O LIVO DE FÍSICA E A CNH por Jodemir Antonio Pires de Freitas e Manoel Moacir

Manoel Moacir, 21 de Maio, 2021 - Atualizado em 21 de Maio, 2021

O curso universitário, afora o saber formal, possibilita outros saberes. Os mais ricos são invisíveis e intangíveis. O tempo mostra os ganhos para a vida pessoal e profissional. Exemplos não faltam, amizade, relacionamentos, afetos e apoios, entre outros. No mundo real, eles não são apartadas, pois “tudo, interfere em tudo”. A divisão em partes são reducionismos que inibem a compreensão do todo. Assim foram os anos universitários na Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia - EAUFBA. Experiências acadêmicas e vivências nos campi em Salvador e Cruz das Almas. Disciplinas, coleguismo, camaradagem, estágios e ganhos para a carreira profissional.

Entramos e saímos da universidade na década de setenta. Uma quadra diferenciada na história do mundo. No Brasil, não foi diferente. Especificidades nos cursos de agronomia. O currículo estava em linha com a receita da Revolução Verde. Introdução de tecnologias intensivas em capital no campo brasileiro, a exemplo de fertilizantes sintéticos, inseticidas, fungicidas, máquinas e equipamentos agrícolas. Aumentar a produção e produtividade linear dos cultivos e criações, liberar a mão-de-obra rural e produzir alimentos baratos para a população urbana. O êxodo rural nas décadas de sessenta e setenta promoveu uma inédita migração de mais de vinte milhões de pessoas do meio rural para as cidades. Ás escolas de agronomia coube o papel de formarem o “tipo ideal” de engenheiro agrônomo para essa contingência.

Dois fatos, exemplificam a nossa vivência universitária envolvendo os colegas Ailson Nery, Jodemir Freitas e Manoel Moacir. Ailson, aluno destacado, estudava as matérias com afinco e dedicação. Numa delas, a temida “Física Geral”, ministrada no Instituto de Física, no campus da UFBA na Federação em Salvador, recordado recentemente pelo próprio Ailson, que solicitou por um tempo breve um livro emprestado por Manoel, para auxiliar na elaboração de um trabalho. O tempo passou, aprovado na matéria, concluído o primeiro ano em Salvador, a continuidade no campus de Cruz das Almas e ao final do quarto ano, à conclusão do curso, o livro continuou na estante de Ailson. Após mais de quatro décadas desse afetivo empréstimo, ele será simbolicamente devolvido com juros e correções de afeto e amizade iniciadas na universidade e prolongadas pela vida, que o tempo e a distância não apagaram.

Outro fato, diz respeito à Carteira Nacional de Habilitação – CNH de Ailson. Naquela época, a sua posse, era requisito para o exercício da assistência técnica e extensão rural no labor do engenheiro agrônomo. Nos primórdios da extensão rural, o carro usado foi o Jeep. Tal qual o diploma universitário a carteira de motorista era indispensável ao exercício profissional. No último semestre, além das exigências acadêmicas, exigia tempo para “tirar a CNH”. Estudo detalhado do Código Nacional do Trânsito - CNT, das “pegadinhas” e práticas com os veículos emprestados pelos raros colegas proprietários de carros. Ritual cumprido com rigor por Ailson. Decorou de traz pra frente e de cima a baixo o CNT e o “Manuel do Trânsito”. Arguido pelos colegas do “Frigorífico”, o alojamento onde morava, com perguntas difíceis e complexas, respondeu corretamente a todas. Afiado na teoria. Data marcada para as esperadas provas. Primeiro, a prova teórica. Vencida com louvor. Acertou todas as questões. Eufórico, partiu para a segunda, a prova prática no dia e hora marcados. Pensou, a mais difícil tinha superado. “CNH” garantida. Entrou no lado do motorista do veículo emprestado. No outro assento, o examinador do DETRAN, sisudo, deu o primeiro comando: “Adiante Senhor Ailson”.  Nervoso, “deu um branco” e Ailson não conseguiu lembrar da teoria decorada sobre o controle dos pés no acelerador, na embreagem e nem na “marcha combinada com o volante”. Nem chegou a fazer a “meia-embreagem”. O carro “pipocou” e não saiu do lugar.  Reprovado. A primeira lição entre a teoria e a prática.

A prática nunca é uma cópia fria e neutra da teoria. Exige adaptações às específicas realidades. As especificidades da vida são únicas em sua concretude. Essa primeira lição, não impediu a vitoriosa e brilhante carreira profissional de Ailson, cumprida com competência e reconhecimento de seus pares.

Jodemir Antonio Pires de Freitas e Manoel Moacir Costa Macêdo, são engenheiros agrônomos.

 

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