A FORÇA DA INOVAÇÃO DA SOJA

Por Márcio Rogers Melo de Almeida & Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 09 de Novembro, 2019

A agricultura tropical brasileira é um caso singular na economia global, dada a grande mudança pela qual passou nos últimos quarenta anos. Predomina uma nova estratégia de acumulação na produção agropecuária, alavancada pelo uso do conhecimento e da inovação nos sistemas de produção agrícolas. Um encontro de tecnologias intensivas em capital que se complementam na forma mecânica, química, microeletrônica e biotecnológica. Em seu conjunto formam uma combinação que originou a chamada “quarta revolução na agricultura”.

 

O complexo da soja no Brasil é um expressivoexemplo da transformação da agricultura brasileirana ótica capitalista. Ele mostra, como se forma um “sistema setorial de inovação” em torno de um paradigma tecnológico que interage com as vantagens comparativas encontradas internamente em determinado país e na formação de uma cadeia de valor organizada.

 

O crescimento da soja no Brasil advém dos condicionantes da chamada “Revolução Verde”, entendida as suas externalidades, como um conjunto de conhecimento e tecnologia em uso nos sistemas produtivos que aumentou a produtividade geral do setor agropecuário pelo melhoramento em sementes, fertilização e correção do solo, utilização de agroquímicos e mecanização nos cultivos. O paradigma tecnológico dominante até então, não estava lastreado no conhecimento da mecânica, química e biotecnologia finas, mas no uso do melhoramento genético vegetal convencional, cruzando linhagens e gerando híbridos de plantas.

 

Posteriormente, a complexa trajetória tecnológica, a partir do DNA recombinante, impactaram a organização e a estrutura dos mercados de commodities agrícolas em escala global. A cadeia da soja é afetada e se torna uma evidência dessa realidade. Esse novo paradigma vai se tornando dominante, sobretudo com o surgimento dos organismos geneticamente modificados (OGMs), conhecidos como sementes transgênicas. Essas passam rapidamente a seremadotadas pelos produtores rurais nos principais países produtores. Consolidam-se, assim, empresas multinacionais que atuam em escala global, com forte concentração de mercado, barreiras protecionistas, e uma crescente cumulatividade tecnológica.

Essas mudanças nos mercados de sementes derivadas da transgenia também impactaram os mercados de implementos e insumos agrícolas, logística, armazenamento, softwares e o sistema agroindustrial, gerando uma nova dinâmica em termos de escala produtiva e espacialidade, que dizer um inédita ocupação do solo com a soja em territórios nunca cultivados por essa leguminosa, a exemplo das altas e baixas latitudes.

O arranjo institucional onde se encontra o complexo da soja no Brasil, apresentacontinuidades e descontinuidades, com nuances de redes de produção, transferência, difusão e absorção de tecnologia. A dinâmica do complexo da soja se impõe sobre as diferenças regionais, atenuando os entraves locais, construindo estruturas que dão uniformidade a esse “sistema setorial de inovação” à nível nacional.

 

Tudo isso, mantém em movimento um ciclo de inovações e redes de tecnologia, com um padrãoespecífico de difusão, em regiões com estruturas agrárias diversas em direção a uma convergência em termos de produtividade.  Pode-se afirmar que a cultura da soja no Brasil é um exemplo de homogeneidade com grande alcance espacial, quenão parece tender ao arrefecimento num futuro próximo, dado o alto grau de organização da suacadeia de valor.

Márcio Rogers Melo de Almeida - Economista

Manoel Moacir Costa Macêdo - Engenheiro Agrônomo  

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