ILUSÕES NA PÓS-PANDEMIA por Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 28 de Janeiro, 2022 - Atualizado em 28 de Janeiro, 2022


No próximo mês de março corrente, completam dois anos do reconhecimento oficial da pandemia da Covid-19. O coronavírus infectou mais de 288 milhões de pessoas e causou a morte de mais 5,5 milhões de criaturas no mundo. No Brasil, mais vinte e quatro milhões de brasileiros e brasileiros foram contaminados e mais de seiscentos mil desencarnados. Os sequelados, mutilados e estropiados ainda serão contados. Continuamos sob dores e provações. A cada tempo surge uma “nova onda e respectiva variante”. Estamos no calendário escolar ampliado para “passar de ano”.  

As profecias do “novo normal” paridas no tempo das contaminações, imernações e mortes como uma oportunidade de renovação da humanidade, não foram confirmadas. Compaixão e solidariedade entre as criaturas, foram ilusões nas paixões do sofrimento. As feridas abertas no corpo e na alma pela virulência do coronavÍrus, não foram as terapias para romper a desigualdade entre as nações ricas e pobres, para quebrar as diferenças entre o hemisfério norte e sul e menos ainda para cuidar por igual dos possuidores da saúde privada e dos despossuídos de quase tudo. As lições da pandemia não foram aprendidas e a humanidade reprovada. Os apologistas da pós-pandemia como uma rota para um mundo solidário e fraterno, esqueceram que as enfermidades não sacrificam por igual os humanos, inclusive as pandemias. Existem as que atacam preferencialmente os pobres, a exemplo da tuberculose e da lepra. A Covid-19 foi mais um exemplo dessa imperfeição. Foi rejeitado o cenário de que “nunca mais a humanidade sofreria uma pandemia, pois a ciência com as suas conquistas evitariam as moléstias”.

Ingênuas premissas de mudança social na pós-pandemia numa realidade egoísta e cruel, tal qual a história da espécie humana, também não se confirmaram. Qualificados relatos apontam que os países capitalistas, com 80% da população planetária, tratam a saúde como um negócio lucrativo de vacinas, testes, respiradores, terapias e produtos farmacológicos. Nos países ricos, a exemplo do G20, predomina o individualismo e o próprio bem-estar. Alguns deles, deram voz ao negacionismo e desprezaram a saúde pública. A cidadania continua apartada por classes sociais e grupos de interesses. Os bilionários do mundo dobraram os seus patrimônios no tempo doloroso da pandemia. Historiadores registraram que “a maioria das culturas se tornaram vítimas de algum império implacável, que as relegou ao esquecimento”.

No Brasil, a pandemia não sacrificou por igual os seus filhos. Os amparados pela medicina privada, foram protegidos em relação aos dependentes da saúde pública. Os brancos em relação aos negros e os moradores de bairros e avenidas nobres em relação aos favelados e periféricos. O Sistema Único de Saúde - SUS, mostrou a sua relevância, minimizando a tragédia humana. Quase metade da população brasileira não tem proteção social. A brasilidade marcada pelo sinal da cruz, não abalou a persistente desigualdade social. Continua distante a solidariedade, fraternidade e piedade entre os “irmãos” da maior nação cristã do planeta. Relatos recentes mostram que “seis brasileiros têm uma riqueza equivalente ao patrimônio dos cem milhões mais pobres do país e os 5% mais ricos detêm a mesma fatia de renda dos demais 95%”. Uma realidade vergonhosa e insustentável para uma nação cantada como “abençoada por Deus, coração do mundo e pátria do Evangelho”.

A pandemia da Covid-19 clareou aos insensíveis e adormecidos a profunda desigualdade social, a relevância das políticas públicas de saúde e o dever moral do Estado em cuidar por igual dos seus cidadãos e cidadãs. O contrato social de convivência humana terá a oportunidade de rever algumas de suas cláusulas. Resta o consolo dos crentes na imortalidade da alma, onde a pandemia significou o “resgate de espíritos reencarnados a fim de se ajustarem à ordem que será vigente no planeta”.

Manoel Moacir Costa Macêdo, é engenheiro agrônomo e advogado.

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