A FAVELA E O ELEITOR por José Norberto Muniz e Manoel Moacir Costa Macêdo

Antonio Samarone, 05 de Agosto, 2022 - Atualizado em 05 de Agosto, 2022

 

 

 

Embora não vivenciamos na práxis a vida nas favelas e nem conhecemos alguém favelado, são visíveis as suas expressões de desigualdade e pobreza. Um lugar de exclusão social. Por denominações pejorativas, a favela e o favelado são conhecidos pelas notícias, usualmente degradantes de seres humanos e ambientes miseráveis de viver. Criaturas privadas dos elementares valores da civilização. É senso comum vincular a favela e o favelado, ao sistema econômico perverso e à injustiça social.

As estatísticas mostram a perversidade nos favelados e nas favelas. Negros, pobres, desempregados, drogas, mortes, crimes e preconceitos. Carências de tudo, e em especial dos serviços e cuidados do Estado. Lugar de agressões, opressões, submissões e incertezas. Leis e lideranças próprias. Um mundo paralelo. Um salve-se quem puder.

Constrangimento, coerção e opressão de organizações criminosas atuam no cenário eleitoral. Comparativamente é o que ocorre com o eleitor, onde quer que estejam, longe ou próximo das favelas. Organizações atuando no asfalto, com outras colorações e roupagens, mas na essência opressoras tais quais nas favelas. A ressalva é que as organizações que atuam longe dos morros, são institucionalmente legalizadas, endereços insuspeitos, atores com empregabilidade, empreendedores alaranjados e insurgentes nas novas tecnologias e moedas eletrônicas, apoiadas nas plataformas democráticas e no aparato legal.

Entre os componentes dessa estrutura institucional silenciosa e invisível para os comuns, estão os meios de comunicação tendenciosos, que atuam, em nome da democracia. Divulgam estatísticas que polarizam e ocultam proposições e alternativas à disputa teoricamente polarizada. A proposta de convencimento recai sob uma suposta ameaça de golpe, que como outros em contingências similares, irá se revelar como uma falácia total.

Nesse sentido, os eleitores das favelas estão sob os mesmos disparos que os do asfalto, cercos, atropelos, ataques e feridos. A diferença é que em um momento há feridos físicos, perdas familiares, choros e desesperos e no outro, há feridos morais, desesperos existenciais coletivos e a dúvida de que uma sociedade mais justa é possível. Em outros termos, a política é definida pelos políticos e os eleitores, elementos passivos da democracia, ambos estão sob tiroteios de interesses que permeiam e lucram com a polarização.  No dizer do cientista social Jessé Souza, na obra “O Brasil dos Humilhados”, “não existe mudança social possível e o mundo é só reprodução do mesmo”.

Como conclusão: se há os criminosos das favelas, há criminosos políticos da sociedade. A questão é de onde a justiça, não Divina, deve começar. Esperamos que não seja pela favela e nem pelos favelados. Quem viver, verá.

 

Foto: Manoel Moacir

José Norberto Muniz e Manoel Moacir Costa Macêdo, são respectivamente professor titular aposentado da Universidade Federal de Viçosa - UFV, Minas Gerais e ex-professor da Universidade Católica de Brasília - UCB, Brasília, DF e pesquisador aposentado da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA.

 

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