POR QUE ESTAMOS ASSIM? por Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 06 de Maio, 2022 - Atualizado em 06 de Maio, 2022

 


Não faltam tratados, papers e convenções para explicar e até generalizar “por que somos assim”. As ciências da humanidade, a exemplo da história, sociologia, economia e antropologia, levantam problemas, formulam hipóteses e desenvolvem testes, na busca de respostas robustas e confiáveis. Evidências pelo método científico, em sua via positivista. Teoria e prática como gêmeas siamesas. Uma vinculada a outra. Tentar separar é violar um dos fundamentos da ciência.

Esses são alguns dos princípios do labor dos cientistas. Agentes especializados e acreditados para essa tarefa. Normalmente, atuam em organizações de ciência, tecnologia e inovação, a exemplo dos centros de investigação e universidades. Ambientes herméticos e apartados da rotina da vida das pessoas. No passado, essas estruturas eram patrocinadas quase em sua totalidade pelo Estado, como organizações públicas.

Apesar das dificuldades metodológicas no levantamento de dúvidas e respostas ainda inconclusivas, muito foi produzido para responder “porque somos assim?”. Destaque para as respostas das lavras dos intelectuais Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro e Roberto DaMatta, expoentes teóricos e influenciadores de gerações de dentro e de fora da academia.

Diferente do seu tempo, vivemos uma era de impermanência e instabilidade, marcos da chamada “modernidade líquida”. A história e ciências afins com os seus registros e vieses, trouxeram relevantes contribuições para dirimir dúvidas e prospectar novas perguntas, amparadas no paradigma vigente das revoluções científicas. Crises, anomalias e contradições continuam em novos patamares. O fato social pela sua mutabilidade carrega novos conteúdos a cada tempo e espaço.

No consumismo e descarte exagerados, sobressaem algumas respostas pela lavra de qualificados acadêmicos ao “porque somos assim?”. Cristovam Buarque, assim respondeu: somos assim, por que somos “deseducados, racistas, pobres, elitistas e corporativizados”. O “porque estamos assim?” é intrigante e carece de respostas convincentes. As duas questões mitigam no mundo real. No âmbito metodológico, a separação é uma simplificação de variáveis complexas em suas correlações, causa e o efeito.

Para entender “por que estamos assim”, novas perspectivas teóricas são requeridas. As velhas teorias sucumbiram na contemporaneidade. O cientista social Jessé Souza de maneira inédita, responde que “somos e estamos assim”, não é pela nossa origem lusitana, mas pelos valores animalescos, atraso civilizatório e humilhações incutidos no povo, em detrimento do iluminismo do espirito. Para Souza é importante compreender o “nosso real lugar no mundo e de como nossa elite intelectual, submissa à elite do dinheiro, construiu uma imagem distorcida do Brasil disfarçando todo tipo de privilégio injusto”. Diz ainda que incutiram de maneira tática, ideológica e invisível, a miséria social no brasileiro, como o jeitinho, o homem cordial, o carnaval, o samba, o futebol e protagonizaram que o Estado é o lugar da corrupção. Pouparam o mercado, os interesses privados, a classe média branca e minaram a única estrutura de amparo aos pobres, carentes, explorados e desvalidos. “O que seria do ser humano sem a capacidade de pensar, raciocinar, ciar e inovar?

Caminhos estão postos em outra funcionalidade teórica e factual. Uns com similar rigidez metodológica, outros no rastro da quebra de paradigma, a exemplo da pós-materialidade. Agentes, episódios e perspectivas, ainda que distantes, alertam que as respostas ao “por que somos assim?” e “por que estamos assim?” progridem para uma única pergunta, pacificada no seu devido tempo e lugar. “Um mundo em ruínas não está precisando de quem chore sobre os seus escombros, mas, sim, de quem transpire na sua reconstrução”.

[BUARQUE, C.; ALMEIDA, F.; NAVARRO, Z. (Orgs.) Brasil. Brasileiros. Porque somos assim? Brasília: Fundação Astrogildo Pereira / Verbena Editora, 2017 e SOUZA, J. Brasil dos Humilhados. São Paulo: Civilização Brasileira, 2022].

 

Manoel Moacir Costa Macêdo, é engenheiro agrônomo e advogado.

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