AVENTURA PROFISSIONAL por Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 12 de Agosto, 2022

A conclusão do curso de engenharia agronômica na Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia - EAUFBA no campus de Cruz das Almas, na década de setenta, não encerrou os vínculos com os colegas próximos e afins. Nunca planejei residi e trabalhar em Cruz das Almas, mas aconteceu, pesquisador lotado no então Centro de Pesquisa de Mandioca e Fruticultura, hoje EMBRAPA Mandioca e Fruticultura. Com regularidade encontrava os colegas, até promovemos um encontro nos dois primeiros anos após a formatura.

Os primeiros anos da atividade profissional foram como pesquisador da EPABA - Empresa de Pesquisa Agropecuária da Bahia. Uma quadra de afirmação profissional. Testes entre teoria e prática. O que parecia definitivo, não aconteceu. Uma mudança nos três primeiros anos de contato com a realidade. A atividade de pesquisador numa lavouraespecífica, não preencheu as minhas expectativasde um ser integral. Os resultados da investigaçãocientífica não eram adotados pelos produtores rurais, em particular os agricultores que cultivavam a mandioca. As justificativas não me convenciam.Ainda não entendia as vinculações dos valores sociais do pesquisador como os demais atores noprocesso de geração e adoção da tecnologia.Classes sociais, identidades e vivências não carregavam a neutralidade. Mudança de rumo -,decisão incomum. De pesquisador para difusor de tecnologia. Um tipo de extensionista rural na organização de pesquisa. Menor referência e statusna hierarquia científica.

O tempo mostrou, que a decisão foi acertada.Estava alinhado às minhas aptidões e história de vida. Atendi o curso de mestrado em extensão rural na Universidade Federal de Viçosa - UFV, onde reencontrei Carlos Fernando, o Nando, duplamente colega nos cursos de graduação e pós-graduação.Curso de mestrado concluído, retorno a EMBRAPA em Cruz das Almas. Outra transformação. Oconhecimento teórico do mestrado, aguçou novossentidos sobre a geração e adoção de tecnologiaagropecuária. A teoria dominante acolhia as estratégias de comunicação e difusão de tecnologianas decisões da adoção de tecnologia pelos produtores rurais. Não incorporava os condicionantes do processo de geração da tecnologia processado no interior das organizaçõesde pesquisa. Conflito aberto. A solução, mais uma vez, foi prospectar outra saída, desta feita, a gestão da organização. Imaginava ter competência para direcionar a investigação numa utópica direção. Outro equívoco. Era o tempo da “Nova República”. Transição da ditadura para a democracia. Euforia de liberdade e participação.

As utopias e os conflitos não têm fim. Eles são próprios das relações sociais. Também, não existe um ponto final entre a vida universitária e a profissional. Reencontrei nessa aventura, os colegasdo curso de agronomia, Gutemberg Guerra e José Albertino. Estavam envolvidos na atividade política ena mesma perspectiva. Ambos tinham articulações mais qualificadas. Busquei as aproximações e iniciamos as ações. Participamos de campanhaseleitorais e planos de governo. Ao final, vitoriosos, fomos ungidos às posições de gestores na EMBRAPA e na EPABA. Grandes feitos para os jovens idealistas na quadra social.

Tempos difíceis. Expectativas reprimidas afloraram.  Recuos e avanços, acordos e desacordos. Tudo realizado com altruísmo e idealismo da juventude. A mudança traz incertezas e dúvidas. O comum são as zonas de conforto. Trazíamos desejos, teorias e esperanças. Esperávamos adequá-las ao processo de geração da pesquisa agrícola e difusão da tecnologia. Desconhecíamos que a trajetória do conhecimento tem os seus próprios códigos e interesses. Estar no governo, não quer dizer estar no poder. A história com a sua inexorável dialética.

Os conflitos exteriorizam com força nos níveisestadual e federal. O poder é explicado mais pela ciência exata e menos pela ciência humana. Ele é resultado de forças que como as nuvens se deslocam velozmente, com violência e sutileza. Abatido, mas agradecido aos apoios recebidos, partipara uma nova aventura profissional, dessa feita em São Paulo. O fermento que necessitava para outros desafios além das fronteiras da Bahia e do Nordeste.

Assim foi e durou um quarto de século. Amizade e agradecimentos aos colegas nunca foram negados e nem esquecidos. Alguns são os mesmos e em alguns casos as organizações também.

 

Manoel Moacir Costa Macêdo, é engenheiro agrônomo

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