CORANAVÍRUS, GLOBALIZAÇÃO, E AGRONEGÓCIO

Por Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 07 de Fevereiro, 2020

Queiramos ou não, apreciemos ou não, vivemos sob a “ditadura da globalização”. Questão a ser respondida: melhor com ou sem ela? Os raros casos de excluídos da globalização, a exemplo da Coréia do Norte, não deixa dúvida, na resposta: “melhor com ela”.

Não existe neutralidade, entre “ser ou não globalizado”. Também, são limitadas as margens de escolha nessa binária opção. A globalização não é recente, vem de longe. Na atualidade, assumeformas visíveis e invisíveis. As primeiras, nas escancaradas diferenças entre os blocos de Naçõesricas e pobres. As segundas, nas inovações escondidas nos satélites e “nuvens”. Vantagens e desvantagens são conhecidas. Ganhos e perdas são contabilizados. A história em seus registros, dirá no seu tempo, o saldo para a humanidade.

A globalização, não é uma novidade. O Velho Continente, globalizou o planeta, expandido os seus costumes, religião, e domínios pela modernização. A modernização” foi difundida pela globalização, numa época, em que todos eram atrasados, exceto osenviados europeus. A navegação, as estratégias de guerra e conquistas, o comércio, e a vergonhosaescravidão, consolidaram a globalização. Em consequência, acumulação, riqueza, e poder, pelos Impérios do Velho Mundo. Ainda não existiam os Estados-nação.

​Com a vitória do capitalismo, contrariando o determinismo histórico dos utópicos, queinexoravelmente, chegaria ao vitorioso e igualitário socialismo, na “práxis” e nesse lapso temporal, aconteceu o contrário, a sua derrota. A globalização fincou as suas raízes, no capitalismo mundial. Apartir da queda do “Muro de Berlim”, no final dos anos oitenta, a globalização foi homogeneizada, e o capitalismo globalizado. As fronteiras físicas das nações foram enfraquecidas. O capital transita sem restrições, e com liberalidade.

​Nessa lógica, poucos ganham, muitos perdem. Ela impõe acumulação e desigualdade. Não se globaliza a pobreza, violência e miséria dos pobres,mas o capital dos ricos, em suas várias dimensões. A relação histórica, entre “centro e periferia”, assumiu na atualidade, renovadas formas de dominação. Os ciclos do capitalismo se modernizaram em controle e poder. O Império Chinês do passado, modernizou-se e globalizou-se no presente. Nada parece deter a sua fúria capitalista, maquiada com o verniz do Partido único,do Estado forte e autoritário, e do pragmatismo cultural milenar: “não importa a cor do gato, importa que cace o rato”. Recordes de crescimento a cada ano. Inovações galopantes. Inclusão de milhões de pobres. Ampliação da sua influência no planeta. De repente, surge como epidemia, o “Coronavírus”. Umconhecido “grupo de vírus de RNA simples positivo”, visível na forma de “Coroa Imperial”. Nos rastros daglobalização, ele devasta vidas dentro e fora do seu território, tal qual as pragas do Apocalipse. Para os crentes, expressões de “provas e expiações” de um materialismo desvairado. Para os materialistas, sinais de renovação do capitalismo, em sutis táticas.  

Para o Brasil, marginal na “economia internacional do trabalho”, como um provedor de “commodities primárias”, tal qual, as Capitanias Hereditárias, resta orar, para esse mal aqui não aportar, com similar virulência. Carece das competências para controlar as previsíveis mortes, enfraquecido pela persistente desigualdade, pobreza e miséria. Não somos pecadores, mas vítimas dessas culpas - duvidamos desse inexorável destino. Não possuímos, as habilidades para construir hospitais com milhares de leitos e sofisticada tecnologia numa dezena de dias. No dizer do irreverente Nelson Rodrigues, “subdesenvolvimento não se improvisa, é uma obra de séculos”.

No rastro da globalização, o “Coronavírus”atingirá “sem dó e piedade” a agropecuáriabrasileira. Em 2019, o agronegócio representou43,2% das exportações do Brasil, destaque parasoja, milho, carnes, e algodão. O principal destinodessas exportações, foi a China, com US$ 31,01 bilhões, e 32% de participação. O segundo maior importador, dessas mesmas commodities, com destaque para a soja, foi o Velho Continente, com a roupagem de União Europeia, com US$ 16,74 bilhões, e 17,3% das nossas exportações. Os números e o senso comum, expressam as tensões comerciais entre Brasil e China e as prováveis consequências na produção da globalizadaagropecuária brasileira.

Na globalização capitalista não cabe piedade,nem “dor na consciência”, mas ganhos em escala, num ambiente de protecionismo e acirrada competição. Entre outros, dois são os possíveiscaminhos prospectivos nessa contingência. Primeiro,o esperado arrefecimento da economia chinesa e redução do seu comércio, em face da quarentena da população, restrições ao trabalho, redução do consumo, e tempo da terapia e cura da moléstia.Segundo, na contradição do capitalismo, oportunidades advirão, que podem impulsionar a demanda chinesa por produtos manufaturados da agropecuária. A segurança alimentar na China, pode exigir a substituição do consumo de animais vivospor bens agropecuários processados. O “Coronavírus”, pode ser ainda, um gerador de pressões de compradores chineses por preços mais baixos dos produtos brasileiros, e uma artificial estratégia de controle da inflação. Tudo continua como “dantes no Quartel de Abrantes”.

 

A globalização, e a intrínseca modernização,não acolhem sentimentos, emoções, humanismos,compaixões, “dores e ranger de dentes” dos pobres do mundo globalizado. Ela opera numa cadeia devalor com interesses materiais determinados entreassimétricos, como se todos fossem “únicos e iguais”, com uma fome insaciável por lucros e acumulações, com ou sem vírus, bactérias, e fungos.  

 

Manoel Moacir Costa Macêdo

Engenheiro Agrônomo, Advogado, PhD pela University of Sussex, Brighton, Inglaterra 

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