O MILHO EM SERGPE - PARTE (II) por Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 24 de Setembro, 2021 - Atualizado em 24 de Setembro, 2021


O Brasil e em particular a região Nordeste, são marcados em sua história, cultura, economia e sociabilidade pelo padrão de sua produção agropecuária. Passados dois mil e quinhentos anos, continuamos como produtor e exportador de matérias-primas e globalizados no mercado mundial pela exportação de commodities. Antes, o café, hoje a soja. No passado o latifúndio improdutivo, no presente o latifúndio dos monocultivos. Ontem, os senhores de engenho do açúcar e os barões do café, hoje os milionários do agronegócio da soja e do milho. Em “2020, 85,5% das operações do Plano Safra foram realizadas na região Sul e 2,9% no Nordeste”.

A continuada lógica da produção capitalista: produzir para exportar e acumular. A fome continua aguda e o trabalho precário persiste. Nos anos sessenta e setenta, o lema era “exportar é o que importa” e “crescer para depois distribuir”. Houve crescimento, mas, ao invés de distribuição, o inverso: concentração e acumulação. Continuamos na ralé da desigualdade social, lado-a-lado ao agronegócio moderno e tecnológico.  A partir da década de sessenta pela receita da Revolução Verde, foram absolvidos pelos sistemas de produção, os insumos químicos e mecânicos da chamada “modernização da agricultura”. Ativos promotores da linearidade quantitativa da produção e produtividade. Apologia às transformações sem rupturas, a exemplo dos freios a reforma agrária e do incentivo a oferta de alimentos baratos ao operariado urbano na recente industrialização brasileira.

Em Sergipe, essa realidade é marcante e visível. De um lado, o Estado nos últimos dez anos, se destacou como um expressivo produtor do milho na região Nordeste, superando Ceará, Piauí e Maranhão. Cresceu de 86,5 toneladas em 2003 para 843,8 em 2017 - dez vezes mais grãos produzidos - enquanto a área plantada aumentou apenas de 131 mil para 169,5 mil hectares. Um enorme ganho de produtividade, de até cinco vezes, ocupando o primeiro lugar nesse quesito no Nordeste. Em 2019, a produção do milho alcançou 667 mil toneladas e a produtividade 4.800 kg/ha, em face de restrições pluviométricas. Do outro, predomina o analfabetismo na população adulta residente no meio rural. O baixo IDH de 0,665 e o 20º Estado desigual do País. 79% dos estabelecimentos agropecuários são tipificados como de agricultura familiar com 51% do valor total da produção dos estabelecimentos agropecuários estaduais. Conforme o Censo Agropecuário de 2017, no Estado de Sergipe em dez anos ocorreu uma redução de pastagens plantadas de 555.549 para 484.340 hectares. “Do total das contratações do PRONAF [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar] no ano agrícola de 20/21, 20,7% foram para milho e soja e 18,6% produtos da cesta básica, como arroz, feijão, verduras, trigo, café e frutas”.

As estruturas estatais têm sido fundamentais no apoio ao processo produtivo do milho, como a infraestrutura, a exemplo de estradas, comunicações e portos. Crédito, seguro rural, pesquisa, assistência técnica e redução de impostos. “O governo de Sergipe mantém anualmente o programa de distribuição de sementes. No presente ano distribuiu 180 toneladas de sementes de milho certificadas e de variedade crioula pela Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe - EMDAGRO. Um investimento de cerca de R$ 1 milhão de reais que irá beneficiar 18 mil famílias de pequenos agricultores e assentados da reforma agrária de todas as regiões de Sergipe”. Em recente diagnóstico sobre o Estado de Sergipe, foi mostrado que o “crescimento econômico depende de produtividade, investimento, educação e uma institucionalidade capaz de construir um ambiente favorável à adoção de boas políticas e forneça as estruturas de incentivos adequadas para a população, gestores públicos e políticos”.

O caso da produção do milho em Sergipe, demonstra a integração entre os entes públicos e privados na perspectiva do chamado por alguns economistas de um “projeto de missão”. Articulação que se mostrou eficiente na produção agrícola, numa região pouco dinâmica. Ciclo econômico virtuoso nas etapas produtivas. Inovação dependente da massiva intervenção do Estado. Lição ensinada pela economia da inovação na histórica obra “Capitalismo, Socialismo e Democracia” do teórico do empreendedorismo Joseph Schumpter. A cultura do milho em Sergipe pode ser mais uma generalização dessa teoria. Na última parte do “milho em Sergipe”, serão mostradas as ações da pesquisa pública agropecuária no cultivo do milho sergipano.

Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo.

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