no “jeitinho brasileiro”, o segundo na “sensibilidade de porcelana” e ambos no “bom mestiço”. Ambos são esconderijos para vantagens e escapismos. A humanidade evolui com a comunicação oral e escrita. Elas carregam registros, valores e contradições.  O “silêncio dos bons” tem raízes no “mestiço, preguiçoso, burro e feio”, transformado por Gilberto Freyre, no “brasileiro propenso ao comportamento plástico, capaz de se adaptar ás mais diversas situações sociais” e na “fantasia social da alegria de viver, do sexo, da música, da dança, da hospitalidade e da espontaneidade”. Esse escrito, aborda o “silêncio dos bons” como uma espécie do gênero silêncio, sem a merecida profundidade.

No dicionário de língua portuguesa, o silêncio quer dizer “estado de quem se cala ou se abstém de falar, privação, voluntária ou não, de falar, de publicar, de escrever, de pronunciar qualquer palavra ou som, de manifestar os próprios pensamentos”. Surdez e mudez mórbidas. Aparente fuga. Singular em vez do plural. Individual sobrepondo o coletivo. No paradigma da pós-materialidade, o “silêncio dos bons” destaca as “influências dos maus pela fraqueza dos bons -, os maus são intrigantes e audaciosos”. Martin Luther King, pacifista norte-americano, em vibrante e histórica oratória contra o racismo nos Estados Unidos expressou: “o que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”.

 Conflito e harmonia são comuns no viver. O primeiro, são próprios da desigualdade e da alienação. O último, uma utopia no “amar o próximo como a si mesmo”, em sociedades majoritariamente cristãs. Os conflitos quando desprezados, adiante serão revelados, oprimidos, intermediados e controlados, jamais esquecidos.

Tempo sombrio no “silêncio dos bons”. Ruínas à globalização. Desprezo à liberdade individual. Ódio, intolerância e polarização insana. Servidão voluntária. Louvor ao “possuir dois olhos, dois ouvidos, duas narinas e apenas uma boca”, como apologia ao silêncio. Censura tácita da palavra e da escrita. Calote à atitude vigorosa e honesta. Recompensa ao “silêncio obsequioso”. “Mentira branca” em lugar da verdade. Aparência em vez da atitude sincera.  

Silenciar não é esperançar. O tempo nem sempre é o “senhor da razão”. A oratória inteligente tem sido ofuscada pelo raso “silêncio dos bons”. O encontro da humanidade em qualquer lugar, tempo e espaço; acolhe ideias e registros pelas vias da oralidade e da escrita. Palavras são mais do que sons e escritos mais do que letras. Elas expressam emoções e sabedoria. O “silêncio dos bons” protege o comportamento subterrâneo, a covardia e a omissão. “Deixar tudo como estar, para ver como é que fica”. Limite conveniente, entre o “silêncio obsequioso, o bom silêncio e o silêncio dos bons”.

Os seres gregários regidos pela lei moral da sociedade, “necessitam uns dos outros para viver; não há existência solitária”.  A convivência se revela pela linguagem oral e escrita. O “silêncio dos bons” não expressa sentimentos, mas pressupõe medo e oportunismo. Ele acomoda “condutas cínicas e desvarios”. O desejado equilíbrio entre falar, escrever, sentir e agir, é uma conquista na rota da evolução e plenitude. O “silêncio dos bons” é censura ao que sai da boca e do coração e elogio ao “deixa a vida me levar, vida leva eu”.

Manoel Moacir Costa Macêdo, é engenheiro agrônomo e advogado

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