O Medo Novo. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 05 de Junho, 2022



 

A peste das bexigas foi a principal causa de morte em Sergipe, até meados do Século XX. Outras mazelas grassavam livremente: peste branca, maleita, mal de Lázaro, doenças do mundo, câmaras de sangue e o impaludismo. Eram doenças antigas.

O povo manifestava a sua curiosidade transformando-as em xingamentos: bexiguento, lazarento, cranco, gota serena, cabrunco, peste etc. Na modernidade, essa mania continua com novos xingamentos. Em Itabaiana, “canso” e “fio do canso”, suponho que devem se referir ao câncer.

Não há registro em Sergipe da presença significativa da febre amarela e a da peste negra. Por aqui, predominava a peste branca.

Entretanto, o medo que alcancei foi do mal de Chagas. Na década de 1960, o DNERU resolveu fazer uma campanha educativa de um nova doença. Uma doença grave, sem cura e transmitida por um besouro. Uma campanha terrorista.

Eu era íntimo dos besouros: cavalo do cão, vira bosta, mangangá, carocha, percevejo, joaninha, gorgulho, cigarra, gafanhoto, esperança, besouro da cão. uma lista sem fim. Todos mais ou menos feios, mas inofensivos. Alguns fedidos. A molecada criava “fazendas” de besouros, brigas, corridas, enfrentamentos. Os besouros eram parte dos brinquedos.

Na década de 1960, a campanha do DNERU meteu medo. A terrível doença de Chagas é transmitida por um besouro. Não era um besouro qualquer, era o barbeiro, um chupão desconhecido entre nós. Esse besouro que gostava das casas de taipas, mas poderia estar em qualquer lugar, embaixo de qualquer travesseiro.

No Brasil existem milhares de espécies besourentas, algumas ainda sem nome. E agora, como reconhecer o barbeiro? Pela foto do barbeiro nos livros e cartazes era impossível o reconhecimento. São todos parecidos. Em Itabaiana, catalogamos mais de 50 besouros com a cara do barbeiro.

Zeca Araújo, colocou em sua loja vários mostruários de barbeiros empalhados. Formou-se filas! Os tabaréus fizeram caravanas para ver o barbeiro. Dia de feira, a fila do barbeiro ia até a loja de Seu Jubal, na Praça da Feira. Eu não me cansava, passava lá quase diariamente.

Como consequência, houve uma caça patriótica a tudo o que é besouro. Eu não dormia enquanto não fizesse uma blitz minuciosa no quarto. Só se falava no barbeiro. Todos contavam aventuras, todos se sentiram ameaçados.

Foi um medo novo. Apavorante!

*Antonio Samarone (médico sanitarista)*

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